Título: Apesar do petróleo, dívida dispara
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2007, Internacional, p. A10

A dívida externa venezuelana subiu 30% em um ano, apesar da escalada dos preços do petróleo, maior produto de exportação do país. De outubro de 2006 a setembro de 2007, segundo as últimas estatísticas divulgadas pelo Banco Central da Venezuela (BCV), o endividamento aumentou de US$ 26,9 bilhões para US$ 35,2 bilhões. Grande parte se deve a empréstimos de US$ 7 bilhões contraídos neste ano pela PDVSA, a estatal do petróleo.

A dúvida dos economistas é se a empresa usará esses recursos para investir no crescimento da produção ou acabará financiando os programas sociais do presidente Hugo Chávez.

"Há pouca transparência nos gastos da PDVSA", afirma o diretor da consultoria Ecoanalítica, Asdrúbal Oliveros.

A estatal tem um plano, chamado "Semente Petroleira", pelo qual prevê elevar sua produção a 5,8 milhões de barris diários em 2012. O problema é quanto às cifras atuais. A PDVSA garante produzir 3,1 milhões de barris por dia, mas a Agência Internacional de Energia (AIE) e analistas de mercado dizem que são 2,4 milhões.

Com o aumento da inflação desde o ano passado, o governo reduziu, de 14% para 9%, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de todos os produtos.

Com isso, Caracas tinha a expectativa de baixar os preços e manter o crescimento da economia venezuelana, que deve superar 9% neste ano.

Em contrapartida, a medida diminui a arrecadação e limita a possibilidade de o governo expandir os gastos.

Para 2008, o economista Domingo Maza Zavala acredita que o país crescerá pelo menos 5%, tendo os gastos públicos como carro-chefe.

"Não obstante a bonança extraordinária da arrecadação fiscal", diz Zavala, ex-diretor do BCV no governo de Chávez, "essa propensão a gastar exigirá uma vez mais recorrer ao endividamento". Zavala também não descarta que haja um aumento da carga tributária.

Em novembro, a inflação em Caracas subiu 4,4%. Analistas trabalham com um índice acumulado de 20% para todo o ano de 2007 -- nos 11 primeiros meses, foram 18,6%, quatro pontos percentuais acima do verificado em igual período de 2006.

A alta de preços tem afetado principalmente os mais a população de baixa renda, onde a aprovação ao governo do presidente Chávez é maior. Os alimentos já aumentaram 23% desde janeiro. A cesta básica subiu 27%.

Diante de tantas pressões econômicas, Oliveros, da consultoria Ecoanalítica, espera uma desvalorização de aproximadamente 30% do câmbio oficial. Mas isso, na sua opinião, aconteceria somente no início de 2009.

Para ele, o governo tem recursos suficientes para segurar a taxa até aquele período.

A recomendação que ele faz às empresas, porém, é de que incrementem seus ativos indexados de alguma forma ao dólar.

A tendência geral da economia, de acordo com Oliveros, é de desaceleração até 2010, associado ao aumento da inflação. (DN)