Título: Carteiras de ações dobram de tamanho ao longo do ano
Autor: Fariello , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2007, EU & Investimentos, p. D2

Os fundos de ações crescem a despeito da forte oscilação da bolsa de valores. Em novembro, até quinta-feira, o Índice Bovespa (Ibovespa) apresentava recuo de 4,8% no mês, mas, ainda sim, os fundos de ações foram as carteiras mais procuradas pelos investidores, com captação líquida de quase R$ 2,5 bilhões, segundo dados do site Fortuna. O ritmo confirmou a elevada demanda por essas carteiras, que se estendeu por todo o ano. Desde janeiro, R$ 21,3 bilhões foram depositados nesses fundos. É um desempenho que acompanha a forte procura da pessoa física pela renda variável, a exemplo do que se observa nas ofertas públicas de ações. No ano, todo o setor de fundos recebeu R$ 79,1 bilhões.

Com os valores depositados e a rentabilidade incorporada às cotas dos fundos de ações neste ano, a categoria já cresceu mais de 100%. Em dezembro de 2007, segundo dados do site Fortuna, os fundos de ações tinham patrimônio total de R$ 38,6 bilhões. Atualmente, as carteiras têm R$ 78 bilhões. Esse número foi inflado, além da captação, pela forte valorização das ações ao longo do ano. Até quinta-feira, apesar do recuo de novembro, os fundos de ações subiram 38,12% em média, pouco abaixo de variação de 39,76% do Ibovespa no período. Com esse crescimento, os fundos de ações passaram a representar uma fatia de 6,6% do setor de fundos de investimento no país, que totaliza R$ 1,187 trilhão segundo o site Fortuna.

A consultoria também aponta que, do total aplicado em fundos de ações em novembro, R$ 1,8 bilhão teve como destino fundos de varejo, que recebem depósitos a partir de R$ 100. Esse ritmo foi percebido ao longo de todo o ano, com uma ligeira ruptura em agosto, mês de turbulência mais intensa no mercado brasileiro. Segundo Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna, os investidores de varejo têm procurado principalmente as carteiras de Vale e Petrobras. Entre as dez carteiras que mais receberam recursos no mês passado, oito são formadas apenas por ações dessas empresas, diz D'Agosto. No ano, até ontem, a ação ordinária (ON, com voto) da Vale avançava 98,10% e a da Petrobras, 62,89%.

Dois outros fundos fazem parte da lista dos mais procurados no varejo e aceitam aplicação mínima de R$ 100. São eles o Ethical, do ABN Amro Real, que investe em empresas com sustentabilidade, e o Geração Programado, da Geração Futuro. Segundo Wagner Faccini Salaverry, gestor da Geração, é principalmente pela divulgação boca-a-boca que os investidores de varejo têm procurado a casa. O fundo programado cresceu de patrimônio de R$ 56 milhões no ano passado para R$ 787 milhões atualmente. Segundo Salaverry, entre investidores dos fundos de ações e aplicadores que operam pela corretora da Geração, o número de clientes da empresa saiu de 14 mil em 2006 e deverá chegar a 50 mil até o fim do ano.

Ao aplicar por meio de fundos, porém, o investidor de varejo pode perder um benefício fiscal importante. Quem negocia diretamente no pregão da bolsa tem direito a vender até R$ 20 mil em ações por mês e fica isento do recolhimento da alíquota de 15% de imposto de renda sobre os lucros. Quando aplicam por fundos, invariavelmente, os aplicadores pagam impostos sobre o ganho obtido.

Os investidores novatos ou que já tiveram experiências ruins no mercado de ações preferem delegar a especialistas as decisões sobre investimentos, por isso optam pelos fundos explica Salaverry. "Muitos não estão mais satisfeitos com o retorno da renda fixa, mas também não têm tempo de se dedicar ao mercado para tomar decisões sozinhos." Segundo o executivo da Geração, também não são raros os casos de aplicadores que têm cotas de fundos de ações e também negociam papéis diretamente no pregão da Bovespa.

No caso dos fundos com apenas um papel, como Vale e Petrobras, ou seja, que não têm nenhum diferencial de gestão, a resposta para a alta procura pode estar na acessibilidade para valores baixos. Os grandes bancos têm fundos disponíveis para aportes a partir de R$ 100. "Os investidores ficam menos intimidados e se identificam melhor com as empresas", avalia Marcelo D'Agosto, do Fortuna.

Em novembro, apesar de os fundos de ações terem passado o mês sem abalo, caiu a aplicação em fundos multimercados, os líderes na preferência dos aplicadores no ano, com R$ 35 bilhões em captação líquida. Em novembro, porém, a captação caiu a miúdos R$ 287 milhões, tendo sido negativa em mais de R$ 1 bilhão na semana encerrada no dia 29. Como muitos multimercados atualmente possuem carência para resgates, esse ritmo da procura pelos fundos em novembro pode ter sido reflexo do início da turbulência do mercado em agosto, quando surgiram os maiores temores sobre o futuro da economia dos EUA e mundial.

A interrupção dos cortes na taxa Selic, hoje em 11,25% ao ano, derrubou os aportes em fundos de renda fixa - muitos deles aplicam em taxas prefixadas. Eles tiveram resgates líquidos acima de R$ 5 bilhões no mês. Ao longo de 2007, notava-se uma migração de investidores dos fundos DI - que seguem o juro corrente e perderam R$ 8,2 bilhões no ano - para as carteiras prefixadas. Mas, com a estagnação do juro, nem os fundos de renda fixa permaneceram atraentes. "Os investidores querem alguma solução para esse rendimento menor da renda fixa, quase igual à caderneta de poupança", diz Salaverry.

Se os fundos de ações dobraram de tamanho ao longo do ano, os fundos cambiais e de investimento no exterior (Fiex) perderam o equivalente a mais de uma vez o patrimônio atual em resgates. Saiu no ano, até quinta-feira, R$ 1,9 bilhão e atualmente a categoria tem apenas R$ 1,6 bilhão em carteira, que significa 0,14% de todo mercado de fundos brasileiro. Em retorno, os cambiais e os Fiex caem, em média, 11,73% no ano, conseqüência do recuo de 16,25% do dólar.