Título: Donos da TAM investirão em aeroportos
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2007, Empresas, p. B1

A família Amaro acaba de entregar um novo desafio ao executivo Marco Antonio Bologna. O agora ex-presidente da TAM será o responsável por uma nova área de investimentos da holding da família: a infra-estrutura aeroportuária. Bologna trabalhará para que o governo regule o setor e abra ao setor privado os investimentos em hangares, terminais e aeroportos.

"A família Amaro é apaixonada por aviões, mas percebeu que não precisava apenas administrar sua participação de 46% no capital da TAM S.A. ou na Táxi Aéreo Marília. É possível participar desse setor de outras maneiras, sem conflitos", explicou um bem-humorado Bologna, horas após a reunião do conselho que sacramentou sua saída da presidência da TAM para a entrada de David Barioni Neto.

Para justificar a decisão da família Amaro de investir na nova área, Bologna explica que o Brasil é um país de dimensões continentais, em que a infra-estrutura rodoviária é ruim e o transporte ferroviário de passageiros é praticamente inexistente. Além disso, segundo ele, o país passa por uma fase de descentralização do investimento produtivo, que aumentará ainda mais a demanda por infra-estrutura aeroportuária.

Ainda não há definição sobre o volume de recursos que a holding TEP destinará ao segmento de infra-estrutura aeroportuária. Mas o Brasil será o foco de atuação e a família Amaro poderá participar do setor não só como investidora, mas também como operadora dos empreendimentos. Uma experiência já iniciada - mas ainda não concluída por falta de regulamentação - é o hangar de aviação executiva em Jundiaí (interior de São Paulo).

Para Bologna, só agora, após a melhora da saúde financeira das companhias aéreas, é possível regulamentar a participação da iniciativa privada na infra-estrutura aeroportuária. "Antes, havia problemas até para receber (de algumas companhias) as tarifas aeroportuárias", diz o executivo. Ele não crê, porém, que seja possível já privatizar a empresa estatal do setor, a Infraero, nem mesmo vender uma fatia minoritária de seu capital ao setor privado.

"A Infraero precisa de uma série de ajustes, como o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) também precisou. É preciso, por exemplo, fazer uma segregação do fluxo de recursos", afirma Bologna, sem esconder sua forte formação financeira.

Falante quando o assunto é TAM ou sua trajetória profissional, Bologna é econômico ao dizer as transformações pessoais pelas quais passará com sua saída da TAM. "Acho que o que muda pessoalmente é que vou voltar a ser o Marco Bologna, e não mais o presidente. Na aviação, diferentemente do setor bancário, por exemplo, todos te chamam de presidente", explica o executivo, que na holding familiar TAM Empreendimentos e Participações (TEP) será conselheiro. Bologna não integrará o conselho de administração da TAM S.A. (a empresa de capital aberto que controla a companhia aérea) por considerar que isso poderia constranger seu sucessor ou constrangê-lo.

Formado em engenharia de produção pela Universidade de São Paulo, o executivo fez carreira no mercado financeiro. Depois de trabalhar em instituições estrangeiras, foi admitido no Itamaraty, de Olacyr de Moraes. Foi lá, em 1991, que conheceu o comandante Rolim Amaro. Em 2001, veio o convite para trabalhar na TAM - o projeto específico era o de preparar a empresa para a abertura de capital, prevista para setembro de 2001. Mas o projeto foi abortado. Em julho daquele ano, Rolim morreu em um acidente e, em setembro, o ataque terrorista nos EUA levou o setor aéreo a sua mais grave crise. Bologna, ainda como vice-presidente financeiro, assumiu a tarefa de evitar a derrocada da empresa. Mais tarde, já como presidente, abriu o capital da TAM e diversificou fontes de financiamento. Mas não escapou a críticas, especialmente sobre como lidou com a crise aérea do fim de 2006 e sobre o comportamento após o acidente de julho deste ano em Congonhas.