Título: Ciro ataca governadores por resistência do PSDB
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Fonte: Valor Econômico, 07/12/2007, Política, p. A8

O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) saiu ontem para o ataque a governadores do PSDB a pretexto de defender a prorrogação da CPMF. Ciro acusou os governadores tucanos de quererem constranger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ficar sem a contribuição. O deputado também os acusou de faltarem com sinceridade na negociação com o governo.

O presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE) que reuniu-se ontem com o governador tucano de Minas Gerais, Aécio Neves, em Belo Horizonte, disse que o tom usado por Ciro não é o mesmo que tem observado no governo. "Não é assim que o governo tem tentado encaminhar conosco a questão. Ao contrário, o governo tem procurado uma condução lógica, tranqüila e segura com o PSDB. Fizeram uma proposta insuficiente, mas têm sido absolutamente construtivos no esforço de chegar perto da gente, negociar a questão nos termos que eles entendem que possa ser considerado por nós", disse Guerra.

Aécio reiterou a independência da bancada tucana no Senado para deliberar sobre a questão. "Qualquer possibilidade de rediscutir o problema, dependeria de uma ação efetiva e clara do governo, mas é o Senado, em última instância, quem decidirá", disse.

Em Brasília, depois de esvaziar o quórum da sessão de ontem e anunciar que precisa votar a CPMF na próxima terça para garantir todos os prazos regimentais de tramitação da emenda que prorroga o imposto do cheque, o governo segue inseguro quanto à possibilidade de vitória.

Um dos principais artífices das negociações - que evita imaginar a "ressaca" de uma eventual derrota - admite que as coisas não estão fáceis. "Da forma como governo e oposição estão, não há o que fazer a não ser esperar que o inesperado faça um surpresa", torce um graduado governista. Entre o primeiro e o segundo turnos é preciso haver um prazo de oito dias úteis: cinco de interstício e três de discussão no plenário.

Na ponta do lápis o governo só tem 47 votos a favor da prorrogação do imposto. O líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RR), calcula que o governo terá 51 votos favoráveis. Mas precisa correr. "Temos que conquistar um voto por dia", diz. Na quarta, o governo comemorou a conquista do voto do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ao lado dos outros dois senadores gaúchos, o pemedebista expôs ao presidente Lula a penúria vivida pelo seu Estado, culpa de gestões desastrosas sucessivas.

Simon ouviu de Lula que "o problema era tão grave que era fundamental a união de todos". Imediatamente o presidente escalou a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para compor um grupo ministerial responsável por analisar a situação do Rio Grande do Sul.

Na próxima semana, Dilma deve ir a Porto Alegre, encontrar-se com a governadora Yeda Crusius - que também esteve com Lula na quarta. A intenção da ministra é encontrar-se não apenas com a tucana, mas com empresários locais, em busca de investimentos. "Não podemos colocar a responsabilidade do reerguimento do Rio Grande Sul exclusivamente nas costas da União", ponderou um parlamentar gaúcho.

Neste final de semana, todos os principais articuladores do governo ficarão de plantão em Brasília. Os governistas redobram os esforços e, escaldados pelos fracasso no diálogo com o PSDB, não ouçam sequer mencionar quais são os Democratas e Tucanos que estão sendo procurados para dialogar. "Não podemos contar com um capital que não é nosso. Por enquanto, trabalhamos no nosso campo, para juntar os nossos", assegurou um governista próximo ao presidente Lula.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), acha impossível que o governo arranque votos nas hostes oposicionistas: "Com relação à minha bancada, estou tranqüilo. Podem marcar a votação até para 31 de dezembro de 2008, que não levarão nenhum voto tucano. É fantasia o governo contar com voto no PSDB para prorrogar o imposto".

O Planalto continua mostrando os números aos senadores. Durante a reunião com a bancada gaúcha, na quarta, foi apontado que, só no Rio Grande do Sul, 600 mil famílias recebem o Bolsa-Família. Um articulador político da CPMF lamenta que a questão tenha sido partidarizada, politizada. "O Senado representa o Estado, a instituição. Até entendo se algum senador fosse contra a prorrogação da CPMF porque o governador era contra. Mas governadores do PP ao PSDB são favoráveis. As pessoas pegaram birra com a música por causa do cantor", comparou. "Mas na hora da votação, a consciência prevalecerá", espera um governista. (PTL e RU, com agências noticiosas)