Título: PMDB lança 5 nomes ao Senado para garantir vaga a Sarney
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Política, p. A11

Com a torcida do Palácio do Planalto, começou a ser costurada nos bastidores do Senado articulação de setores da base aliada para lançar o senador José Sarney (PMDB-AP) candidato à presidência da Casa. Seu nome é o mais citado em todas as rodas, mesmo não sendo um dos cinco nomes lançados ontem na reunião da bancada do PMDB.

A eleição do sucessor de Renan Calheiros (PMDB-AL) - que renunciou na terça-feira para facilitar sua absolvição no plenário - está marcada para quarta-feira. Na segunda-feira, o PMDB deve escolher o candidato que submeterá ao plenário da Casa. Poderá haver eleição da bancada, já que, por enquanto, não há nome de consenso. Pela tradição, o cargo é do partido, por ter o maior número de senadores (20).

Em reunião realizada ontem, lançaram suas candidaturas José Garibaldi (RN), Leomar Quintanilha (TO), Valter Pereira (MS) e Neuto de Conto (SC). O gaúcho Pedro Simon (RS), foi lançado por Mão Santa (PI). Não se manifestou sobre o lançamento, já que havia saído da reunião quando o piauiense falou. "Ele sabia que eu iria lançá-lo e nunca me desestimulou", disse Mão Santa.

Tantos nomes lançados com a anuência das lideranças do PMDB sem que houvesse tentativa de convergência em torno de um deles despertou a suspeita dos senadores de que o candidato, de fato, será outro. Esse raciocínio aponta para uma opção por Sarney, o mais confiável ao Planalto. "Tem muito bode na sala", avalia Jarbas Vasconcelos (PE), pemedebista dissidente.

Entre os quatro senadores que se lançaram, Garibaldi está à frente dos demais nas articulações. Outros dois - Pereira e Conto, que assumiram suas cadeiras como suplentes - aguardavam apenas a oficialização da renúncia, mas já admitiam suas pretensões. Quintanilha só falou abertamente ontem. E fez questão de citar Sarney como um dos mais experientes da bancada para assumir o cargo.

O ex-presidente da República (1985 a 90) e ex-presidente do Senado por dois mandatos rejeita a idéia. Alega que, aos 78 anos, não tem mais disposição para enfrentar as pressões do cargo. Prefere dedicar-se à literatura. Mesmo assim, seus aliados lembram que Sarney nunca gostou de entrar em disputa. Acreditam que, havendo consenso em torno do seu nome, acabará aceitando.

Uma eventual candidatura de Sarney encontra feroz resistência do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). O tucano disse que, caso o PMDB lance o nome do ex-presidente, fará questão de disputar no plenário contra ele. O direito de indicar o candidato é do PMDB, mas o nome precisa ser votado pelo plenário. Eleger Sarney, diz Virgílio, seria trazer de volta a "velha oligarquia" e "premiar a omissão", já que o ex-presidente não se manifestou sobre a crise envolvendo Renan.

Para aliados de Sarney, o veto é contornável. Estaria restrito à pessoa de Virgílio - reconduzido ontem à liderança - e não seria uma questão partidária. Esses senadores afirmam que o ex-presidente tem defensores importantes na oposição, inclusive do PSDB. No entanto, setores do Senado vêem uma eventual eleição de Sarney como a manutenção de Renan, já que o grupo político é o mesmo.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) é um dos que tentam convencer Sarney a enfrentar a tarefa. Argumenta que o ex-presidente tem responsabilidade para tirar o Senado da crise que se encontra. Ele lembra que Sarney teve forte influência em todos os processos sucessórios da presidência do Senado desde 1979. "Dessa vez não será diferente. A sucessão de Renan passará obrigatoriamente por José Sarney", disse.