Título: BNDES mantém desembolsos robustos para o setor
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2007, Agronegócios, p. B16

O setor sucroalcooleiro terá quase R$ 20 bilhões de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) até 2010, de acordo com a carteira de projetos aprovados e sob análise nos segmentos de produção, cultivo de cana, co-geração de energia elétrica e pesquisa e desenvolvimento. Os empréstimos já aprovados ao setor somam R$ 10,6 bilhões. Já os projetos sob análise, cujos investimentos devem ser realizados nos próximos dois anos, se aprovados, devem contar com R$ 9,1 bilhões do banco de fomento.

Para 2007, a perspectiva é de um volume recorde de desembolsos de recursos ao setor, de R$ 3,2 bilhões, alta de 62% sobre 2006.

O banco, que criou em agosto passado um departamento específico para tratar da expansão da indústria do etanol, vê mais investimentos nos próximos anos.

Dos 77 projetos que estão no portfólio, os destaques são os investimentos de empresas que ainda não formalizaram pedido de empréstimo junto ao banco para a instalação das usinas. "São projetos grandes, que já nascem com uma forte economia de escala", afirmou o gerente do departamento de biocombustíveis do banco, Paulo Faveret Filho.

Das novas usinas, 39 já tiveram empréstimos aprovados ou contratados, totalizando R$ 3,79 bilhões de financiamento. O BNDES possui outros 12 projetos de investimento com perspectiva de entrar com a carta-consulta, primeira fase do pedido formal de empréstimo, e que indicam investimentos maiores daqui para frente. Somente esses 12 empreendimentos devem demandar R$ 3,74 bilhões de financiamento. Os projetos mais robustos têm investimento inicial de R$ 500 milhões por usina. "Há casos de empresas com a intenção de instalar três usinas, com um investimento de R$ 1,5 bilhão", disse.

Pelos cálculos do BNDES, os 77 projetos devem aumentar a capacidade de moagem de cana no país em 100 milhões de toneladas ao ano. Esses investimentos somam R$ 17,3 bilhões, dos quais R$ 12,1 bilhões devem ser financiados pelo BNDES. Os grandes empreendimentos em questão devem se instalar fora de São Paulo, principal pólo produtor de cana do país, devido ao menor custo da terra, disse o chefe do departamento, Carlos Eduardo Cavalcanti. As principais áreas são o Triângulo Mineiro, o sul de Goiás e o sul do Mato Grosso do Sul, onde há cultivo de grãos. Os técnicos do banco ressaltam que tais plantas são mais modernas, quase que totalmente mecanizadas e com processos de produção que excluem a queima da cana, o que reduz danos ambientais.

Os novos investimentos não se limitam ao mercado interno, impulsionado nos últimos anos pelo elevado crescimento da frota de carros flexfuel. "Muitas dessas empresas querem se tornar global players. O BNDES está preocupado em dar sustentabilidade ao crescimento das empresas ao exterior", disse Cavalcanti. Para fomentar a internacionalização do setor, o vice-presidente do BNDES, Armando Mariante, não descarta emprestar para empresas que queiram instalar usinas fora do país, como na África, onde o clima é propício para a cultura da cana. O BNDES anunciou ontem avanços no financiamento à co-geração por meio do uso do bagaço da cana. São 47 projetos com capacidade de geração elétrica de 1,4 mil MW que estarão disponíveis no sistema elétrico nacional em 2010.