Título: Brasil atinge a produção de 3 milhões de carros por ano
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2007, Empresas, p. B9

A indústria automobilística brasileira chegou ao patamar da produção anual de 3 milhões de veículos. O volume deixa o setor distante apenas 15% da atual capacidade de produção instalada e muito próximo de subir da oitava para a sétima posição entre os maiores fabricantes de veículos do mundo.

Depois de um ano de recordes sucessivos e uma explosão no mercado interno, puxada pelo crédito, as montadoras terminam 2007 sem motivos para se queixar sequer da variação cambial. As estatísticas mostram que o crescimento das receitas com as vendas externas tem sido proporcional à valorização do real.

O valor médio unitário dos veículos vendidos a outros países no acumulado deste ano subiu 14% enquanto que o dólar comercial caiu 16,6% no mesmo período, segundo cálculos do Valor Data.

As montadoras estão ganhando mais dinheiro mesmo com a queda nos volumes exportados porque conseguiram repassar aos mercados da América Latina, igualmente aquecidos, os aumentos de custos em reais. Outra estratégia usada por boa parte dos fabricantes foi adicionar valor a cada veículos vendido na tentativa de disputar mercados com fábricas de outros países.

Para o país alcançar a marca de 3 milhões este ano a produção de dezembro precisa chegar a 252,8 mil veículos. Volume praticamente igual ao de setembro e até inferior ao dos dois últimos meses, quando saíram das linhas de montagem 297,8 mil e 267,5 mil unidades, respectivamente.

Cautelosa, a entidade que representa as montadoras, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não assume que a marca de 3 milhões pode ser atingida. Preferiu ontem, ao divulgar previsões, apostar num número ligeiramente menor: 2,975 milhões. A diferença de 25 mil unidades equivale a menos de dois dias de produção no ritmo de hoje.

Mesmo que Brasil não chegue a atingir a marca de 3 milhões de veículos este ano, a produção atual anualizada já passou disso. Segundo o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, um cálculo da média diária atual indica uma produção anual de 3,430 mil unidades.

Há menos de um ano aproximadamente 10 mil veículos deixavam as linhas de montagem brasileiras todos os dias. A média diária subiu para mais de 13 mil nas últimas semanas.

Em parte das fábricas de veículos e de autopeças as tradicionais férias coletivas foram suspensas. Empresas como a Volkswagen estão fazendo hora extra aos sábados e há vagas novas em quase toda a indústria. Somente nos 30 últimos dias foram abertos mais 1,015 mil postos. Hoje as montadoras empregam 119,6 mil profissionais, 12% mais do que um ano atrás.

A adequação do parque de fornecedores ao aumento do ritmo ainda preocupa muito a indústria, embora seus dirigentes não se queixem de nenhum setor específico. Ao ser questionado ontem sobre eventuais gargalos na cadeia de suprimento, Schneider evitou apontar segmentos específicos. Limitou-se a dizer que os fornecedores estão investindo em ampliações e que diante de um ritmo de crescimento como o de hoje "nem tudo acontece ao mesmo tempo".

Depois de produzir em 2007 14% mais do que em 2006, a indústria automobilística já se prepara para mais crescimento. A Anfavea anunciou ontem a expectativa de expandir a produção em mais 8,9% em 2008, num total de 3,240 milhões de unidades.

Somando a parte que as montadoras pretendem destinar ao mercado brasileiro - 2,5 milhões de unidades - com os cerca de 380 mil que devem ser importados, as vendas no mercado nacional podem chegar, em 2008, a um crescimento de 17,5%, num total de 2,880 milhões de veículos. As vendas internas de 2007 mostraram um fôlego muito maior do que todos no setor previam, alcançando um crescimento de 27% sobre o total de 2006. Isso equivale à venda de 2,450 milhões de unidades, segundo previsões da entidade,

Já o volume das exportações cairá 7,5% este ano e mais 5,1% em 2008, segundo as projeções da Anfavea, reduzindo a quantidade de veículos brasileiros vendidos em outros países de 843 mil unidades em 2006 para uma expectativa de 740 mil, em 2008. Mas essa retração não trouxe prejuízos à receita, que crescerá este ano 7,4% , num total de US$ 13 bilhões. Mas mesmo prevendo que os volumes de exportação vão cair ainda mais em 2008, a Anfavea calcula repetir no próximo ano a receita de US$ 13 bilhões que deverá obter em 2007.