Título: Petrobras diz que mantém interesse na exploração
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2007, Empresas, p. B7

O menor volume financeiro gasto pela Petrobras na 9ª Rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) sugere que a estratégia da companhia é investir mais esforços e recursos na fase de desenvolvimento da produção das imensas reservas já descobertas, ao invés de pagar caro por mais áreas exploratórias, que envolvem mais riscos. Mas o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse que não houve intenção de economizar. "Não fizemos nenhuma freada nos investimentos dessa rodada. Tanto é que a Petrobras arrematou o maior número de blocos", frisou o executivo.

A Petrobras fez ofertas para 56 blocos e conseguiu arrematar 27 deles, o que vai implicar no pagamento de R$ 309 milhões, junto com parceiros, somente com bônus de assinatura, sem contar os investimentos que serão feitas nas áreas, o chamado programa exploratório mínimo prometido à ANP. Contudo, o valor é pífio quando comparado com investimentos anteriores da Petrobras ou e com os R$ 1,5 bilhão gastos pela OGX, do empresário Eike Batista.

Em nota divulgada ontem, a Petrobras avalia que arrematou as áreas mais promissoras e "foi bem sucedida ao completar seu portfólio de exploração em novas fronteiras". A estatal ressaltou que sua parceria com a Vale permitiu a aquisição "tanto em áreas de alto potencial na bacia de Santos, próximos aos campos de gás de Merluza e Lagosta, quanto em áreas de novas fronteiras das bacias Pará-Maranhão e Parnaíba". E ainda ressaltou que arrematou os nove blocos em águas rasas da bacia de Santos que, segundo sua avaliação, eram os mais promissores.

No mercado, a participação da Petrobras foi vista como equilibrada. "As grandes companhias, não só aqui mas no mundo todo, têm se interessado menos pela exploração. Os altos preços do petróleo criam pressão para mais oferta e as grandes querem comprar reservas seja por meio da aquisição de outras companhias ou através da compra de participação em áreas onde já se descobriu petróleo", diz John Forman, ex-diretor da ANP.

Segundo Forman, é possível notar duas razões que levam as grandes companhias a comprar: o caixa volumoso e o fato de os gestores dessas empresas serem avaliados pela variação das ações. "Na visão do mercado, exploração é uma fase de risco e risco não é bem visto", continua o especialista.

Fora o fato da maioria dos blocos oferecidos estarem em águas rasas, a Petrobras e outras grandes com operação no Brasil - algumas até sócias na área de Tupi e Carioca como a BG, Repsol e Galp - agora estão atentas às jazidas do pré-sal. O fato da estatal ter feito ofertas menores que as da OGX de Eike Batista não surpreendeu o mercado. Observadores do leilão acharam que Batista fez ofertas muita altas, houve quem achasse os preços injustificadamente altos. Exemplo disso foi o setor 2 da bacia de Santos, em águas rasas, onde a OGX levou três áreas - incluindo uma pela qual ofereceu R$ 344 milhões - sem ter qualquer lance concorrente.

Analistas do mercado financeiro acharam que a atuação da Petrobras, que em algumas áreas se associou com a Vale, ficou em linha com a estratégia das duas empresas. Para Felipe Cunha, da Brascan Corretora, a participação da estatal abaixo do esperado "encontra fundamento no apetite da OGX, que desembolsou praticamente R$ 1,5 bilhão, mas estará aparentemente limitada em sua participação nos futuros lances para áreas em águas profundas, visto que não está habilitada como operadora para essa atuação específica, restando somente como alternativa a possibilidade de atuação via consórcio".