Título: Importações crescem 39% e reduzem saldo comercial
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2007, Brasil, p. A6

Novembro registrou o menor saldo comercial desde abril de 2004. No mês passado, exportações de US$ 14,05 bilhões e importações de US$ 12,02 bilhões foram recordes para meses de novembro e levaram o superávit a US$ 2,02 bilhões. A redução dos saldos comerciais é tendência para a economia brasileira, segundo avaliação do governo.

No período janeiro-novembro, as vendas acumuladas são de US$ 146,4 bilhões e as compras chegaram a US$ 110 bilhões, com saldo de US$ 36,4 bilhões. Pelas médias diárias, o ritmo de crescimento das importações neste ano (30,2%) é muito superior ao das exportações (16,1%). Em novembro, a média diária das importações ultrapassou pela primeira vez os US$ 600 mil, quebrando o recorde de todos os meses. A alta foi de 39% sobre igual mês de 2006. Novembro, segundo o governo, concentra as compras do final de ano.

Nesse cenário, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, disse ontem que a situação não preocupa porque o câmbio valorizado também está permitindo uma renovação do parque industrial. Ele procurou ressaltar que, segundo o IBGE, o consumo aparente de máquinas e equipamentos, nos últimos doze meses, cresceu 29%, mas a produção nacional de bens de capital elevou-se 18% nesse período. "Os empresários brasileiros estão usando o câmbio favorável para diversificar seus fornecedores. O impacto do câmbio não é linear. Há efeitos positivos para a compra de máquinas e insumos, mas negativo para quem tem mais custos em reais", avaliou.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a novembro, as importações de bens de capital e matérias-primas superaram os 70% do total comprado, o que é considerado positivo para a economia. Os bens de consumo ficaram com 13,3% e os combustíveis/lubrificantes representaram 16,5%. A maior variação de médias diárias nas importações foi a dos automóveis: 63,7%.

Barral também informou ontem que, apesar de a nova meta de exportações ter sido elevada recentemente para US$ 157 bilhões, as vendas externas devem passar dos US$ 159 bilhões em 2007 e ficar em US$ 172 bilhões em 2008.

Com relação aos destinos das exportações, o menor crescimento verificado entre janeiro e novembro foi o dos Estados Unidos, com apenas 0,8%. No extremo oposto ficou a variação positiva da União Européia, com aumento de 29,3%. Em seguida vêm China (28,2%), Mercosul (23,4%) e África (17,3%).

O diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, comentou que o crescimento de 0,8% das exportações para o mercado americano é o resultado do que o Brasil "plantou". "Apenas a Apex faz um trabalho voltado às pequenas empresas. Há muito tempo não temos uma missão comercial importante nos Estados Unidos", lamentou.

Na análise de Castro, se fosse excluída a exportação de petróleo, o Brasil teria uma relevante queda das suas vendas para o mercado americano. "O problema é comercial e tem nome: câmbio. Ele vem prejudicando as exportações de manufaturados e isso significa perder o controle dos preços da balança porque as commodities têm cotação internacional", alertou o diretor da AEB.

O câmbio valorizado, segundo ele, também dificulta a atração de investimentos estrangeiros voltados à exportação. Nas suas projeções, o saldo em 2008 deve cair 25%, ficando em US$ 30 bilhões. As exportações cresceriam 6% e as importações subiriam 15%.

Os números da exportação, de janeiro a novembro, mostram expansão dos básicos e queda das participações de semimanufaturados e manufaturados. A participação dos básicos cresceu de 29,5% em 2006 para 31,9%. As maiores variações de médias diárias, nessa categoria, foram de milho em grãos (318,7%), frango (42,5%), fumo (28,7%) e petróleo (22,4%).

A participação das vendas externas de semimanufaturados caiu de 14% para 13,7%, com destaque para a diminuição de 16,4% na média diária do açúcar em bruto. Os manufaturados representavam, de janeiro a novembro de 2006, 54,2% da pauta exportadora brasileira, mas caíram para 52,4% neste ano.