Título: Pujante este ano, PIB do campo subirá pelo menos 3% em 2008
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2007, Agronegocios, p. B15

A soma das riquezas do campo brasileiro deve crescer ao menos 3% em 2008, estimou ontem (dia 13) a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). Embalado pelo horizonte de preços em alta, produção interna recorde e demanda internacional em franca expansão, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve atingir um crescimento de 5,52% em 2007, segundo pesquisa da CNA e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea). Neste ano, o setor deve bater o recorde histórico de R$ 569,9 bilhões.

De janeiro a setembro, sustentado pela expansão do segmento primário, o PIB do agronegócio havia crescido 4,41% e somado R$ 563,88 bilhões. "O desempenho macro do setor foi muito bem neste ano", afirma o superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta. "Mas o câmbio desfavorável, a degradação da infra-estrutura e o aumento dos custos de produção, que não são captados nesses números, não permitiram uma retomada da rentabilidade do produtor nem uma solução dos passivos do setor".

O faturamento bruto da agropecuária em 2007 cresceu 14%, segundo estimativa da CNA. No total, os 25 principais produtos do setor devem faturar R$ 205,44 bilhões. A agricultura foi melhor do que a pecuária neste ano, mas os especialistas da entidade projetam uma retomada nas atividades pecuárias no próximo ano.

No cenário para 2008, a CNA projeta uma consolidação na tendência de elevação do consumo mundial de alimentos em razão do crescimento econômico global e da expansão da renda das famílias, além do uso crescente de matérias-primas agrícolas para a produção de biocombustíveis. Os preços, segundo a avaliação da CNA, devem continuar em aceleração e a produção interna seguirá em elevação, o que deve gerar mais excedentes exportáveis no agronegócio. "O Brasil deve continuar a aumentar sua fatia nas exportações de produtos agrícolas", prevê o especialista em comércio exterior da CNA, Antonio Donizeti Beraldo.

Para o segmento de grãos, que experimentou uma retomada na rentabilidade na safra 2006/07, a CNA traça um horizonte bastante favorável aos produtores. O início da nova colheita, que começa a ser feita entre janeiro e fevereiro, deve ser marcado por preços superiores aos registrados na safra anterior. "E tem espaço para novas altas", diz a economista Rosemeire dos Santos. Nos EUA, deve haver uma queda nos estoques finais e na safra de soja, de novo afetada pela expansão do milho para produção de etanol. Mas a ferrugem asiática e o clima podem afetar o desempenho das lavouras no Brasil.

Pela primeira vez em quatro anos, a pecuária de corte fechará com ganhos de rentabilidade em razão da elevação nos preços do boi gordo. E, com demanda internacional em alta, o setor deve experimentar mais um ano de bom desempenho, avalia o especialista Paulo Mustefaga. O Brasil deve continuar na liderança das exportações mundiais de carne bovina, bem à frente de Austrália, Nova Zelândia, Uruguai e Argentina, que enfrentam restrições climáticas e políticas para seu crescimento.

No caso da pecuária de leite, cujo preço registrado em setembro foi o maior dos últimos 14 anos, a produção nacional deve crescer 3% sobre os 27 bilhões de litros de 2007. O recuo nos subsídios da União Européia, a queda de produção na Oceania e a entrada da China no jogo do consumo de produtos lácteos deve impulsionar as vendas externas brasileiras. Os preços internacionais devem se manter em US$ 4 mil por tonelada de leite em pó desnatado. E o consumo interno também deve aumentar em 2,5%, prevê a CNA.

Os passivos ambientais que assolam o setor no país devem continuar a perturbar o crescimento de algumas lavouras. Questões como a realização de um zoneamento ecológico-econômico para a cana-de-açúcar e a reformulação do Código Florestal são imprescindíveis para resolver as pendências ambientais. O pagamento pela manutenção das florestas e a cobrança pelo uso da água também são problemas que carecem de atenção redobrada dos produtores e do governo, afirmou Ricardo Cotta.

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