Título: Margem cresce em 2007 com escala e ganhos de eficiência
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2007, Brasil, p. A3

A combinação de aumento de produtividade, ganho de escala e redução de despesas financeiras (por conta do real valorizado em relação ao dólar e juros mais baixos) garantiu às indústrias de capital aberto uma melhora nas suas margens de lucro até setembro.

Um estudo elaborado pela Economática com base nos balanços divulgados por 250 empresas listadas na Bovespa revela que a margem líquida média das companhias aumentou 38,9% nos nove primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo intervalo do ano passado. A margem operacional (que revela a eficiência da empresa antes do pagamento dos impostos) também subiu e passou de 16,5% para 17,9% na mesma comparação. Esses ganhos foram obtidos com aumentos pouco expressivos nos preços da maioria dos setores. Até setembro, o Índice de Preços Industriais no Atacado (IPA-Industrial) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) subiu 2,55% - e 3,38% até novembro.

A margem líquida média ficou em 10,7%, ante 7,7% em 2006. O cálculo mostra a relação entre o lucro líquido e a receita líquida do período. A amostra não incluiu as empresas financeiras, grupos que abriram o capital neste ano, nem Petrobras, Eletrobras e Vale, que têm peso considerável nos setores em que atuam.

"Muitos dos custos são fixos e, a partir de um nível de crescimento, o lucro cresce mais que a receita", afirma o presidente da Economática, Fernando Exel. Pelo estudo, a receita líquida das empresas aumentou 7,9%, para R$ 379 bilhões, e o lucro líquido cresceu 49,4%, para R$ 40,5 bilhões. De 16 setores avaliados, 13 tiveram aumento de margem. Os incrementos mais significativos foram obtidos pelas indústrias químicas (64,99%), transportes e serviços (31,58%), telecomunicações (21,19%), energia elétrica (21,18%), veículos e peças (20,24%). Houve queda apenas nas áreas têxtil (55,16%), comércio (4,41%) e construção (2,89%).

"Estamos assistindo a um fenômeno muito conhecido na economia que é o aumento de vendas e de produção sobre a eficiência econômica, com aumento da produtividade e redução de custos", define o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida. Ele pondera que os ganhos de margem mais significativos ocorreram em setores nos quais também houve crescimento da produtividade (ver reportagem acima), se for levada em consideração a relação entre horas pagas pelas indústrias e a sua produção. "Quando a indústria produz mais, ela consegue mitigar custos fixos, de amortização, de investimento."

Já a Rosenberg & Associados identificou ganhos de margem um pouco menores pelas indústrias. Em seu cálculo, que leva em consideração a diferença entre os preços médios dos insumos e os preços dos bens industrializados, as indústrias de transformação registram um aumento da margem de 1,44% no acumulado de janeiro a outubro, em comparação com igual intervalo de 2006.

"O incremento nos preços de insumos industriais comprimiu as margens de alguns setores, que não puderam repassar esses valores para os consumidores em função da concorrência com produtos importados", avalia Thaís Zara, economista da Rosenberg.

Outro fator a ser considerado é a valorização do real em relação ao dólar ao longo do ano, que limitou os ganhos em reais do setor exportador, ainda que os preços internacionais tenham se valorizado.

Esse efeito foi sentido, por exemplo, no setor de siderurgia e metalurgia, que registrou uma melhora na margem de 1,14% em relação ao ano passado, bem abaixo da média das indústrias, pelo levantamento da Economática. O mesmo ocorreu no setor de papel e celulose, que teve redução de 5,97% na margem de lucro, para 22,32%, e no já citado setor têxtil, cuja margem recuou de 3,76% em 2006 para 1,69% neste ano.

Dentre os segmentos analisados, o único que, na avaliação dos economistas, incrementou sua lucratividade via valorização de preços foi o alimentício. O setor teve queda na produtividade de 0,7% de janeiro a outubro. Até setembro, o setor registrava um incremento de 8,99% na margem de lucro, para 18,18%, segundo a Economática. Nos preços industriais no atacado calculados pela FGV, o setor alimentício foi um dos que mais contribuíram para a inflação no ano. De janeiro a novembro, os alimentos subiram 8,05%.

No cálculo da Rosenberg que apenas avalia preços, o setor é o que registra maior ganho de margem no ano, de 6,64%. "Esse resultado das margens é explicado principalmente por um movimento internacional de aumento nos alimentos e nas commodities agrícolas. Na verdade, o efeito da inflação no mercado interno é pequeno se comparado com as variações no exterior".