Título: Pressão sindical não vinga
Autor: Pariz, Tiago; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 27/01/2011, Política, p. 7

Especial para o Correio

O governo bateu o pé na negociação com as centrais sindicais. Reafirmou o valor de R$ 545 para o salário mínimo e praticamente descartou reajustar a tabela do Imposto de Renda (IR) em 6,46%, como reivindicado pelos representantes dos trabalhadores. O ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, disse que a tendência do governo é a correção ficar em 4,5%, como implementado nos últimos quatro anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A reunião frustrou a expectativa das centrais sindicais, que esperavam conseguir posições concretas do governo sobre o mínimo e a tabela do IR. Levaram a Gilberto Carvalho, inclusive, uma pauta mais ampla, com aumento para aposentados que recebem acima do mínimo e desoneração da folha de pagamento. As respostas foram similares: não deverá haver mudança na política estabelecida. Aos aposentados, o reajuste fica limitado a inflação e, quanto à desoneração, será aberta uma nova negociação.

O governo buscou limitar o primeiro encontro com os sindicalistas ao debate sobre o mínimo e não quis discutir a correção da tabela do IR para evitar a vinculação das propostas. Um novo encontro está marcado para a próxima terça-feira.

O ministro disse que aumentar o valor do salário mínimo para este ano significaria descumprir o acordo de conceder o reajuste baseado no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores mais a inflação pelo INPC, o que chegaria aos R$ 545. As centrais reclamam por um valor maior, baseado no argumento de que a economia registrou crescimento negativo em 2009 por conta da crise financeira internacional.

O governo rebateu, lembrando que essa alteração comprometeria o aumento de 2012, que chegará ao redor de 14%, levando-se em conta o crescimento superior a 7% da economia no ano passado. ¿É inconveniente mexer nesse acordo. Vamos honrar o compromisso e esperamos que as centrais tenham sensibilidade para entender este momento¿, disse Carvalho. Ao ser questionado sobre a possibilidade de elevar o valor para R$ 550, respondeu: ¿Qualquer valor acima vai entrar na feira do imponderável.¿

Insatisfação

Apesar de o tema da tabela do IR não ter sido aprofundado, o ministro disse haver uma tendência pelo reajuste de 4,5% - centro da meta de inflação. Segundo ele, os 6,46% estão acima das possibilidades do governo.

Durante a reunião, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, fez uma fala inicial que desagradou aos sindicalistas por ter dado a entender que não haveria negociação quanto à tabela. "Ele disse que o reajuste seria definido pelos técnicos sem discutir conosco, mas não aceitamos isso¿, afirmou o diretor executivo da Força Sindical, Lucas Nery.

Os sindicalistas adotaram um discurso único para defender o aumento superior ao mínimo, fazendo um apelo para que o governo trate do assunto de maneira ¿excepcional". "Queremos discutir que excepcionalmente o salário mínimo de 2011 tem que ter um tratamento especial por conta da crise. Portanto, não temos acordo com o governo", afirmou o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Arthur Henrique. O presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, Antonio Neto, fez uma leitura própria do pacto com o Palácio do Planalto. "O acordo diz que é necessário um aumento real e o que o governo propõe não é aumento real" afirmou Neto. O salário mínimo sustenta cerca de 49 milhões de pessoas direta ou indiretamente.

Desencontro

Durante a campanha eleitoral a então candidata Dilma Rousseff repetia em entrevistas que o aumento do salário mínimo entre 2003 e 2010 era de 74%. Depois de questionada por repórteres, ela explicou-se dizendo que, dependendo do período, o percentual mudava. Ontem, o ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, disse que o mínimo no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cresceu 62,4% entre dezembro de 2003 e dezembro de 2010. Segundo institutos de pesquisa, o aumento no período foi de 53,67%.