Título: Crescimento do faturamento não é acompanhado por alta da inflação
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2007, Brasil, p. A3

Os preços no atacado e no varejo sobem em ritmo inferior ao da expansão industrial. Nos últimos cinco meses, as vendas industriais cresceram 4,5%, enquanto os preços de produtos industriais no atacado subiram 1,5%. No ano, o descompasso se mantém, com inflação industrial de 3% e vendas de 5,2%. Pelo menos até meados de 2008, o risco inflacionário será amortecido pelo câmbio, importações crescentes e aumento da oferta, avalia o coordenador de análise econômica da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

Para os economistas, porém, o risco de inflação para o futuro precisa ser monitorado e depende, entre outras coisas, da maturação dos investimentos em ampliação de capacidade e do câmbio.

"É possível acomodar esse crescimento [da indústria] sem gerar aumento nos preços. Mas o uso da capacidade industrial está chegando no limite e precisa ser expandido para não gerar gargalos", afirma Quadros. Para ele, uma desaceleração da economia mundial no próximo ano pode ajudar a segurar os preços das commodities e os custos de produção.

O indicador de atividade industrial elaborado pelo ABN Amro e pela NTC Research, que pretende antecipar o cenário da atividade no Brasil, aponta para uma pequena redução no ritmo de expansão da produção industrial de novembro em relação a outubro, baixando de 57,2 para 56,4. O índice acima de 50 sinaliza crescimento em relação ao mês anterior.

O indicador também revela que a inflação de preços de insumos em novembro foi a menor em nove meses (de 55), embora tenha sido superior à valorização nos preços de bens finais, que fechou o mês em 51,1. A desaceleração nos preços de insumos desde setembro é associada à recomposição de estoques e ao aumento das importações a câmbio mais baixo, diz Jankiel Santos, economista do ABN Amro. "Ainda há indicações de expansão nos custos industriais, o que poderá ser repassado para o varejo nos próximos meses. Será difícil haver um arrefecimento, já que a demanda também está aquecida", afirma.

Luís Fernando Azevedo, economista da Rosenberg & Associados, avalia que a expansão das importações - de matérias-primas e de bens de consumo - elevou a oferta e impediu o repasse de aumentos de custos ao varejo, em função da concorrência. "Alguns setores terão redução nas margens de lucro deste ano, mas é uma situação transitória; em algum momento esses valores serão repassados."

Para Carlos Thadeu Gomes Filho, do grupo de conjuntura do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de janeiro (IE-UFRJ), o aumento expressivo nas importações tem ajudado a fazer com que os preços do atacado subam menos que o ritmo de produção industrial e de vendas reais. "Com a expansão do crédito entre 20% a 25% ao longo do ano, muitas empresas apostaram nas vendas a prazo e mantiveram os preços à vista estáveis, o que contribuiu para um aumento menor na inflação", complementa o economista.

"O aumento das importações resolve no curto prazo o problema da oferta. E no médio prazo, os investimentos industriais, que neste ano cresceram 10%, contra aumento de 5% a 5,5% no consumo, começarão a gerar produção efetiva", avalia Julio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que não vê riscos de um surto inflacionário no próximo ano.

No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), apurado pela FGV, variou 0,27%, 0,18 ponto percentual acima da taxa da semana anterior, e subiu em seis das sete capitais. "O resultado surpreendeu. A expectativa era que o índice ficaria em 0,3%", afirmou Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa de preços. A alta foi provocada por alimentos.