Título: Lula reúne 18 governadores em palanque pró-CPMF
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Política, p. A11

Alan Marques/Folha Imagem Lula discursa com Jatene ao fundo: "Precisei chegar à Presidência para saber que é muito mais fácil ser oposição" O lançamento do PAC da Saúde, que tem um terço de seus recursos originados na CPMF, foi transformado ontem num palanque de discursos favoráveis à prorrogação do imposto do cheque, com a presença de governadores que pressionam as bancadas dos Estados para aprovarem o imposto. Além do presidente Lula, defenderem exaltados a prorrogação da CPMF os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB) - outros 18 governadores estavam presentes -, o ex-ministro da Saúde Adib Jatene, o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC) e o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

"O apoio é de todos os governadores, , inclusive o (José Roberto) Arruda aqui em Brasília, o José Serra (SP), o Aécio Neves (MG), o Cássio Cunha Lima (RN), a Yeda Crusius (RS), todos, sem distinção", afirmou Lula, ao sair do almoço com o presidente de El Salvador, Elias Saca, no Palácio do Itamaraty. "Porque sabem o retorno de dinheiro que eles têm com a CPMF", argumentou. Lula disse não ter dúvidas sobre a aprovação da CPMF no Senado e negou ter alternativa, em caso de rejeição do tributo. "Nunca trabalho com plano B, só tenho plano A; o Corinthians tinha plano B e caiu", gracejou.

No Planalto, Lula afirmou que o Brasil não está acostumado com a universalização e sempre viu políticas públicas feitas para 20%, 30% da população. "Muitos daqueles que utilizam as máquinas mais sofisticadas e os hospitais mais sofisticados deste país, depois deduzem do Imposto de Renda o que eles pagaram do plano de saúde. E termina sendo o Estado brasileiro que devolve para ele o que não devolve para os companheiros mais pobres".

O presidente disse que "há tempos de protestar, de negociar, de discursar e há o tempo de votar". Propôs aos senadores que façam uma reflexão junto com os governadores. "É extremamente importante que todo governador converse com os senadores de seu Estado para fazer essa reflexão do que representa para cada Estado a não-aprovação da CPMF". Lula lembrou que, quando era presidente de honra do PT, veio a Brasília convencer os deputados da legenda a votarem contra a CPMF.

"Precisei chegar à Presidência da República para saber que é muito mais fácil ser oposição. Quando é oposição, você acha, você pensa, você acredita. Quando chega no governo, ou você faz, ou não faz, ou executa, ou não executa". Mais tarde, no Itamaraty, voltou ao assunto. "Que sirva de lição para outras pessoas: a vida é assim, quando a gente evolui politicamente vai mudando de posição no momento em que aquela posição vai melhorando as possibilidades de governar o país".

Adib Jatene criticou o que considera erro na disputa entre saúde e economia. Para Jatene, o ministro da Fazenda sempre tem uma visão distorcida porque está mais próximo da riqueza. "Quando ele vai a São Paulo, vai na Fiesp, na Febraban. Os médicos, não. Desde a escola, lidam com a pobreza e não aceitam as limitações que a área econômica lhes impõe", declarou, com voz embargada. Mesmo com a CPMF em vigor, os recursos da saúde foram contingenciados pelo governo. Jatene disse que o governo, no final das contas, fica na contingência entre "arrecadar muito de quem ganha pouco e de arrecadar pouco de quem ganha muito".

Eduardo Campos disse que o Brasil não pode ignorar a crise americana, os ganhos obtidos pela "nossa geração" e, simplesmente, "cortar R$ 40 bilhões do Orçamento da República". Ele reforçou no púlpito o apoio firmado pelos governadores do Nordeste à prorrogação da CPMF e complementou dizendo que disputas políticas são comuns em uma democracia, mas quando permitem que o país avance, não para provocar recuos. "Precisamos de menos cabo de aço e de mais bom senso", pediu.

Sérgio Cabral Filho parafraseou um samba de Noel, "Com que roupa eu vou" para perguntar "com que roupa eles vão vestir o PAC da Saúde e o próprio SUS se a CPMF não for prorrogada". O governador fluminense questionou se não era muita "mesquinharia fazer um jogo político que não prejudicará o presidente Lula, mas o povo brasileiro".

Cabral, que antes de ser eleito governador era senador pelo PMDB, apelou para a consciência de seus antigos pares. "Não estamos diante de um jogo oposição versus situação mas da viabilidade de um plano (PAC da Saúde) que vai gerar 3,2 milhões de empregos". O pemedebista repetiu o alerta feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a não-aprovação da CPMF afastaria o Brasil do investment grade.

Apesar de não ter feito discurso público, o tucano Cássio Cunha Lima seguiu o script do governo. Lamentou que os senadores do PSDB insistam em ser contrários à CPMF. "Não podemos achar que, sendo o PT de ontem, possamos nos transformar em um partido do amanhã". Quanto às negociações, Cunha Lima criticou seu partido, mas também o governo. "O PSDB reúne os graúdos e deixa os miúdos de fora. Mas a negociação feita pelo governo não está em nenhum manual. Reúne a oposição em um almoço, apresenta uma proposta fraca e depois quer que todos saiam falando bem? Negocia primeiro e tira foto depois", ensinou.

Em São Paulo, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), negou que tenha sofrido pressões do partido para que não comparecesse ao lançamento do PAC da Saúde, no Palácio do Planalto. Tanto Serra quanto o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, teriam sido impedidos de participar do evento pelo PSDB. Ex-ministro da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso, Serra disse que não foi a Brasília por problemas de agenda. Na manhã de ontem, na região central da capital paulista, o governador e a secretária estadual de Educação participaram da entrega de prêmios para as escolas vencedoras da 1ª Jornada de Matemática de São Paulo, que reuniu 83 mil alunos da região metropolitana. (Colaborou Sergio Leo, com agências noticiosas)