Título: Petistas já negociam alianças para o 2º turno
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2007, Política, p. A10

Rafael Hupsel/Folha Imagem - 2/11/2007 Cardozo sobre a possibilidade de o grupo que o apoiou optar por não divulgar uma posição pública: "Definimos isso como estratégia: só vamos decidir por consenso" O presidente do PT e candidato à reeleição, deputado Ricardo Berzoini (SP) conta com o apoio dos ministros e governadores de Estado que sustentaram o deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP) no primeiro turno da eleição interna petista para a escolha da nova direção partidária. Terceiro colocado na eleição petista, atrás do deputado Jilmar Tatto (SP), Cardozo é o candidato do grupo Mensagem ao Partido, formado por dissidentes do antigo Campo Majoritário e pela corrente Democracia Socialista.

No último resultado divulgado pelo partido, com 99% dos votos apurados, Berzoini alcançou 43,7%, o que sedimentou o segundo turno. O quórum registrado até às 21h de ontem era de 317.372 mil. A expectativa era de que chegasse a 320 mil. A diferença entre Cardozo e Tatto estreitou-se ao longo da apuração de ontem. Tatto teve 20,5% dos votos e Cardoso, 18,9%. O quarto candidato, Valter Pomar, ficou com 11,4% dos votos.

O avanço do candidato da "Mensagem" deveu-se à entrada dos votos do interior da Bahia, do Ceará e de Pernambuco, Estados em que Cardozo foi apoiado pelo governador baiano Jaques Wagner e pelos prefeitos de Fortaleza, Luizianne Lins e do Recife, João Paulo.

Cardozo indicou ontem que o seu grupo pode optar por não divulgar uma posição pública, caso se confirme sua exclusão do segundo turno. "Definimos isso como estratégia: só vamos decidir por consenso, de comum acordo", disse. O parlamentar, que ainda tinha remotas esperanças de chegar ao segundo turno no início da tarde, afirmou que o resultado não surpreendeu, com exceção de São Paulo, onde Tatto derrotou Berzoini. "Era esperado isso na capital, mas não no interior. Ficou claro que o grupo da Marta agora está se unificando", comentou, referindo-se à ministra do Turismo, Marta Suplicy, que, ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (SP), é um dos pilares da candidatura de Tatto.

Aliados de Cardozo na Assembléia Legislativa de São Paulo já comentavam ontem que deverão aderir a Berzoini, se Tatto for para o segundo turno. Tatto é visto com antipatia por certos setores do partido por suas práticas clientelistas em seu reduto eleitoral, o bairro da Capela do Socorro. Seus apoiadores do grupo martista são malvistos pela agressividade com que ocupam espaços partidários.

Na tarde de ontem, Berzoini divulgou um comunicado à militância, admitindo a inevitabilidade do segundo turno, mas ressaltando a sua força nacional: destacou que teve mais de 50% em dezesseis das 27 unidades do país. Não mencionou suas derrotas em São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia. Seus aliados afirmaram que Berzoini pretende acionar os presidentes regionais recém-eleitos para entrarem em campo a seu favor.

Entre os aliados de Berzoini, a interpretação dos resultados regionais indicaria que o apoio de alguns governadores a Cardozo teria sido meramente formal. Em Sergipe, por exemplo, o grupo Mensagem recebeu uma mensagem de apoio do governador Marcelo Deda, mas não recebeu seus votos. Entre os 5,8 mil votantes do PT sergipano, Berzoini conseguiu 59%, o candidato da Articulação de Esquerda, Valter Pomar, ficou com 21%, Jilmar Tatto alcançou 10% e Cardozo não passou de 5%. Na Bahia, o apoio de Wagner também não retirou Cardozo do distante quarto lugar. Depois da contagem de 10,6 mil votos no Estado, a liderança ainda era de Pomar, com 37%, seguido de Berzoini, com 35%, Tatto, com 13% e Cardozo com 12%.

Segundo um de seus apoiadores, em São Paulo Berzoini tentará uma aproximação com as lideranças do grupo Mensagem e com alguns dirigentes que investiram mais na disputa pela direção estadual do que no quadro nacional, como o deputado Antonio Palocci e o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu.

Sob reserva, este aliado de Berzoini afirma que já há consciência dentro do grupo que o candidato cometeu o seu maior erro estratégico da campanha em São Paulo, ao formar a chapa junto com o candidato a presidente regional Zico Prado, apoiado pela atual direção estadual petista, que perdeu a eleição no primeiro turno para o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que tinha simultaneamente o apoio de Tatto e Cardozo.

Na reta final, Edinho recebeu a adesão do secretário particular do presidente Gilberto Carvalho. Dentro do partido, este gesto foi interpretado como um apoio do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Edinho, para derrotar o candidato que constava na chapa de Berzoini. A onda de apoios recebidos por Edinho fez com que Berzoini se afastasse da disputa paulista e fizesse sua campanha no Estado de forma desvinculada.