Título: Múltis latinas crescem com aquisições
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2007, Brasil, p. A5

Marisa Cauduro/Valor German Estefan, diretor presidente do Grupo Carvajal, que chegou ao Brasil em 1985: apetite pelo Brasil Uma boa parcela das multinacionais latino-americanas optou pelo caminho mais agressivo para ganhar espaço no mercado global: aquisições. Com uma entrada tardia em relação às concorrentes americanas e européias, as empresas aproveitam a valorização das moedas locais ante o dólar para ir às compras. Companhias como a Vale do Rio Doce e a Metalfrio adquiriram concorrentes em mercados desenvolvidos e em desenvolvimento. As empresas brasileiras de médio porte, no entanto, não estão livres de serem alvo.

A Metalfrio está negociando a compra da turca Klimazan. A companhia brasileira já possui uma fábrica na Turquia, mas ao invés de ampliar a unidade, optou pela aquisição. Segundo o presidente do conselho de administração, Marcelo Faria de Lima, a Turquia é o país mais competitivo para atender ao mercado europeu. A Metalfrio também foi às compras no México este ano. Com seis meses de mercado e após a compra de uma fábrica, já é a segunda maior empresa do setor de refrigeração comercial no país, com 25% de participação.

A abertura do capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) trouxe o fôlego financeiro necessário para tamanho apetite. As condições macroeconômicas também foram determinantes. "Com a mudança no câmbio, rapidamente decidimos ir para fora", disse Lima. Ele avalia que até 2004 o câmbio favorecia as exportações. A partir de 2005, com a valorização do real, tornou-se mais rentável a instalação de plataformas globais.

Na avaliação de empresários reunidos ontem, em São Paulo, no seminário "Consolidação Regional e Expansão Global das Empresas Multinacionais Latino-Americanas", realizado pela Fundação Dom Cabral, com apoio do Valor, as aquisições trazem vantagens, como entrada imediata no mercado e uma base de clientes consolidada. A desvantagem é que o investimento necessário normalmente é mais expressivo do que construir uma nova fábrica. Segundo Carlos Braga, diretor para a América Latina do ABN Amro, algumas empresas também optam por se internacionalizar, porque a diversificação de mercados é uma forma eficiente de reduzir o custo de capital.

É o caso da Companhia Vale do Rio Doce. Antes de iniciar o processo de compra de empresas no exterior, a Vale possuía 98% de seus ativos no Brasil e 80% da geração de caixa dependia de um único produto, o minério de ferro. Essas características, aliadas ao custo-Brasil, contribuíam para elevar as despesas e prejudicar o perfil da empresa. Após a aquisição da canadense Inco, a Vale terminará 2007 com 54% dos ativos no Brasil. O restante está espalhado pelo globo: 25% na América do Norte, 10% na Ásia, 10% na Austrália e 1% na Europa. O minério de ferro representa hoje 45% da geração de caixa, seguido pelo níquel com 32%, alumínio com 8%, cobre com 6% e logística com 4,6% (ainda apenas no Brasil). "A companhia mudou de uma exportadora local para uma empresa global", diz Roberto Castello Branco, diretor de relações com investidores da Vale.

Na década de 90, as multinacionais americanas e européias ganharam espaço na América Latina. Entre 1991 e 2001, a participação das estrangeiras no controle das 500 maiores empresas da região saiu de 27% para 39%. "Parecia que o empresariado local ia desaparecer", lembra Braga, do ABN Amro. Nos últimos cinco anos, o jogo virou. Em 2005, a fatia dos estrangeiros caiu para 32%, enquanto 59% estavam nas mãos de empresários locais. Com as privatizações, o

governo também assistiu sua parcela encolher de 20% em 1991 para 8% em 2005.

A América Latina participa pouco do comércio mundial, mas sua presença está crescendo. Em 2002, a região respondia por 4,1% das exportações. No ano passado, esse percentual chegou a 5,2%. Os investimentos diretos feitos por empresas latino-americanas no exterior atingiram US$ 20 bilhões em 2005.

No processo de internacionalização do subcontinente, as brasileiras podem ser caçadoras ou caça. A colombiana Carvajal cresceu no Brasil após uma série de aquisições. Desde 1985, quando chegou ao país, a companhia comprou a Cargraphics, a Caderbrás, a Listel e a Contral Centre Americas. Em 2007, foi a vez do Guia Mais e da Lund. "Como investidores estrangeiros, estamos muito otimistas com o Brasil", disse o CEO da Carvajal no país, German Estefan. Ele afirma que a companhia está utilizando o Brasil como plataforma para vender para os mercados da África e dos Emirados Árabes, que seria impossível acessar da matriz.

"A estratégia de internacionalização da empresa foi baseada em aquisições", diz Estefan. A Carvajal está presente em 18 países e possui fábricas em 9. "As aquisições estão ajudando muito no crescimento". Em 2005, a Carvajal estabeleceu o objetivo de dobrar de tamanho até 2010. Este ano, o faturamento deve ficar em US$ 1,6 bilhão. Atualmente a Carvajal obtém metade de sua receita no exterior.

Em alguns casos, atuar no exterior pode ser mais rentável do que no mercado interno. Na peruana Química Suiza, o mercado local e o equatoriano contribuem da mesma maneira para a rentabilidade, embora o Peru represente 64% das vendas, mais que o dobro dos 29% do Equador. A Venezuela, que responde por 3% das vendas, contribui com 10% da rentabilidade. Com clientes como Novartis, Abbott ou Pfizer, a multinacional peruana presta serviços de produção, logística, vendas, distribuição etc.

Para o presidente do conselho de administração da Química Suiza, Leno Mulder, a internacionalização é importante para diversificar o risco. Outro diferencial da companhia é concentrar as compras de matérias-primas em uma plataforma logística no Panamá. "Os fornecedores asiáticos não querem trabalhar com clientes pequenos", diz.