Título: Planos para jovens ajudam a formar cultura da poupança
Autor: Cunha, Lilian
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2007, Suplementos, p. F4

Davilym Dourado / Valor Ana Maria da Penha Braguim Pellim e a neta Isabela: "Ela vai ter mais recurso poupado que meus dois filhos" Até pouco tempo atrás, era tradicional pais ou avós presentearem um filho ou neto recém-nascido abrindo para ele uma caderneta de poupança. Nos últimos três ou quatro anos, esse costume vem mudando lentamente. A caderneta começou a ser substituída por planos de previdência privada específicos para menores de 18 anos que bancos e corretoras passaram a oferecer. Recentemente, a nova opção caiu no gosto do público. Só este ano, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), a adesão aos planos para menores cresceu 76,18% de janeiro a agosto (em relação ao mesmo período de 2006), consolidando captação de R$ 981 milhões, contra R$ 557 milhões dos mesmos meses do ano passado.

Esse crescimento tem explicação. Primeiro, houve a simplificação dos planos de previdência, graças a mudanças introduzidas pela Lei 11.196, de novembro de 2005. A nova legislação trouxe mais segurança para os planos e criou novas regras, estipulando que, quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado no plano, menor será o desconto do Imposto de Renda (IR), ou seja, é a chamada tabela retroativa do IR. Com isso, a previdência para menores ganhou a simpatia dos pais, sempre ansiosos com perguntas sobre o futuro, como por exemplo quanto custará a faculdade do filho ou se haverá emprego para os herdeiros quando eles crescerem.

"Agora, é o consumidor que define o modelo de pagamento do IR. Pela tabela regressiva, a cada dois anos, a cota é reajustada para baixo até chegar a 10%. Isso tornou os planos mais atraentes", explica Juvêncio Braga, diretor de vida e previdência da Caixa Econômica Federal (CEF). "Assim, os pais, que já estavam preocupados com a própria aposentadoria e já haviam procurado algum plano nesse sentido, acabaram se convencendo de que a previdência é um modo seguro e rentável de garantir um projeto de vida para o filho", diz ele. Muitos clientes têm optado por esses planos para que os filhos, ao completarem a maioridade, tenham recursos para pagar uma faculdade, fazer um curso no exterior ou ainda montar um negócio próprio.

Outra motivação para a maior busca pela previdência para crianças é a rentabilidade. "Como é o consumidor que escolhe o investimento a que o dinheiro vai ser destinado, isso sem dúvida tornou-se uma vantagem para quem quer mais rentabilidade que uma simples caderneta de poupança", diz Bento Zanzini, vice-presidente da Mapfre Vida e Previdência, que teve um aumento de 35% na procura por esse tipo de previdência só nos seis primeiros meses deste ano. Além disso, lembra Zanzini, se o contratante escolher um PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), as contribuições pagas podem ser deduzidas da base de cálculo do IR, limitado a 12% da renda bruta anual. Já quem não tem preocupação com a declaração anual ao leão (usa a simplificada, com desconto padrão), há os planos VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre).

A busca pela rentabilidade, segundo Paulo Mente, sócio da Assistants, consultoria especializada em avaliações atuariais, é o que mais atrai o consumidor. "O lado bom desse crescimento é que ele mostra uma maior preocupação com uma poupança de longo prazo, coisa que o brasileiro nunca teve. Mas o ponto negativo é que há muito mais gente em busca de uma boa oportunidade de investimento do que pessoas realmente pensando em aposentadoria, em algo para um futuro mais distante mesmo. E isso não tem nada a ver com previdência. É uma aplicação apenas", afirma ele.

Os executivos de banco confirmam. A grande maioria dos pais, avós e parentes faz os planos pensando em uma poupança para ser usada daqui 18, 20 anos, e não como uma aposentadoria. No Banco do Brasil, que teve só neste ano 84% de aumento na procura por planos para menores, 88% dos contratos foram fechados por pais preocupados com a iniciação profissional dos filhos. "A idéia é sacar o investimento quando o garoto ou a garota estiver com seus 20 anos", diz Ricardo José da Costa Flores, diretor de seguros, previdência e capitalização do BB.

Há também casos em que os contratantes têm uma visão mais particular da previdência para jovens. É o caso de muitos avós que fazem planos para os netos. "Conheço um senhor que fez um aporte único de R$ 1 milhão para cada um de seus três netos", diz Zanzini, da Mapfre. "Há pessoas que, como esse senhor, fazem a previdência para beneficiar netos e sobrinhos como se fosse uma maneira mais simples e sem brigas de dividir a herança, uma vez que o investimento não entra em inventário, no caso do falecimento do contratante."

Mesmo sem ter a aposentadoria como principal objetivo, a nova onda de planos de previdência para menores já é um bom começo para a formação de uma consciência de poupança de longo prazo. Principalmente para a população de um país como o Brasil, que viveu muitos anos de inflação e que somente há pouco mais de uma década conhece a estabilidade econômica. Segundo Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Vida e Previdência, o costume de poupar para o futuro já está nascendo e tende a se arraigar. É o que revela a pesquisa "Os Jovens e os Investimentos", realizada pela Quórum Brasil, com 400 adolescentes da classe A entre 14 e 17 anos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro entre os dias 5 e 15 de agosto. O levantamento mostrou que, em São Paulo, dos 63% dos jovens que afirmam ter algum tipo de investimento, 83% têm recursos na caderneta de poupança e 17% aplicam em planos de previdência privada. No Rio de Janeiro, dos 58% que investem, 93% possuem caderneta de poupança e 7% têm um plano de previdência privada. "A geração de beneficiários dos planos que está crescendo já amparada por uma previdência vai perceber o valor de ter um investimento. Serão adultos com uma característica mais oriental, ou seja, vão pensar mais no futuro que no consumo imediato", diz Rossi.