Título: Unipar traça plano de investimento de US$ 2 bi para a CPS
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Fonte: Valor Econômico, 07/12/2007, Empresas, p. B6

Frank Geyer, acionista da Unipar: "Com a criação da CPS, a Unipar duplicou seu patrimônio. Assim, todos vão ganhar" A consolidação da petroquímica brasileira, completada na semana passada com a formação de dois grandes grupos, revelou um novo personagem. Frank Geyer Albukakir, 35 anos, teve um papel relevante no grupo Unipar, ao assumir a linha de frente das negociações que levou o grupo a criar, com a Petrobras, a segunda maior petroquímica do país, avaliada em mais de R$ 8,5 bilhões.

Neto de Paulo Geyer - um dos fundadores do grupo junto com seu sogro há mais de 60 anos -, Frank é hoje o sucessor de fato de seu avô no comando do grupo petroquímico sediado no Rio. Audácia parece não faltar ao jovem empresário, que disputou com o grupo Suzano, da família Feffer, a primazia de liderar a formação da segunda companhia do setor, depois da Braskem, do grupo Odebrecht. Não aceitou as regras do concorrente para uma fusão, propôs sua compra, que foi refutada, mas acabou levando vantagem na disputa quando a Suzano jogou a toalha e vendeu seus ativos à Petrobras.

Essa fase, agora é passado, afirma Frank, após uma estafante maratona de reuniões e negociações nos últimos três meses. O momento é de pensar no futuro, nos novos passos a serem dados pela companhia, provisoriamente ainda chamada de Companhia Petroquímica do Sudeste (CPS). Em menos de um ano, finalizadas todas as operações de incorporação e consolidação dos vários ativos, ele acredita que a CPS terá um perfil financeiro adequado com a maturação dos seus planos de expansão. "Nosso endividamento é menor que o da Braskem, quando criada em 2002", afirmou.

O primeiro passo para crescer é na construção do Comperj, complexo petroquímico que a Petrobras tem plano de montar no Rio para refinar petróleo pesado. A CPS é a primeira candidata a participar no investimento de fabricação de resinas plásticas. "Estimamos que aí vamos investir pelo menos US$ 1 bilhão em unidades de polietileno e polipropileno", informou o empresário.

"Até anteontem, esse era o principal projeto, mas com a redução pelo governo de São Paulo da alíquota de ICMS para compras de insumos, de 18% para 12%, dando mais condições de competição em relação ao pólo do Nordeste, podemos voltar a falar na ampliação do pólo de São Paulo, adicionando mais 500 mil toneladas na PQU", afirmou. Com isso, o pólo paulista da CPS passaria de 700 mil toneladas, que vai chegar em 2008, para 1,2 milhão de toneladas anuais.

Segundo Frank, esta expansão era já cogitada e que envolve investimento de US$ 500 milhões. "Não concorre com Comperj; seria algo intermediário. Ao crescer na PQU, certamente cresceríamos na segunda-geração, com polipropileno e polietileno". Diz que só precisa garantir a matéria-prima, fato que fica mais confortável com a descoberta do campo de Tupi na bacia de Santos pela Petrobras, fornecedora da nafta oriunda de suas refinarias. "Há espaço, tem água, tem legislação que permite expansão, teremos dinheiro, pode acreditar", afirmou. "Espero que todos esses factóides criados pelo modelo tripartite agora caiam por terra e desapareçam de vez".

Em cinco a seis anos, os investimentos no Comperj, no pólo paulista e mais a primeira ampliação da Riopol, de US$ 250 milhões, para 700 mil toneladas de polietileno, deverão somar US$ 2 bilhões.

Frank, que não considera a hipótese de ser o presidente do conselho da nova companhia - seu candidato é Roberto Garcia, presidente da Unipar -, lembra ainda que há US$ 1,5 bilhão de recursos sendo aplicados nas empresas que formam a CPS. Com esse pacote, que estará concluído até o fim de 2008, o faturamento da empresa salta de R$ 8 bilhões para R$ 10 bilhões em 2009/2010.

"Nossa perspectiva é saltar para R$ 15 bilhões com os novos projetos por volta de 2012", afirmou o empresário. Ele conta que a internacionalização, seguindo o modelo da Braskem, também está nos planos da nova companhia. "Vamos começar pela América do Sul, pois vemos oportunidades em vários países, como Argentina, Colômbia e Peru".

A seu ver, o grande mercado capaz de suportar esse crescimento ainda é o brasileiro, concentrado na região Sudeste e com expansão pelo país. "Mas como vamos ter matéria-prima abundante, suportada pelo campo de Tupi e pelo Comperj, teremos condições de avançar para o mercado externo", disse.

O sucesso da criação da CPS poderá por fim as disputas familiares dentro do clã Geyer. O casal Paulo Geyer e Maria Cecília Soares Sampaio Geyer tiveram cinco filhos: Alberto, Joanita, Vera, Cecília e Maria. Com a morte há pouco mais de três anos do patriarca da família, começou a disputa sucessória pelo poder no grupo dentro da holding familiar controladora chamada Vila Velha. Coube ao único herdeiro do sexo masculino, Alberto, hoje com 50 anos, assumir a presidência do conselho da Unipar.

Na ocasião, por razões de saúde, Cecília, viúva de Bayard Albukacir, passou a ser representada pelo filho Frank na Vila Velha. Este, bem sucedido na condução da corretora Securitas, cujo comando ganhou do avô, passou a ganhar força na guerra familiar pelo comando do grupo e com apoio das tias Maria e Vera tornou-se um rival do tio na guerra pela direção da Unipar.

Além de dirigir a Securitas, Frank passou a ser também vice-presidente no conselho. Hoje, ao enfrentar e vencer o desafio de levar o grupo a ser sócio majoritário na CPS, junto com a Petrobras, Frank é reconhecido como o vencedor da batalha sucessória, tão comum nas empresas familiares. Tranqüilo, ele evita falar no assunto e acredita que não há mais espaço para quedas-de-braço. "Com a CPS, a Unipar duplicou seu patrimônio e todos vão ganhar".