Título: Renan renuncia e é absolvido no Senado
Autor: Costa, Raymundo ; Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2007, Política, p. A9

Ruy Baron/Valor Renan: absolvido por 48 votos favoráveis, 29 contra e três abstenções depois de uma crise que durou seis meses Depois de uma crise que se estendeu por seis meses, o presidente do Senado, Renan Calheiros, renunciou ontem ao cargo em troca da preservação do mandato parlamentar. Ao contrário do que esperava o governo, a renúncia seguida da absolvição do senador não mudou as condições políticas para a aprovação da CPMF, pois a oficialização da saída de Renan apenas serviu para embaralhar a sucessão no Senado com as articulações para a aprovação do imposto do cheque - o resultado de uma votação (a eleição) pode influenciar o resultado da outra - a prorrogação da CPMF.

A absolvição de Renan era o cenário mais favorável ao Palácio do Planalto, por não criar áreas de atrito com o PMDB, bancada majoritária que deve indicar o nome do sucessor. O pior cenário era o da cassação do mandato, improvável, mas que significaria, para o governo, recomeçar do zero as articulações em torno da votação da CPMF.

Renan foi absolvido por 48 senadores, contra 29 que votaram pela cassação do mandato e três abstenções. "Compreendo que presidir esta Casa é resultado das circunstâncias políticas", disse Renan na carta de renúncia. "Entendo que quando tais circunstâncias perdem densidade, ameaçando o bom desempenho das atividades legislativas, é aconselhável deixar o cargo". Disse que abriu mão do cargo "para não permitir que o presidente do Senado fosse julgado".

O governo chegou a propor deixar a eleição do sucessor de Renan para o próximo ano, a fim de ganhar tempo para negociar e acertar o imposto do cheque, mas a oposição exigiu o cumprimento do regimento - que prevê a eleição em cinco dias úteis - e embaralhou de vez os dois assuntos. Renan pronunciou a palavra "renúncia" quando o painel de votação marcava 19h59 e a presença dos 81 senadores no plenário. No instante seguinte, o líder do PSDB, Artur Virgílio, passou a tratar da eleição do sucessor. "Agora ficou claro que o que estava em jogo era a cadeira do presidente", apontou Renan.

Virgílio assegurou que vai esperar a indicação do PMDB. Só então DEM e tucanos decidirão se apóiam o candidato pemedebista ou lançam nome próprio. A hipótese é Tasso Jereissati, mas Virgílio diz que não desperdiçaria a "honra" de concorrer se o indicado do PMDB for o senador José Sarney. O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), convocou para amanhã uma reunião da bancada que que os candidatos se apresentem - a escolha do nome ficaria para terça-feira ou a manhã de quarta-feira, horas antes da eleição.

Há mais de uma década Sarney tem influência direta na eleição do presidente do Senado, quando ele mesmo não é o escolhido. Desta vez diz que não quer e foi vetado pelo líder do PSDB, embora tenha apoio entre tucanos como Tasso Jereissati. Sarney considera o momento tumultuado, está interessado em concorrer à presidência da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2008, ano do centenário de Machado de Assis, e talvez disputar mandato de dois anos em 2009, o que faria com que estivesse na presidência do Senado nas articulações para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas seu nome não deve ser descartado na atual sucessão.

O problema é que falta ao PMDB um nome forte, capaz de se impor a todas as correntes. O nome mais bem cotado, até agora, é o do senador Garibaldi Alves (RN), que no primeiro processo contra Renan votou por sua cassação, e passou as últimas semanas aparando arestas, inclusive com o Planalto, que não gostou de sua atuação na CPI dos Bingos. A reaproximação foi patrocinada pelo grupo na Câmara. Mas Alves tem problemas no PMDB e também entre aliados: ele e o senador José Agripino Maia devem renovar o mandato em 2010 numa eleição em que uma das duas vagas existentes tem um favorito - a governadora Wilma Faria.

Outros dois senadores pemedebistas se declaram candidatos: Neuto de Conto (SC), em primeiro mandato, e Valter Pereira (MS), que assumiu a vaga do ex-presidente do Senado Ramez Tebet em 2006. Gerson Camata (ES) também avalia suas possibilidades, mas vem perdendo terreno na disputa. O senador Jarbas Vasconcelos (PE), não é aceito pelos governistas mas teria o apoio da oposição, segundo declarou Virgílio no plenário. Jarbas, no entanto, decidiu apoiar Garibaldi Alves na bancada.

"Apóio porque ele me pediu - não articulei a candidatura dele", disse Jarbas. O líder pemedebista Valdir Raupp está inquieto com a disputa, tanto que vai tentar com os outros líderes adiar a eleição por "ao menos uma semana, para ganhar tempo e acertar as coisas". Um líder aliado do governo resumiu a situação que observa no PMDB: " "Garibaldi lançou seu nome primeiro e é o que está individualmente melhor, mas não recebeu a unção".

O PMDB, por outro lado, julga ter detectado uma movimentação de Tião Viana (PT) para permanecer no cargo, numa articulação com o PSDB, a exemplo do que aconteceu na Câmara, no início do ano. A líder petista Ideli Salvati (SC) tratou de esfriar os ânimos pemedebistas e afirmou que o partido vai apoiar o nome que o PMDB indicar. A indicação de um um nome do PT e um eventual acirramento da disputa entre as correntes internas pemedebista podem ter reflexos sobre a votação da CPMF.

Na segunda-feira, reuniram-se em Belo Horizonte o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o líder Arthur Virgílio (AM) com os governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). Os dois governadores tentaram convencer os líderes tucanos a trabalhar para que o partido vote a favor da CPMF no Senado. Aécio e Serra mostraram preocupação com os efeitos da suspensão da arrecadação nas contas do governo. Disseram que o governo não tem excesso de arrecadação para cobrir o rombo. Temem que o desarranjo nas contas do governo federal possa desestruturar também as contas dos Estados.

Ouviram de Guerra e Virgílio que já é tarde. Os tucanos consideram que o governo não fez propostas convincentes e perdeu o timing da negociação com o partido. A bancada assumiu compromisso de votar unida (13 senadores) contra a prorrogação da CPMF. Ontem, o líder do DEM, José Agripino (RN), procurou os tucanos para tentar convencê-los a apoiar a antecipação da votação da CPMF para esta quinta-feira, como propôs o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).