Título: Ricardo Berzoini deverá enfrentar Jilmar Tatto em 2º turno petista
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2007, Política, p. A11

Jilmar Tatto: deputado aguarda totalização dos votos de Berzoini nos grotões petistas para iniciar articulações do 2º turno O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) irá enfrentar um segundo turno no dia 16 de dezembro em sua busca por um novo mandato na eleição interna do PT que define o novo comando da sigla. No 5º boletim parcial divulgado às 22h de ontem, com cerca de 70% dos votos apurados, Berzoini tinha 43,8% do total.

É praticamente certo que seu adversário será o deputado Jilmar Tatto (SP), ex-secretário municipal de Transportes na gestão da atual ministra do Turismo, Marta Suplicy, como prefeita de São Paulo. Além da forte base paulista, seção do partido em que surpreendeu e deve derrotar Berzoini, Tatto conta com o apoio da tendência Movimento PT, do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), o que lhe deu alguma musculatura nacional. Na quinta parcial divulgada pelo partido, o parlamentar conseguia 22,9% dos votos.

Apoiado por uma coalizão de dissidentes do antigo Campo Majoritário e da tendência de esquerda Democracia Socialista, o deputado José Eduardo Martins Cardozo caminha para o terceiro lugar, com 17,2% do total. Dos adversários de Berzoini, Cardozo foi o único que não se comprometeu a apoiar alguém da oposição à atual chapa em um segundo turno.

Aliados de Berzoini apostam na neutralidade de Cardozo no segundo turno, em que a aliança "Mensagem ao Partido" tenderia a se dividir. Seus aliados oriundos do antigo Campo Majoritário, como o ministro da Justiça, Tarso Genro, o ministro da Educação, Fernando Haddad, o governador da Bahia, Jaques Wagner, e o de Sergipe, Marcelo Déda, tenderiam a ficar com Berzoini, ao passo que os esquerdistas ortodoxos, como o deputado estadual gaúcho Raul Pont, apoiariam Jilmar Tatto. Caso este prognóstico se confirme, Berzoini começaria o percurso do segundo turno em um cenário muito mais favorável que o de Tatto.

O pior cenário para o Palácio do Planalto é uma eventual vitória de Jilmar Tatto, mas o deputado petista, por outro lado, é um candidato mais fácil de ser derrotado no segundo turno do que Cardozo, que agrega mais no partido.

Mas nenhum dos adversários de Berzoini mostrava disposição ontem para começar as negociações para o segundo turno com menos da metade dos votos apurados. "Ainda não dá para bater o martelo de que estou no segundo turno. Os votos dos grotões vai começar a entrar agora. Berzoini tende a crescer e ficar perto dos 45% dos votos. Eu e Cardozo vamos cair e a diferença entre nós deve ficar em torno de dois a três pontos percentuais", disse Tatto.

"As variações regionais de votação dos candidatos são muito grandes, e portanto só podemos ter segurança dos resultados quando a apuração estiver muito mais avançada. Ainda acho que iremos ao segundo turno", disse Raul Pont, um dos líderes da Democracia Socialista, tendência que apóia Cardozo. As votações irregulares são patentes no caso de Tatto. Enquanto conseguia 24 mil votos em São Paulo, o deputado não passava de 50 sufrágios no Paraná. Mas Tatto demonstrou força onde era crucial: São Paulo representa 25% do colégio eleitoral petista.

Os primeiros boletins de apuração surpreenderem também pelo vigor do quarto colocado, o dirigente Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda. Mesmo isolado dentro do partido, Pomar e seu grupo conseguiam 11,1% dos votos na parcial divulgada às 22h, quando os prognósticos dos outros candidatos era que o dirigente teria cerca de metade deste montante. Se Pomar conseguir manter-se com mais de 10% dos votos até o final da apuração, deve entrar com capital político no jogo de negociações para o segundo turno. Sua tendência já declarada é de apoio a qualquer candidato que não seja Berzoini.

A eleição do último domingo não colocou em jogo apenas a direção nacional do partido, influente na definição ou não de uma candidatura própria do PT à presidência em 2010. Sinalizou também para a consolidação de esquemas regionais de poder.

No Paraná, Gleisi Hoffmann, a esposa do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, elegia-se para a presidência regional petista com nada menos que 82% dos votos. Gleisi deverá ser a candidata do partido à prefeitura de Curitiba, sem maiores contestações.

No Rio Grande do Sul, o ex-governador Olívio Dutra reelegeu-se para a presidência do PT local com 75% dos votos, percentual semelhante ao obtido entre os gaúchos por José Eduardo Martins Cardozo, o candidato nacional de sua aliança. O resultado deve definir a disputa pela candidatura do PT à prefeitura de Porto Alegre. O ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, um aliado de Olívio, deverá ganhar com facilidade a briga interna contra a deputada Maria do Rosário.

Em São Paulo, a ministra do Turismo deu uma demonstração de poder, mesmo sem se pronunciar sobre a disputa interna. O candidato a presidente estadual que recebeu o apoio de seus principais aliados, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, obtinha na tarde de ontem 54% dos votos, batendo ainda no primeiro turno o candidato de Berzoini e do atual presidente da sigla, Paulo Frateschi. Mas o impulso decisivo para a dianteira de Edinho não veio do grupo martista: na reta final da campanha, Edinho recebeu o apoio do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, além do deputado e ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

As pretensões de Cardozo de ser o candidato do PT à prefeitura de São Paulo no próximo ano, em caso de desistência de Marta, sofreram um baque no domingo: na capital paulista, Tatto teve 13 mil votos, Berzoini 6 mil e Cardozo, apenas 2,3 mil.

Na Bahia, os primeiros resultados apontavam para uma humilhação ao governador Jaques Wagner. Seu candidato a presidente nacional, José Eduardo Martins Cardozo, não passava de um humilde quarto lugar em uma apuração ainda concentrada na região de Salvador. O candidato mais votado era Valter Pomar, em um resultado parcial ainda sem os votos das pequenas cidades do Estado.

No Mato Grosso do Sul, o poder do ex-governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, parece se diluir. Faltando menos de 10% dos votos a apurar, Berzoini mantinha uma frente de apenas dezesseis votos sobre Jilmar Tatto, que teve o apoio do senador Delcídio Amaral.