Título: Produtividade na indústria acelera e tem avanço de 4,2%
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2007, Brasil, p. A3

A produtividade na indústria de transformação se acelerou neste ano. De janeiro a outubro, ela cresceu 4,2% em relação ao mesmo período de 2006. Nos dois anos anteriores, a expansão tinha sido bem mais modesta: 2,1% em 2005 e 2,5% em 2006. Outra boa notícia é que o salto da produtividade neste ano manteve a tendência de elevação simultânea de produção e do emprego, combinação que vigora desde 2004. Segundo analistas, a alta forte do investimento desde o ano passado é uma das principais responsáveis pelo aumento de eficiência da indústria de transformação. A expectativa é de que a produtividade siga em expansão firme no próximo ano, num cenário em que a economia deve continuar a crescer com força, estimulando o investimento.

De janeiro a outubro, a produção física da indústria de transformação cresceu 5,9%, enquanto o número de horas pagas aos trabalhadores aumentou 1,6%, resultando na alta de 4,2% da produtividade. Para o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, parte do crescimento da produtividade se deve à expansão de investimentos realizados desde o ano passado. Segundo as suas estimativas, o investimento costuma levar de 10 a 14 meses para maturar completamente. Em 2006, a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) cresceu 10% e deve crescer mais 13,2% neste ano, estima Borges.

A tecnologia mais avançada trazida pelo investimento em bens de capital tende a contribuir para o aumento de produtividade. "A empresa ganha eficiência com a troca de maquinários, por exemplo. Com o passar do tempo, o ganho de produtividade tende a ser maior", diz Paulo Mol, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Essa evolução positiva da produtividade só está começando. Em 2008 deve vir mais, uma vez que ainda há investimentos em fase de maturação", diz Mol, referindo-se ao tempo necessário para a maturação desses projetos.

Borges, por sua vez, diz que "produtividade costuma ser pró-cíclica: se a economia e o investimento continuarem a crescer com força no ano que vem, ela deve seguir em alta forte".

Mesmo com a aceleração da produtividade neste ano, o crescimento é menor do que o de 2004, quando o incremento foi de 6,2%. Para Borges, isso se explica porque, em 2003, o desempenho da produtividade tinha sido ruim (expansão de 0,9%, com aumento de 0,1% da produção e queda de 1% nas horas pagas), ou seja, ela se deu em cima de uma base de comparação muito fraca.

O economista Aloísio Campelo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca o impacto da concorrência dos importados, proporcionada pela taxa de câmbio valorizada, com um fator de elevação dos investimentos das empresas. "Esse investimento realizado em busca de competitividade sinaliza uma confiança dos empresários de que a economia vai continuar crescendo", diz Campelo. No terceiro trimestre, o consumo interno de máquinas e equipamentos cresceu 24,6% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo cálculos da Rosenberg & Associados.

O coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sílvio Sales, aproveita para ressaltar um aspecto positivo do atual ciclo de investimento: é mais difuso. Neste ano, a produção de bens de capital avança a um ritmo robusto em todos os subsetores. "O crescimento está mais espalhado. Há um equilíbrio macroeconômico maior."

Sales lembra, porém, que a evolução da produtividade não é uniforme em todos os setores da economia. Os que mostraram melhor desempenho foram os de máquinas e equipamentos e de fabricação de meios de transporte. No primeiro caso, a produtividade cresceu 11% de janeiro a outubro, refletindo um aumento de 17,6% na produção e de 5,9% nas horas pagas aos trabalhadores. Para Borges, esse salto de eficiência se deve ao aumento da competição a que o setor de bens de capital tem sido submetido, num cenário de câmbio fortemente valorizado.

O setor de fabricação de meios de transporte, que inclui o automobilístico, viu a sua produtividade aumentar 7,3%, com alta de 14,7% na produção e de 6,9% nas horas pagas. Para Borges, o alto uso da capacidade instalada no segmento, em um momento de demanda aquecida, levou as montadoras a buscar ganhos de eficiência.

Há segmentos, contudo, em que a alta da produtividade foi menos virtuosa. É o caso do setor de vestuário, em que os ganhos de eficiência atingiram 10,2%, mas foram obtidos pela combinação de alta de 4,6% da produção e corte de 5% nas horas pagas. É uma situação que vai na contramão da tendência geral, de alta da produtividade com aumento de empregos.

O setor de calçados e couro teve um desempenho ainda menos saudável. A produção caiu 1,9% de janeiro e outubro, enquanto o número de horas pagas recuou 9% no período, garantindo uma elevação da produtividade de 7,9%. Segundo Borges, o setor de calçados é um dos que enfrentam fechamento de fábricas e perdas de emprego por conta dos problemas causados pelo câmbio valorizado. "Nesse cenário, sobram as empresas mais eficientes", afirma ele.

Na outra ponta, aparece o setor de coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool, que teve uma queda de 8,2% na produtividade. O recuo ocorreu porque a produção cresceu 2,4%, mas o número de horas pagas teve alta de 11,6%. Mol lembra, porém, que são atividades pouco intensivas em mão-de-obra. "Nesse caso, o crescimento do número de horas pagas é grande pois acontece sobre uma base baixa."

Borges ressalta ainda outro fato importante: a produtividade cresce acima da evolução dos salários reais. Segundo ele, de janeiro a outubro, a evolução da folha de pagamento da indústria por horas pagas cresceu 3,5% acima da inflação. Com isso, o custo unitário do trabalho (CUT) teve queda de 0,7% no período. "Isso indica que os custos com a mão-de-obra não estão pressionando a inflação."