Título: A produtividade na economia brasileira
Autor: Jorge, Miguel
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Opinião, p. A14

Recentemente, estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentou números pouco animadores sobre a evolução da produtividade do trabalho na economia brasileira. O trabalho mostra que, entre 1980 e 2005, o Brasil permaneceu estagnado em termos de seus indicadores de produtividade.

Retirando-se 1980 da análise, pois este ano, por várias razões, não é um bom padrão de comparação, observa-se que a produtividade do trabalho no Brasil cresceu muito pouco, desde os anos 80.

O relatório da OIT chama a atenção para outra questão muito importante: em mais de 25 anos, não conseguimos reduzir a distância em relação aos países desenvolvidos, em termos de produtividade.

Apesar dessa conclusão desanimadora, nos últimos anos ocorreram movimentos muito positivos na economia e, em particular, na indústria brasileira, que não foram captados pelo trabalho. Por exemplo, entre 2003 e 2006, nossa economia apresentou ganhos expressivos de renda per capita que, aliás, também costuma ser utilizada como um indicador de produtividade da economia.

Nesse período, o crescimento da renda foi acompanhado pelo aumento no nível de ocupação, conforme mostram estudos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, segundo os quais o nível de ocupação (número de pessoas ocupadas como proporção da população total) na economia passou de cerca de 43% a 44%, na década passada, para cerca de 48% em 2006.

Isso explica porque aumentou a renda per capita, enquanto a relação entre renda e pessoal ocupado (cálculo utilizado pela OIT) manteve-se constante nos últimos anos. Considerando-se a hipótese, bastante plausível, de que as pessoas que antes estavam desocupadas estão ingressando no mercado de trabalho em atividades menos produtivas, explica-se o pequeno crescimento da produtividade do trabalho observado pelo indicador agregado.

Outro movimento relevante, também não captado pelo indicador da OIT, diz respeito, especificamente, aos ganhos de produtividade na indústria. Esse indicador, que costuma ser calculado pela razão entre o índice de produção física e o de horas pagas, ambos do IBGE, mostra que, entre janeiro de 2003 e agosto de 2007, a indústria já acumulou ganhos de produtividade de mais de 20%. Esse ganho de produtividade tem ocorrido na maior parte dos setores industriais.

Outra boa notícia é que o crescimento recente da produtividade tem sido incomparavelmente mais virtuoso do que o ocorrido na segunda metade dos anos 90, pois tem sido acompanhado pelo aumento, e não pela redução, do emprego industrial que, no mesmo período, cresceu aproximadamente 4%. O emprego formal também tem crescido. Neste ano, até outubro, já foram gerados mais de 1,8 milhão de novos postos formais de trabalho, segundo dados do Ministério do Trabalho.

Portanto, o que nos dizem os números sobre a produtividade do trabalho na economia brasileira?

Primeiro que, nos últimos quatro anos, observa-se um crescimento muito acentuado da produtividade, especialmente na indústria, acompanhado de ampliação do emprego.

-------------------------------------------------------------------------------- Retomada do crescimento que tem ocorrido nos últimos anos é um fator fundamental para o aumento da produtividade --------------------------------------------------------------------------------

Segundo que, apesar do crescimento da produtividade observado agora, e daquele ocorrido na segunda metade dos anos 90, o Brasil ainda está muito longe, e até mesmo se distanciando, dos países desenvolvidos.

Finalmente, os números mostram que o país precisa, urgentemente, ampliar as taxas de crescimento da produtividade para que a distância relativa aos demais países se reduza, ao invés de se ampliar.

Nesse sentido, a retomada do crescimento, que tem ocorrido, de maneira sustentável, nos últimos anos, é um fator fundamental para impulsionar o crescimento da produtividade.

Mas não é suficiente. É preciso impulsionar investimentos na modernização da indústria, é preciso estimular a utilização de tecnologias de produção mais eficientes e é preciso buscar maior inserção nos mercados internacionais.

Sabemos que a tecnologia é um dos principais motores do crescimento e do desenvolvimento econômico das nações. Recente estudo da OCDE mostra, por exemplo, que um aumento de 1% nos gastos em Pesquisa e Desenvolvimento gera um aumento de 0,13% nas taxas de crescimento da produtividade. No Brasil, estudos do Ipea têm sustentado que empresas que investem em novas tecnologias - seja de produtos ou de processos produtivos - são mais eficientes e possuem melhores indicadores de produtividade.

A maior inserção externa do país também é extremamente importante para a ampliação da produtividade de nossa economia. O Ipea demonstrou que a entrada das empresas no mercado internacional, quando elas decidem exportar, tem impactos muito importantes sobre sua produtividade. A necessidade de ganhar espaços em mercados muito competitivos, o acesso a tecnologias desenvolvidas em outros países e os ganhos de escala derivados do crescimento das vendas explicam por que a inserção externa tem impactos tão positivos sobre a produtividade das empresas.

Hoje, os fluxos comerciais representam 21,5% do PIB brasileiro. Portanto, há espaço para ampliar nossa participação na economia mundial, tanto por meio de exportações quanto pelos investimentos das empresas brasileiras no exterior.

Assim, o estímulo aos ganhos de produtividade e ao desenvolvimento da economia devem estar baseados em um tripé fundamental: aumento dos investimentos em P&D, ampliação dos investimentos em capital fixo - modernização e ampliação de capacidade -, e por fim, maior inserção externa da economia brasileira.

É exatamente nesse tripé que se baseiam as principais metas das ações e medidas que estão sendo elaboradas pelo Ministério do Desenvolvimento para potencializar a política industrial brasileira. Temos a convicção de que alcançar essas metas significa elevar o padrão de desenvolvimento do País.

Miguel Jorge, jornalista, é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.