Título: OMC reduz sua projeção de alta do comércio mundial
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2007, Internacional, p. A13

A Organização Mundial do Comércio (OMC) está menos otimista sobre a expansão das trocas globais este ano. A entidade acha que dificilmente será alcançada sua projeção de alta de 6%, devido à desaceleração no quarto trimestre.

"Se a produção cai, freqüentemente também a expansão do comércio cai mais", disse Patrick Low, economista-chefe da OMC, ao admitir pela primeira vez que a entidade apostou alto em abril com os 6% - já abaixo dos 8% registrados no ano passado e dos 10% de 2005.

Ao lado de Low no lançamento do relatório anual sobre o comércio mundial, o diretor-geral, Pascal Lamy, alertou os governos a não imporem novas barreiras ao comércio, insistindo que protecionismo na situação atual pode ter "resultados catastróficos".

O comércio global teve bom desempenho nos nove primeiros meses do ano, mas a desaceleração é evidente neste último trimestre. "A expansão ficará abaixo dos 6%, mas não abaixo de 5%", calcula Michael Finger, economista da OMC.

A questão é o que ocorrerá em 2008. A OMC redobra sua prudência, enquanto outras organizações internacionais acreditam que a situação pode melhorar.

A desaceleração do comércio neste trimestre reflete a redução do papel dos EUA como o motor das trocas. Os americanos estariam diminuindo o consumo, afetados pela crise imobiliária, alta do preço do petróleo e menos crédito.

Para os exportadores, o que compensa o resultado modesto de suas vendas em volume é a alta do comércio mundial em valor, em torno de 14% em dólar americano, a exemplo do ano passado.

Os países exportadores de petróleo, com enorme liquidez, elevaram significativamente suas importações. É onde exportadores estão procurando novas oportunidades. Mas isso é insuficiente para compensar a queda americana.

Alemanha e China continuam se destacando como os principais exportadores. Mas a expectativa é que Pequim já ampliou tanto suas vendas que também tende a diminuir o ritmo de sua expansão.

O impacto da alta do petróleo está se fazendo sentir neste trimestre. E a enorme queda do dólar americano, se ajuda a reduzir o gigantesco déficit comercial americano, também causa problemas entre os parceiros comerciais.

A OMC avalia que o desequilíbrio das contas correntes tende a aumentar nos países industrializados, e pesa como uma ameaça mais imediata sobre o comércio, na medida em que alimenta o protecionismo em vários países.

O déficit comercial dos EUA, que alcançou US$ 836 bilhões em 2006, puxou a economia mundial. Agora, os dados confirmam que o déficit está diminuindo em termos reais. A questão é se a diminuição do desequilíbrio da balança corrente dos EUA vai causar uma maior desaceleração do comércio mundial de mercadorias.

Tudo dependerá do ajuste. Se for através de forte aceleração do crescimento das exportações americanas, com só uma leve queda das importações, o choque não será forçosamente negativo.

Em meio à esperança de um "pouso suave", certos economistas, citados em estudo da OMC, deixam entender que o ajuste será acompanhado de uma desvalorização de até 30% do dólar.