Título: Petrobras vai aumentar produção de gás na Bolívia
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Brasil, p. A6

Os planos de investimento negociados pela Petrobras com o governo da Bolívia poderão aumentar a produção de gás em um volume entre 4 milhões a 6 milhões de metros cúbicos diários, segundo informou ao Valor o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Esse volume equivale a até 20% do que é fornecido hoje pela Bolívia ao Brasil e ainda depende do resultado das conversas sobre as garantias do governo boliviano aos futuros investimentos, ressalvou Garcia.

O anúncio dos investimentos da Petrobras é um dos pontos da agenda "positiva" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende levar ao país na viagem que adiou para o dia 17, devido às negociações sobre a CPMF com o Congresso no Brasil.

O governo brasileiro quer também fixar com o presidente da Bolívia, Evo Morales, regras de garantias para empréstimos em condições favorecidas destinados ao financiamento da infra-estrutura do país. Entre os mecanismos estudados está o uso do gás fornecido ao Brasil como garantia (assim como o petróleo é usado em contratos com a Venezuela).

"Precisamos garantir que a oferta se mantenha e se amplie. A Bolívia está assumindo compromissos com outros países e tem interesse em expandir a produção", comentou Garcia. A discussão sobre garantias para empréstimos e investimentos na Bolívia inclui mecanismos tradicionais, como o Convênio de Crédito Recíproco (CCR, espécie de câmara de compensação monetária entre países) e vem correndo de maneira "tranqüila", garante ele. "Eles têm claro, absolutamente claro que é fundamental que haja garantias plenas."

O governo brasileiro, que também deve tratar da entrega de tratores para agricultura familiar da Bolívia, está disposto a conceder prazos, carências e juros favorecidos, informou Garcia. "Nossos juros não eram bons", comentou. Entre as obras com possibilidades de financiamento pelo Brasil está um projeto conhecido como Hacia el Norte, que permitiria uma ligação viária da Bolívia à rodovia peruana conhecida como Transoceânica, um projeto conjunto com o Brasil. "Terá impacto grande, vai revitalizar regiões da Bolívia, que estão apoiando ou não o governo", diz Garcia, para quem o apoio do governo brasileiro não deve ser comprometido pelas disputas políticas internas da Bolívia.

"Tem havido boa receptividade dos bolivianos, teríamos condições de entrar e favorecer muito a infra-estrutura do país", comentou. Para Garcia, as instituições bolivianas não permitirão que se concretizem as ameaças de separatismo no país, entre o Oriente, mais rico e com grandes reservas de gás, e o Centro e o Ocidente, onde estão as bases do governo.

Lula, ontem, deu mais um passo na aproximação com países da América Central para projetos conjuntos na área de biocombustíveis, ao receber o presidente de El Salvador, Antônio Saca, com quem assinou acordos de cooperação em etanol e biodiesel. Ao oferecer um almoço ao salvadorenho, no Palácio do Itamaraty, Lula chegou a anunciar que espera, no ano que vem, firmar um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Sica, o mercado comum formado pelos países centro-americanos e presidido em 2008 por El Salvador. O comércio entre Brasil e El Salvador é pouco superior a US$ 300 milhões e não foi iniciada ainda nenhuma negociação para o acordo.