Título: Investimento cresce e produção é recorde
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Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Opinião, p. A14

A produção industrial de outubro superou até mesmo as previsões mais otimistas e cresceu 2,8% ante setembro, e nada menos de 10,3% em relação ao mesmo mês de 2006. A expansão foi generalizada e já garante um ritmo de atividades intensificado no geralmente morno primeiro trimestre do ano. "A produção em outubro", mostra o IBGE, "é a maior da série histórica nos segmentos de bens de capital, bens intermediários e bens de consumo duráveis". Há fatores de risco para a inflação nessa disparada da produção, mas há também fatores que indicam que os investimentos estão correndo a uma taxa bastante superior à da indústria em geral. Esta é uma das importantes diferenças em relação aos ciclos de expansão anteriores, que se frustraram.

O uso da capacidade instalada, segundo dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria, bateu um recorde em outubro: 82,8%. Como o Valor informou (5 de dezembro), ainda assim os preços industriais, medidos pelo Índice de Preços do Atacado, continuam evoluindo modestamente, em linha com o IPCA, que serve de base para as metas de inflação - e acumulou até outubro 3,3%. O mesmo acontece se forem considerados os últimos três meses, quando a produção industrial se intensificou. O fato de o aquecimento industrial não vazar para os preços se deve em grande parte aos sucessivos recordes das importações e, ao que tudo indica, pela maturação de investimentos já realizados.

Uma das questões que colocam o Banco Central na defensiva na hora de decidir a taxa de juros é se os investimentos estarão presentes tempestivamente no ciclo de expansão. Não há, a esta altura, uma resposta definitiva para a questão, mas há indícios de que ela possa ser afirmativa. Um dos indicadores de investimentos é a produção de bens de capital, que agora não assiste a uma expansão "normal", e, sim, cresce a uma taxa que é praticamente três vezes maior que a da indústria em geral - no ano, 18,8% e 5,9%, respectivamente. Esse crescimento é impressionante em praticamente todo os segmentos de máquinas e equipamentos. De janeiro a outubro, segundo o IBGE, os bens de capital para a indústria avançaram 16,5%. Os bens seriados subiram 18% e os não-seriados, ou sob encomenda, 7,1%. A construção civil vive um "boom" e o mesmo se pode dizer da produção de equipamentos para atendê-la, que em dez meses evoluiu 16,9%. Equipamentos para energia elétrica deram um salto, até outubro, de 24,2%. Finalmente, a fabricação de bens para uso misto cresceu 14,2%. E, na comparação de outubro deste ano com outubro de 2006, a produção de bens de capital avançou expressivos 26,8%.

Foi-se assim o tempo em que esse segmento era empurrado apenas por equipamentos de transporte e construção civil. "Vários setores na série ajustada sazonalmente atingem, em outubro, seu nível recorde de produção", segundo o IBGE: veículos automotores, máquinas e equipamentos, metalurgia básica, borracha e plástico, minerais não-metálicos, máquinas para escritório e equipamentos de informática, máquinas, aparelhos e materiais elétricos.

Se os investimentos desta vez podem estar correndo à frente da produção, a produtividade da economia deverá acompanhá-los - ela já vem crescendo -, o que permite que aumentos reais de salários sejam dados sem necessidade de repasse aos preços. Neste ano, a quase totalidade dos dissídios repôs a inflação e trouxe um ganho real, sem utilizar o parcelamento, como foi feito em alguns anos. Nem por isso o IPCA disparou - está abaixo da meta o ano todo -, nem os preços no atacado industriais se moveram agressivamente. Com aumento de salário real, mais o crescimento da massa empregada, cresceu a capacidade de endividamento via crédito, e o crédito continua a aumentar 25% ao ano. Deve bater em 38% do PIB em 2008.

Desta forma, a ameaça inflacionária ao crescimento pode ser ultrapassada, se os investimentos vingarem a tempo e desde que os gastos públicos não cresçam muito. Se tudo der certo, os maiores gargalos à expansão não serão a inflação ou escassez de produtos, mas a infra-estrutura. Não há motivo para que esse obstáculo não seja superado com uma parceria inteligente com a iniciativa privada.