Título: Capacidade instalada é recorde e vendas da indústria crescem 8%
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2007, Brasil, p. A3

O uso da capacidade instalada na indústria chegou a 82,8% em outubro e bateu recorde histórico. Junto com isso, as vendas do setor crescem há quatro meses consecutivos e foram 8,2% maiores que as do mesmo mês no ano passado. As horas trabalhadas na produção (indicador de atividade) também aumentaram expressivos 6,3% em outubro e o pessoal empregado elevou-se 4,6% naquele mês, sempre em relação à igual mês do ano passado, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Este forte crescimento do fim de 2007 vai impulsionar a atividade do setor em 2008, explica o o economista da entidade, Paulo Mol. "Outubro foi mais forte do que esperávamos. O crescimento foi muito bom sob qualquer base de comparação. Não é uma situação usual, ainda mais com a valorização de 5,2% do real frente ao dólar em outubro", ponderou.

Mol também argumentou que não há pressão inflacionária, apesar de o uso da capacidade instalada ter chegado aos 82,8%. Ele citou que o investimento vem se elevando fortemente desde dezembro de 2006. "A grande preocupação é com o tempo de maturação dos investimentos. O Banco Central olha para esse descasamento entre investimento e demanda. É um argumento verdadeiro, mas os índices não mostram pressão dos preços industriais", afirmou.

As variações acumuladas de janeiro a outubro também são relevantes para vendas reais (4,9%), horas trabalhadas (3,9%), pessoal empregado (3,7%) e remunerações pagas (5%). Os fortes números de 2007 na indústria levam à comparação com o quadro de 2004, mas Mol ponderou que, naquele ano, o crescimento da economia veio acompanhado de inflação. Neste ano, isso não está ocorrendo, insistiu o economista da CNI. "Em grande parte, o câmbio inibe aumentos de preços", analisou.

Os crescimentos verificados pela CNI em outubro mostram uma mudança de patamar no início do quarto trimestre. No caso das vendas, o dado mensal ficou 3,2% acima da média do ano. Quanto às horas trabalhadas na produção, outubro ficou 2,3% acima da média anual. O emprego industrial, naquele mês, também esteve 2,1% à frente do dado anual.

A análise de Mol é otimista para o cenário de 2008. Ele diz que há estímulo para os empresários aumentarem seus investimentos porque há redução importante na capacidade de produção. Além disso, eles têm de sentir que o aquecimento nas vendas não é passageiro. Outra pesquisa da CNI revelou que 42% das indústrias pretendem investir mais no ano que vem e apenas 20% delas, principalmente pequenas, revelaram ter capacidade inadequada.

Segundo a CNI, o dado original do uso da capacidade instalada em outubro, sem correções de sazonalidade, foi 84,3%. As maiores variações, na comparação com outubro de 2006, foram para veículos automotores (8,8 p.p.), borracha e plástico (4,7 p.p.) e móveis (4,1 p.p.). Por outro lado, sete segmentos tiveram aumento da ociosidade: outros equipamentos de transporte, têxteis, refino de petróleo/álcool, edição/impressão, produtos químicos, celulose e material eletrônico/comunicação.

O aumento de 3,1 pontos percentuais do uso da capacidade instalada no setor de calçados é meramente estatístico. Mol explicou que, em função da crise do câmbio, muitas unidades produtivas foram fechadas.

Os segmentos de bens de capital, alimentos/bebidas e automóveis tiveram os melhores números de vendas em outubro. No extremo oposto ficaram madeira, produtos químicos e material eletrônico e de comunicação. Nesse último caso, as indústrias fabricantes de equipamentos de imagem e som tiveram influência negativa porque enfrentam forte competição dos importados e vivem a mudança de padrão para a TV digital.

O aquecimento do mercado interno vem sendo sustentado, segundo Mol, pelo aumento da renda e do consumo das famílias, pelos maiores gastos do governo e pela ampliação do crédito. Como não há sinais de mudança, o economista disse que não espera reversão do emprego.

A elevação de 5% na massa salarial este ano teve como maior causa a agregação de novos trabalhadores, já que o valor do salário cresceu apenas 1,3%. "A demanda interna cresce a 6%. Nunca houve algo assim nesta década, apenas no início do Plano Real", admitiu.

As projeções da CNI para este ano são de crescimentos de 4,7% no Produto Interno Bruto (PIB), 5% no PIB industrial e algo entre 5% e 5,5% para as vendas do setor. No cenário dos juros para 2008, a entidade prevê uma trajetória de queda, porém mais lenta que a do período 2006-2007.