Título: Berzoini deve ser reeleito em 2º turno marcado por baixo quórum
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2007, Politica, p. A6

O atual presidente do PT, Ricardo Berzoini, confirmou, na primeira parcial divulgada na noite de ontem pelo partido, a previsão de que deverá ser reeleito para o cargo. Com 76,5 mil votos apurados, o equivalente a 34% do total estimado de participantes no segundo turno, Berzoini, da chapa Construindo um Novo Brasil aparecia em primeiro lugar, com 62,1% dos votos válidos. Jilmar Tatto, da chapa Partido é Pra Lutar, tinha, naquela parcial, 37,8% dos válidos. O total de votos apurados refere-se a 796 municípios de todo o país. O segundo turno foi marcado pelo baixo quórum de 200 mil filiados. No primeiro turno foram 326 mil, 36% dos cerca de 900 mil aptos.

Acompanhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a votação, em Brasília, Berzoini sugeriu que a fragmentação da base aliada ao governo federal constatada na votação da prorrogação da CPMF no Senado deverá ser mantida nos palanques das eleições municipais de 2008. Apesar dos constantes apelos feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nome da aproximação entre PT e aliados, o presidente do PT, Ricardo Berzoini demonstrava ontem, durante o segundo turno para a renovação da direção partidária, que as negociações estão difíceis.

A dissidência de aliados foi um dos principais elementos para a derrota do governo no Senado e demonstrou que a relação do PT e do governo com a base não está consolidada. Ontem, ao votar no segundo turno da eleição interna do PT, na qual concorria à reeleição, Berzoini não se estendeu ao falar dos acordos para a próxima disputa eleitoral, já em vias de negociação. "Imaginar que acordos nacionais podem ser mecanicamente transplantados para as composições municipais seria um grande equívoco", comentou.

"O PT vai procurar evidentemente, onde puder, ajudar, com os partidos da base. Mas em muitas cidades é possível ter aliança do PT com partidos de oposição, como já ocorreu em 2004. No interior, muitas vezes a vida política da cidade é muito diferente da vida política nacional", afirmou Berzoini depois de votar .

A votação foi acirrada em alguns colégios eleitorais de São Paulo, como na Capela do Socorro, onde a família Tatto tem maioria. No colégio onde Jilmar votou, cinco fiscais de Berzoini acompanhavam a votação. A coordenação de Berzoini chamou não-filiados para comporem a mesa e a fiscalização. Nessa seção, houve um mal-estar quando um militante empurrou um mesário que não o deixou votar por estar sem o RG.

Demonstrando estar afinado com Lula, Berzoini disse que a influência do presidente será decisiva na sucessão. "Em 2010, com certeza o presidente será o grande líder. Evidentemente o PT quer um espaço à altura do partido, mas o presidente será um eleitor fundamental porque o Brasil vai bem e a sua liderança popular cresce a cada dia", disse.

Sem esse apoio, Tatto não poupou críticas e atacou as dissidências da base no Senado. "O governo tem que dialogar permanentemente com a base aliada. O que não pode são eles (partidos aliados) participarem do governo, terem as benesses e depois votarem contra o governo", reclamou. Tatto propôs que o ministério da Relações Institucionais seja ocupado pelo por um petista. "A prova está aí: o principal projeto do governo, de R$ 40 bilhões, nós perdemos", disse, sem fazer referências diretas ao ministro José Múcio Monteiro, do PTB. "Acho bom para o governo Lula ter alguém na coordenação política que seja do PT, porque é a cara do governo. É o principal partido da base e tem força política."

Integrante da tendência PT de Lutas e Massas, Tatto irritou-se com o ministro Tarso Genro (Justiça), por apoiado Berzoini e disse que a cada mês ele tem uma idéia fantástica. "Ele é aquela história de coelho de quermesse, que volta sempre para a mesma casinha. Saiu dizendo que o Campo Majoritário estava acabando com o nosso partido e agora está votando no Berzoini", atacou. Tatto questionou a postura da sigla frente ao governo. "A relação do PT com o governo Lula é uma relação de pessoa e de correntes, não de partido", afirmou. Já o Berzoini falou que Lula "sempre influi muito no PT" e que conversam toda semana. "Nunca houve qualquer afastamento."