Título: Mercado interno faz indústria bater recorde
Autor: Grabois, Ana Paula ; Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Mercado interno faz indústria bater recorde, p. A3

O consumo interno aquecido causou forte alta da produção da indústria brasileira em outubro. Com a renda e o emprego em alta e condições de crédito favoráveis, o setor respondeu além do esperado e a produção cresceu 10,3% em relação a outubro do ano passado, na maior taxa desde agosto de 2004, quando ficara em 13,3%, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação com setembro deste ano, a produção subiu 2,8% em termos dessazonalizados, o maior aumento desde setembro de 2003, quando houve alta de 4,6%. "Em 2007, a dinâmica do desempenho industrial está muito associada à demanda interna, embora as exportações também apresentem bons resultados", disse o coordenador de Indústria do IBGE, Silvio Sales.

O coordenador do instituto ressalta a generalização da expansão do setor - 23 dos 27 ramos pesquisados apresentaram alta sobre outubro de 2006 - e a robustez dos resultados. Não somente a indústria chegou ao maior nível de produção, como os bens de capital, intermediários e duráveis também bateram em outubro o maior nível produtivo da série histórica.

Sales diz que a boa distribuição da expansão se reflete ainda no índice de difusão do crescimento entre produtos industriais abrangidos pela pesquisa. Em outubro, o índice ficou em 62,5% e no acumulado do ano, a média correspondeu a 64%, taxas bem acima dos 54,6% de 2006.

A expansão industrial de outubro mudou as expectativas para 2007. Se antes a previsão dos economistas variava para uma taxa em torno de 5,5%, agora a estimativa subiu para uma expansão de 6%. "Foi um resultado muito forte. A indústria vem acelerando desde o segundo trimestre e até o fim do ano deve fechar em 6% ou um pouco mais", afirmou a economista Marcela Prada, da consultoria Tendências.

O resultado indica um Natal com vendas mais elevadas em 2007, diz o coordenador do IBGE, apesar dos meses de outubro e de agosto registrarem os picos anuais de produção por concentrarem as encomendas para as vendas de fim de ano. "Se a indústria se prepara, sinaliza um bom fim de ano", disse Sales, acrescentando que as sondagens com empresários já apontam para um maior aquecimento para o final do ano.

A equipe de análises econômicas do Bradesco avalia que além do crédito, do emprego e da renda, a inflação baixa e o câmbio valorizado foram importantes para fomentar a demanda neste ano, ao ajudarem a manter em alta a renda real da população. Os economistas do banco ressaltam que, embora o Banco Central tenha parado de reduzir os juros nas duas últimas reuniões do Copom, a economia ainda recebe os efeitos expansivos dos cortes anteriores.

Todos os gêneros industriais registraram expansão em outubro. O maior avanço ficou com os bens de capital, cuja alta chegou a 26,8% em comparação com outubro do ano passado, sinalizando a continuidade dos investimentos em máquinas e equipamentos. Todos os segmentos dos bens de capital tiveram acréscimo de produção, com destaque para os voltados para a agricultura (60,6%), energia (52,6%) e transporte (30,1%). Os bens de capital para fins industriais registraram aumento de produção de 13,2%.

Segundo Sales, a agricultura entrou em fase de recuperação depois de dois anos fracos, enquanto a energia elétrica cresce desde o ano passado, refletindo também os programas de estímulo à eletrificação.

Os bens duráveis, estimulados pelo crédito farto, juros mais baixos e prazos mais longos, aumentaram a produção em 18,2% na comparação com outubro de 2006. Os automóveis deram a principal contribuição nos duráveis, com elevação de 26,1% na comparação com outubro do ano passado. A indústria de eletrodomésticos também reagiu bem à demanda interna e cresceu 13,9%.

Os bens intermediários, que detêm o maior peso na indústria geral, subiram 8,8% em outubro, com destaque para os insumos para a construção civil (10,2%). Outro resultado relevante nos intermediários foi obtido pelo segmento de papel e celulose, cuja alta alcançou 14,8%, depois de avançar apenas 1% nos primeiros nove meses do ano, sob a influência negativa em setembro de uma parada para manutenção de uma grande unidade da Aracruz. O bom desempenho de bens intermediários aconteceu a despeito da queda de 5,3% na produção de petróleo e gás, que sofreu com paradas e atrasos de plataformas da Petrobras.

Já os bens de consumo semi e não-duráveis subiram 5,9%, puxados pelos semiduráveis (calçados, têxteis e vestuário), que cresceram 11,4% em relação a outubro do ano passado, na primeira alta de dois dígitos desde 2004, reforçando, diz Sales, a importância do mercado interno para o desempenho da indústria ao longo do ano. Nos semiduráveis, a alta mais relevante, de 5,2%, ocorreu nos alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico A economista Thaís Zara, da consultoria Rosenberg & Associados, ressalta que este ramo é menos afetado pela concorrência com os importados, que tem afetado mais a produção nacional de calçados e confecções.

No ano, a indústria geral acumulou alta 5,9% e nos 12 meses encerrados em outubro, a expansão chegou a 5,3%. (* Do Valor Online)