Título: Lula descarta reenvio da CPMF
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2007, Politica, p. A13

Jorge Araújo / Folha Imagem Lula: presidente não admite que o superávit primário seja reduzido para compensar a derrota na emenda que derrota a contribuição Antes de embarcar para a Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou duas decisões importantes aos ministros da Fazenda, Planejamento e Casa Civil: não enviará uma nova proposta de emenda constitucional para tentar recriar a CPMF, extinta por votação no Senado, na madrugada de ontem, a partir do dia 1º de janeiro; e não aceitará como medida compensatória ao fim da CPMF a redução do superávit primário, cuja meta é de 3,8% do PIB. Após a sua maior derrota política no Congresso, o governo rendeu-se à evidência de que sua maioria no Senado é insuficiente para aprovar matérias que requeiram quorum qualificado.

Apesar de adotar o discurso de que a oposição terá de dar explicações ao eleitorado por ter apostado no "quanto pior, melhor", ministros palacianos reconheceram que é preciso repensar a relação com alguns aliados. "Temos de conversar com companheiros que minimizaram a importância de seus votos. Se temos uma base maior do que o número de votos que precisávamos, podemos dizer que perdemos para nós mesmos", avaliou o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro.

Múcio afirmou que o Planalto não pensa em retaliações aos infiéis, mas adianta a importância de saber "quem deseja ajudar na construção de um país melhor e quem não deseja". Apesar de não ter sido discutido explicitamente nas primeiras avaliações políticas, setores do governo acham difícil que se cumpram alguns acordos pré-votação da CPMF, como a possibilidade de retirar os recursos da Educação da DRU, firmado com o PDT em troca de votos favoráveis à CPMF.

Um ministro do núcleo duro do governo admitiu que a derrota da CPMF praticamente sepulta a possibilidade de o governo encaminhar ao Congresso propostas de emenda constitucional, já que isso significaria novo embate em busca de votos inexistentes. E a reforma tributária? "Reforma tributária é algo muito complexo, precisa de acordo com governadores, prefeitos, Estados produtores e consumidores. Só se tiver um consenso muito grande ela tem condições de prosperar", admitiu o ministro. Até hoje não teve, por isso a descrença quando o governo colocava a reforma tributária na mesa de negociações.

Sem votos confiáveis entre os aliados, o governo se viu obrigado a negociar com a oposição. Segundo assessores governistas, em uma das primeiras reuniões do Conselho Político para tratar da tramitação da CPMF no Senado, os aliados mapearam os votos e constataram a necessidade de negociar com a oposição. Só que a estratégia de chamar os tucanos para um almoço, às claras, com fotos e depoimentos na saída, fracassou. O Planalto se viu obrigado, então, a retomar as conversas com os aliados, cobrando unidade. "A oposição conversou com o governo só para fazer firula, a ordem deles era parar o Lula", avaliou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

"Aí alguém questionou porque tinham conversado primeiro com o PSDB e não com os aliados. Isso foi uma decisão do Conselho Político", disse um assessor. Era tarde. Começaram as pressões políticas de aliados querendo aumentar a fatura do voto. "O governo perdeu porque não deu certas coisas que alguns aliados pediam. Basta ver as fotinhos de quem era nosso e votou contra para saber de quem estamos falando", provocou um ministro.

No Planalto, criticou-se muito, ontem, a oposição. Lula já havia reverberado os ataques dos governistas ao DEM, acusando a legenda de "não ter possibilidade de poder e, por isso, apostar no quanto pior, melhor". Agora, a fúria voltou-se para uma parcela do PSDB, classificada por um ministro como um grupo "raivoso, prisioneiro de um discurso derrotado em 2006 e que, daqui para frente, terá de decidir o que fará de si próprio". Múcio complementou: "Os vitoriosos de ontem à noite (quarta-feira de madrugada) não foram aqueles que pensam nas futuras gerações, mas, apenas, nas próximas eleições".