Título: Economia mundial desacelera, mas país deve atrair capitais
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2007, Brasil, p. A4

A economia global tende a desacelerar em 2008 e uma elevação na injeção de capital estrangeiro no Brasil dependerá da política de juros adotada pelo Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos. Analistas esperam que o banco reduza a taxa de juro básico em 0,25 ponto percentual na reunião do dia 11, para 4,25%, e faça novos reajustes em 2008. E estimam que, se a taxa for reduzida em 1 ponto percentual em 12 meses, investidores estrangeiros poderão investir mais no Brasil.

De janeiro a outubro, a entrada de capital estrangeiro no país chegou a US$ 31,2 bilhões e a previsão é que o volume no ano atinja US$ 34 bilhões, ante aproximadamente US$ 20 bilhões em 2006, conforme a Tendências Consultoria Integrada. "Tudo dependerá dos efeitos da crise do mercado subprime [mercado hipotecário de alto risco]. Se ela provocar uma elevação dos riscos financeiros e uma forte retração na economia americana, aí haverá possibilidade de o Brasil atrair mais capital estrangeiro", afirmou Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da consultoria.

A conjuntura atual, no entanto, aponta para uma desaceleração mais suave na economia dos EUA, sem riscos de recessão, o que significaria, para o Brasil, uma injeção de capital estrangeiro no próximo ano entre US$ 30 bilhões e US$ 32 bilhões. A MCM Consultores Associados traça um cenário semelhante. Cláudio Adilson Gonçalez, presidente da consultoria, apóia-se na estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) de redução da taxa de crescimento do PIB mundial, de 5,2% neste ano, para 4,8% em 2008. O Fundo prevê a manutenção da taxa de crescimento do PIB americano em 1,9% ao ano.

Para o Brasil, a projeção é de redução dos 4,7% esperados para este ano para 4,3% em 2008. Para a China, a taxa se reduzirá de 11,5% para 10%. Também está prevista a desaceleração do crescimento na Índia (de 8,9% para 8,4%), no Japão (de 2% para 1,7%), na Europa (de 2,5% para 1%) e nos países emergentes (de 8,1% para 7,4%). "Houve no mercado global uma redução de dependência em relação aos Estados Unidos, mas o país ainda representa 26% da economia mundial e ainda não é possível precisar o efeito da crise do subprime na economia global", afirmou Gonçalez. Ele considera, no entanto, que a velocidade do governo americano em alterar a taxa básica de juros permitirá um ajustamento da economia nos EUA, evitando um quadro recessivo mundial em 2008.

Nesse cenário de não-recessão na economia mundial, Gonçalez vê para o Brasil a possibilidade de redução na taxa de juros nominal (Selic) de 11,3% para 10,5% em 2008 e a elevação do câmbio da faixa atual de R$ 1,80 para R$ 1,90 no próximo ano. Se esse quadro se confirmar, o economista prevê redução no saldo da balança comercial de US$ 2,98 bilhões no próximo ano, para US$ 37 bilhões.

José Roberto Mendonça de Barros, sócio-presidente da MB Associados, alertou para o efeito político da desaceleração econômica no Brasil. "O problema não é o PIB crescer menos ou o saldo da balança diminuir, mas o risco de essa desaceleração fragilizar a política econômica, e o governo voltar a elevar a taxa de juros, o que reduziria crédito e provocaria um choque no crescimento", ponderou. Os economistas participaram do 5º Painel Econômico Serasa, realizado ontem, em São Paulo.