Título: Álcool remunera melhor do que açúcar
Autor: Bouças, Cibelle ; Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2007, Agronegócio, p. B16

Apesar de se manter em patamares baixos de preços entre abril e novembro, o álcool remunerou melhor as usinas que o açúcar nesta safra 2007/08, conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).

No balanço feito na semana encerrada no dia 30 de novembro, o álcool hidratado pagou 18% mais que o açúcar. O anidro, 24% mais, segundo o Cepea. "É a primeira vez que o álcool remunerou mais que o açúcar em muito tempo", afirmou Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica.

Segundo Padua, o álcool esteve remunerador entre abril e maio. Já entre junho e setembro, houve empate entre os dois produtos. Em outubro e novembro, o combustível levou a melhor. Na comparação com o açúcar para exportação, o álcool levou vantagem desde abril.

Conforme Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento, uma vantagem do álcool no balanço de toda a safra não ocorria desde a década de 1980 - época do Proálcool -, e reflete a forte desvalorização nos preços do açúcar neste ano, por conta do superávit global de produção.

Segundo ele, as usinas deverão encerrar o ano com queda na receita com exportações de açúcar da ordem de 34%. A queda é explicada pela desvalorização de 24% no preço médio da commodity negociado na bolsa de Nova York, que passou de uma média de 12,50 centavos de dólar por libra-peso em 2006, para 9,50 centavos de dólar neste ano.

Outro fator é a queda de 13,5% no valor médio do dólar em relação ao real, na comparação entre o câmbio médio de 2007 (R$ 1,85) e o de 2006 (R$ 2,14). "O açúcar exportado cobre os custos operacionais das usinas, mas não é capaz de gerar lucro. Os balanços das usinas não serão bons neste ano", afirmou Martins Borges.

De janeiro a outubro, as exportações de açúcar recuaram 2,8% em volume, para 10,35 milhões de toneladas, e 15,5% em receita, para US$ 2,62 bilhões, de acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). A Job Economia calcula que as exportações devam se manter em 20 milhões de toneladas neste ano. No ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações de açúcar totalizaram 18,87 milhões de toneladas, gerando receita de US$ 6,167 bilhões. Borges estima que a receita com exportações neste ano ficará 34% abaixo desse valor.

Na avaliação do consultor, o açúcar é o produto mais rentável na relação custo e preço de venda. Essa relação se inverte nos períodos de entressafra, quando a oferta de álcool diminui consideravelmente. Para Padua, os preços do álcool deverão ter uma recuperação durante a entressafra (janeiro a abril). "Mas a expectativa não é a mesma para o açúcar." Levantamento do Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) mostra que o preço médio do álcool ao consumidor ficou em R$ 1,398 em novembro passado no país, aumento de 6% sobre outubro. A tendência é que os preços subam mais na entressafra.

O baixo desempenho do açúcar no mercado interno comprometeu o desempenho geral das indústrias de São Paulo, segundo levantamento da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo). De acordo com o indicador de nível de atividade, o segmento de alimentos e bebidas teve um crescimento de 0,9% em outubro comparado a setembro, com ajuste sazonal abaixo da média geral, de 2,7%. No ano, o indicador apresenta aumento de 3,8% para o setor de alimentos e bebidas, contra média nacional de 4,9%.

O resultado foi comprometido sobretudo pelo desempenho das usinas sucroalcooleiras, segundo Paulo Francini, diretor da Fiesp. "O açúcar sofreu nas bolsas internacionais e a desvalorização do dólar comprometeu as exportações".