Título: Vale vai investir US$ 40 milhões na produção de gás para auto-consumo
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2007, Empresas, p. B7

A Cia Vale do Rio Doce (CVRD) tem uma estratégia clara com a compra de participações societárias em nove blocos de exploração de petróleo e gás natural, em parceria com a Petrobras e outras empresas, na 9ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), realizada na terça-feira. A Vale desembolsou R$ 30,7 milhões por fatias que vão de 20% a 40% em cada um dos blocos e vai investir outros US$ 40 milhões (R$ 73 milhões) em atividades exploratórias de risco em terra e no mar.

O objetivo da Vale é garantir produção de gás natural para auto-consumo, tema que preocupa as distribuidoras de gás nos Estados, e diversificar a matriz energética da companhia. A entrada da Vale no chamado "upstream" da indústria do petróleo não fará dela uma petroleira, mas ajudará a sustentar, via oferta de energia, o plano de investimentos da companhia, que prevê gastos de US$ 59 bilhões até 2012, diz Vânia Somavilla, diretora de energia da mineradora.

A Vale consome cerca de 2 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Este volume poderá ser triplicado no futuro, com a substituição de outros combustíveis, como o diesel, pelo gás natural. "O potencial de consumo (de gás natural) é muito grande", diz Vânia. Nos planos da Vale, parte do gás produzido nos blocos ganhos na Rodada da ANP poderá ser usado não só para substituir diesel e óleo combustível como também para gerar energia elétrica e no processo de produção de pelotas na indústria de minério de ferro.

"Nas siderúrgicas (nas quais a Vale participa) não está previsto (o uso do gás a ser produzido nos blocos ganhos pela empresa na rodada), mas é uma possibilidade", disse Vânia. Ela afirmou que a mineradora também começa a estudar o uso do gás nas ferrovias. Vânia disse que a entrada da mineradora como auto-produtora na indústria de petróleo e gás é positiva pois dará garantia de que o insumo será retirado (para consumo próprio), o que irá assegurar dinamismo ao mercado.

Especialistas do setor entendem, porém, que quem define a prioridade a ser dada ao gás - se o insumo será usado para geração térmica ou outra aplicação - não são os auto-produtores mas os Estados, responsáveis pelas concessões das distribuidoras de gás. "A possibilidade legal de 'by pass' (passagem do gás sem a intermediação da distribuidora) não existe e o produtor não pode levar o gás direto para auto-consumo", diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) vê a questão do "by pass" com preocupação.

Segundo observadores, o tema é objeto de discussão no projeto da lei do gás, que encontra-se no Senado. Pelo artigo 25, parágrafo segundo da Constituição, cabe aos Estados explorar a distribuição de gás diretamente ou via concessão. Uma fonte disse que a Petrobras tem dado "by pass" nas distribuidoras levando gás produzido por ela diretamente para térmicas e fábricas de fertilizantes controladas pela estatal. A fonte disse que o Estado do Rio começa a permitir o "by pass" mediante o pagamento de uma tarifa às distribuidoras locais.

"O nosso entendimento é que existe possibilidade de fazer a ligação direta (do gás da região produtora) para as plantas industriais", afirma Vânia Somavilla, da Vale. A mineradora ganhou dois blocos em terra no leilão da ANP em parceria com Petrobras e Devon na Bacia de Parnaíba, no Maranhão. Na Bacia de Santos, a empresa ganhou um bloco com Petrobras e outros dois com a estatal e a Maersk. Na Bacia Pará-Maranhão, a Vale, Petrobras e Ecopetrol ganharam quatro áreas. No total, os sócios pagaram R$ 88,3 milhões para ter direito a explorar os nove blocos.