Título: Atividade deve começar em alta no 1º trimestre
Autor: Grabois, Ana Paula ; Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Brasil, p. A5

Bel Pedrosa/Valor Silvio Sales, coordenador do IBGE: índices de preços industriais estão abaixo da inflação de varejo e setores acima da média têm a ver com as commodities O elevado nível de crescimento dos investimentos na economia e a manutenção da demanda interna aquecida prometem um primeiro trimestre forte para a indústria em 2008. Embora o início do ano sempre mostre um arrefecimento do ritmo produtivo após as vendas de Natal, as apostas são de um ritmo intenso no começo do próximo ano, quando boa parte do investimentos previstos já estiver em processo de maturação. Também contribui para essa expectativa a proximidade do Carnaval, que será no começo de fevereiro.

"O primeiro trimestre deve ser muito bom. Quando o Natal é bom, como esperamos, há um bom primeiro trimestre bom. Os estoques terão que ser repostos", disse Thaís Zara, da Rosenberg & Associados. Para Thaís, os fatores que levaram ao aumento do consumo, como renda, emprego e crédito em alta, deverão continuar atuando em 2008. "No ano que vem, prevemos o efeito positivo sobre o crescimento econômico dos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principalmente na construção", ressaltou a economista.

O risco de gargalos na oferta industrial para atender ao consumo doméstico em expansão não preocupa os economistas, embora o nível de utilização da capacidade instalada do setor, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), tenha atingido recorde no mês de outubro.

Para o coordenador de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, não existe tal ameaça porque a produção de bens de capital tem liderado a alta industrial ao longo de 2007. "Há setores que tecnicamente já operam com níveis muito altos e a preocupação é se isso pode rebater em aumento de preços industriais. Os índices de preços industriais até estão abaixo da inflação de varejo e os setores que estão por cima da média são aqueles que têm muito mais a ver com impactos externos de commodities do que propriamente, até aqui, de uma incapacidade de oferta", diz o coordenador do IBGE.

Na avaliação da equipe de análises econômicas do Bradesco, o nível de utilização da capacidade instalada já deve começar a baixar na pesquisa industrial de novembro, quando também se espera um leve recuo da atividade no setor, movimento normal neste período. A redução é vista como um ajuste ao alto crescimento da produção do setor em outubro, que, entretanto, não irá comprometer a tendência de alta para 2008. "Visualizamos que o nível de uso da capacidade instalada continuará elevado, mas sem acelerar. Prevemos que ele deve se reduzir a partir do segundo semestre do ano que vem", completou a economista.

A equipe do Bradesco ressalta que desde janeiro de 2007 a produção de bens de capital cresce a taxas de dois dígitos, o que reflete um ciclo robusto e sustentável dos investimentos no Brasil e que deve continuar no ano que vem. O Bradesco destaca que as sondagens empresariais mostram apetite das indústrias para investir não somente devido à expectativa de manutenção da demanda doméstica, mas também pelo câmbio valorizado, que barateia importações de máquinas e equipamentos. Além disso, prevê o Bradesco, haverá renovação de estoques no início do ano porque a demanda está forte, como mostram as sondagens.

Para Marcela Pardo, da consultoria Tendências, a perspectiva é de continuidade da trajetória expansiva da indústria, mesmo se o Banco Central parar de cortar os juros por mais tempo. "A demanda deve continuar forte e os investimentos também. Como os investimentos devem ser maturados em 2008, o cenário é de que o nível de utilização da capacidade instalada pare de subir."(* Do Valor Online)