Título: Metrô tem 35 anos de descaso com manutenção
Autor: Totti, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2007, Especial, p. A16

Sergio Zacchi / Valor Nos horários de pico, a estação Guaianazes da CPTM é das mais superlotadas do sistema metrô-trens metropolitanos Os vagões que circulam hoje entre Jabaquara e Tucuruvi são os mesmos da festa de inauguração do metrô, em 1972, quando a Linha 1-Azul fez sua primeira viagem entre as estações Jabaquara e Saúde. Durante estes 35 anos, o metrô expandiu-se, tem 61 quilômetros de extensão, quatro linhas, 55 estações. E conectou-se com os 257 quilômetros de seis linhas da rede metropolitana de trens (CPTM), que servem às cidades que circundam São Paulo. É uma malha pequena para a dimensão da cidade. E o serviço, insatisfatório nos horários de maior procura. Quando a composição, superlotada, às 7 da noite, sai da estação da Sé, anda alguns segundos, dá uma "paradinha" e volta a andar como se tivesse recuperado o fôlego, é sinal de fadiga do equipamento, uma obsolescência de 35 anos, pois o material rodante nessa linha tem a idade do metrô. E nas outras linhas, a idade de cada linha. Isso ocorre porque até aqui os investimentos para expansão tiveram prioridade absoluta sobre a renovação do equipamento.

A modernização e a completa renovação da frota, que atingem também a CPTM, sob sua jurisdição, é a tarefa a que se propõe o secretário Estadual de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, 55 anos, engenheiro civil, que começou sua vida profissional como empregado do metrô. Portella foi secretário-executivo do Ministério dos Transportes no governo Fernando Henrique e, com a mesma função no Ministério dos Esportes, presidiu o grupo de trabalho que redigiu o Estatuto do Torcedor.

Além da continuidade do plano de expansão do metrô - inclusive a conclusão da Linha 4-Amarela, Luz-Vila Sônia, afetada pelo desabamento da estação em construção no bairro de Pinheiros -, a previsão, até o final do mandato do governador (2010), é adquirir mais 99 trens que servirão especialmente à CPTM, nas linhas A (Luz-Francisco Morato), F (Luz-Calmon Viana) e Esmeralda (o novo nome da ligação Autódromo-Presidente Altino, ex-C). Os novos trens terão padrão-metrô de superfície, segundo o secretário, com atenção especial para a Linha Esmeralda, hoje operando com trens importados da Espanha, já obsoletos, com pouca velocidade e sem ar condicionado, o que aumenta o barulho interno, pois têm de andar com as janelas abertas. O passageiro da nova linha Esmeralda viajará, segundo Portella, com muito mais conforto e poderá assistir TV de plasma, com programas curtos e noticiário.

Quarenta e dois desses trens já estão sendo fabricados (levam até 27 meses para a entrega) e a licitação dos outros 57 foi realizada e, ainda neste dezembro, serão conhecidos os vencedores.

Nos três anos que restam do atual governo, os investimentos no setor de transportes metropolitanos e no metrô devem superar os R$ 18 bilhões - R$ 9 bilhões do orçamento estadual; R$ 5,5 bilhões com financiamento do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e JBIC (banco estatal do Japão que financia suas exportações); R$ 3,6 bilhões em parcerias público-privadas e R$ 500 milhões do BNDES. Os planos são ambiciosos: incluem até o Expresso Aeroporto, que ligará, em duas linhas, uma delas sem parada, o metrô de Tucuruvi ao aeroporto de Guarulhos.

Sobre a situação atual dos serviços, Portella reconhece que há deficiência na informação para o usuário, mas não concorda que faltem trens nas horas de pico. "O sistema atende às pessoas. Mas não com conforto." O conforto virá, segundo ele, com a modernização em curso. Mas, desde já, o secretário acredita que houve progressos. Na Linha 3-Vermelha do metrô, entre as estações do Corinthians e do Palmeiras, o intervalo entre as composições foi reduzido para 101 segundos, padrão europeu. Também nessa linha, nas estações Itaquera e Barra Funda, o primeiro vagão passa a ser exclusivo de passageiros com necessidades especiais.