Título: Derrota de Chávez esvazia debate sobre 3º mandato
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2007, Política, p. A9

A derrota do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no referendo sobre a nova Constituição do país, no domingo, poderá desestimular a ação dos defensores do continuísmo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo avaliam integrantes da oposição. Ao analisar o reflexo do pleito no país vizinho na possibilidade de a base aliada lulista aprovar a possibilidade de um terceiro mandato consecutivo para o presidente Lula, o líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS), acha que se esvaziou o principal plano traçado pelos defensores da proposta.

"A derrota do Chávez faz com que todos os aloprados do Lula fiquem com as barbas de molho, preocupados", diz o líder do Democratas. O termo "aloprados" foi usado pelo próprio presidente ao criticar pessoas ligadas ao PT que tentaram elaborar um dossiê contra o PSDB durante as eleições. "O caminho escolhido (para aprovar o terceiro mandato) começa a ser revisto. Porque os defensores do terceiro mandato queriam usar justamente um referendo ou um plebiscito para tratar do assunto", afirma.

Os deputados Devanir Ribeiro (PT-SP) e Carlos Willian (PTC-MG) defendem o terceiro mandato de Lula e admitem trabalhar para que a idéia saia do papel. O petista pretende apresentar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para dar poderes ao presidente da República de convocar plebiscitos e referendos (e um dos temas poderia ser o do terceiro mandato). É o caminho percorrido por Hugo Chávez.

"No plebiscito sobre o desarmamento, o governo entrou de cabeça e perdeu. Agora, o povo venezuelano deu um alerta para o resto da América Latina", diz.

O líder, no entanto, ainda espera o resultado da votação sobre a prorrogação da CPMF para analisar se o Congresso Nacional teria condições de aprovar o terceiro mandato. Para ele, ganha importância a tese de que a votação da CPMF é um ensaio para uma possível votação de PEC sobre a continuidade de Lula. "Se os senadores forem capazes de votar a CPMF, que mexe no bolso do trabalhador e é muito mais impopular, poderiam votar qualquer coisa, inclusive o terceiro mandato de Lula", diz.

O DEM acredita também que, com tanto dinheiro da CPMF, e com a arrecadação crescente , o presidente terá meios para negociar a aprovação de qualquer projeto no Congresso.

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), considerou a decisão do referendo realizado na Venezuela, somado ao resultado da pesquisa publicada pelo jornal "Folha de S. Paulo" - contrário ao terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - "uma pancada na cabeça do golpismo brasileiro".

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não vê melhora ou piora nas condições para aprovação do terceiro mandato no Congresso. O presidente Lula, segundo ele, já reiterou que descarta a proposta. "Comemorei o resultado na Venezuela. Haverá influência no contexto geral da América Latina. O referendo mostra que nem todos podem tudo. Foi ótima a derrota do Chávez", disse.

Para o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), candidato à presidência do PT, a decisão na Venezuela não muda o clima dentro do país sobre um possível terceiro mandato para Lula. "Acho que a história do terceiro mandato já nasceu sepultada. O que se faz e se fala é apenas especulação", diz Cardozo. O parlamentar, no entanto, crê que a decisão do povo venezuelano poderá mudar os planos de quem planeja trabalhar pelo terceiro mandato. "O resultado do referendo serve apenas como desestímulo àqueles que defendem essa tese, que são poucos", completa.