Título: Expansão da economia eleva poder de negociação de mão-de-obra qualificada
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2007, Brasil, p. A6

A expansão da economia, a escassez de mão-de-obra qualificada e o conseqüente aumento na rotatividade de profissionais entre empresas influenciaram o processo de renegociação salarial no país em 2007 e beneficiaram principalmente os maiores rendimentos. Entre 2003 e 2005, muitos acordos sindicais garantiam aos maiores salários apenas a reposição da inflação e restringiram os aumentos reais às menores faixas.

Um estudo de salários e benefícios feito pela Catho Online a partir de uma amostragem de 100 mil profissionais no país revela que, funcionários que atuam no nível de alta direção (diretorias e presidências) tiveram reajuste médio de 8,31% no período de novembro de 2006 a outubro de 2007 - 3,53 pontos percentuais acima da inflação apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), medido pelo IBGE. "O mercado nunca esteve tão aquecido na briga por profissionais desse nível hierárquico e é o que proporcionou reajustes bem acima da inflação", afirma Mário Fagundes, coordenador da pesquisa.

A preocupação em elevar a remuneração dos cargos mais elevados e manter a mão-de-obra qualificada explica, por exemplo, o acordo assinado pela Vale do Rio Doce com 24 sindicatos e que estabeleceu um reajuste de 14,49%, sendo 7% em 2007 e a outra metade em 2008. "O mercado está crescendo e o grupo não pode correr o risco de perder capital humano. Precisamos garantir a retenção de pessoal", afirma Roberto Rui Figueiredo, gerente geral de relações trabalhistas da Vale. O índice de reajuste salarial da mineradora ficou acima do percentual negociado no ano passado, de 3%. "O reajuste não tem relação direta com a inflação, mas acompanha a movimentação do mercado", diz.

Um levantamento realizado pela Manager Assessoria em Recursos Humanos também aponta ganhos mais altos para cargos executivos. De acordo com a consultoria, que avalia o desempenho de três mil empresas no país, o reajuste médio para executivos foi de 5,7% neste ano, contra 4,5% dos acordos coletivos nas hierarquias mais baixas. No ano passado, o aumento foi de 6% para executivos e 4% para outros cargos. "Também aumentaram as negociações de ações e bonificações para garantir a permanência de executivos nas empresas", afirma Hélio Terra, presidente da Manager. Ele observa ainda que o trânsito de profissionais de uma empresa para outra aumentou 20% neste ano em relação a 2006.

Dados preliminares do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) apontam que as negociações com reajustes diferenciados por faixa salarial neste ano responderão por aproximadamente 10% dos acordos fechados, ante 13,9% em 2006 e 16% no ano anterior. Em todos os casos, os acertos para as maiores faixas apresentaram ganhos acima da inflação, observa José Silvestre de Oliveira, supervisor do escritório regional do Dieese. "Algumas categorias mantêm o escalonamento, que é uma forma de negociar reajustes mais altos para as faixas salariais menores", diz.

O levantamento feito pela Catho Online confirma a previsão do Dieese. Abaixo do nível de alta direção, o melhor reajuste foi obtido pela área operacional, que teve, na média, reajuste de 7,14%, ou 2,36 pontos percentuais acima da inflação. As demais categorias registraram ganhos entre 0,03 e 1,7 ponto percentual sobre a inflação. "O ganho maior na área operacional é resultado dos acordos sindicais", diz Fagundes, da Catho Online.

Os levantamentos também revelam que todas as categorias profissionais tiveram ganhos reais. Conforme o Dieese, pelo menos 90% dos reajustes negociados superaram a inflação do ano apontada pelo INPC, sendo que pelo menos 30% dos reajustes foram de dois pontos percentuais acima da média da inflação. "É a melhor conjuntura depois do fim da ditadura, com ganhos reais em todas as categorias", afirma o consultor sindical João Guilherme Vargas Neto. Na área de comércio, observa, os acordos não foram concluídos, mas o sistema S (que reúne as instituições ligadas ao comércio e à indústria, como Sesi, Senai e Sesc) registra aumento na arrecadação de 30%, o que indica crescimento da massa salarial no setor.

"Vivemos uma situação nova e que será usada como referência para futuras negociações", afirma Eduardo Pinto, coordenador-geral da Central Única dos Trabalhadores da Vale (CUT Vale) e presidente do Sindicato dos Ferroviários do Maranhão. Ele também participou da negociação com a ArcelorMittal Tubarão (antiga CST), que fez acordo de dois anos, com reajustes de 5,5% a 6% por ano. O melhor acordo foi concluído pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que prevê reajuste de 7,45% para a categoria no Estado (ganho real de 2,6 pontos percentuais). O Sindicato do ABC acertou reposição de 2,5 pontos percentuais acima da inflação. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que reúne 12 sindicatos de petroleiros, também obteve resultados favoráveis, com reajustes entre 5,8% e 6,5%, o que significou um ganho real sobre a inflação entre 1,4 e 2,1 pontos percentuais.