Título: Lula oferece ajuda a Uribe na negociação sobre reféns
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2007, Brasil, p. A4

Lula Marques/Folha Imagem O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe: promessa de visita ao país até fevereiro do próximo ano O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs ajudar a Colômbia a encontrar uma saída para a libertação de reféns seqüestrados pelas Forcas Armadas Revolucionárias (Farc) e colocou o governo brasileiro à disposição do colombiano na tarefa. A proposta foi feita por Lula ao seu par, Álvaro Uribe, durante reunião na residência da embaixada brasileira em Buenos Aires no primeiro de três encontros que manteve antes da cerimônia de posse da presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner.

O secretário Especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, confirmou que Lula fez propostas de ajuda a Uribe, mas não quis revelar o que foi proposto, justificando que "essas coisas ou se faz com discrição ou elas fracassam". Os dois presidentes também discutiram a ampliação dos investimentos brasileiros na Colômbia.

Em sua estadia em Buenos Aires, Uribe recebeu mensagens de apoio e de pressão para resolver o problema dos seqüestrados. François Fillon, primeiro ministro da França, chegou a comparar o sucesso na negociação com a democracia. "Os olhos da opinião pública mundial estão postos sobre Uribe e as Farc. Todas as iniciativas humanitárias que o governo da Colômbia faça terão um efeito muito positivo sobre o aprofundamento da democracia no país", disse Fillon a jornalistas em entrevista na sede da embaixada da França, após encontro com o presidente colombiano.

Segundo Marco Aurélio Garcia, Uribe deu a Lula informações sobre o problema e explicou as iniciativas que seu governo tem levado adiante. "Nós escutamos, o presidente Lula reiterou que tudo o que o governo colombiano considerar que o Brasil possa fazer para lograr um acordo humanitário, que permita a libertação dos reféns e inclusive, mais adiante, uma negociação de paz, o governo brasileiro está disposto a fazer."

Garcia frisou que "qualquer iniciativa terá que ser feita em estreita relação com o governo da Colômbia". Uribe recentemente dispensou a ajuda do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que havia começado a negociar a libertação dos reféns, porque Chávez teria descumprido um acordo de não manter diálogo direto com os militares colombianos. "Estas questões não podem se resolver à margem do governo colombiano", disse o Secretário.

Ao sair do encontro com Lula, Uribe foi sucinto sobre o tema. Disse que a reunião foi "construtiva como sempre", que relatou a Lula um balanço da situação e do que o governo tem feito. "Contei-lhe como vamos, o escutei com a prudência com que sempre tratamos estes temas com o presidente Lula", afirmou. Garcia disse que Uribe agradeceu a oferta de ajuda e afirmou que assim que tenha demandas concretas sobre a participação do governo brasileiro não terá dúvidas em pedir. Garcia não quis comentar o afastamento de Hugo Chávez das negociações.

Garcia contou ainda que Lula recebeu uma carta do presidente da França, Nicolas Sarkozy, pedindo o apoio do governo brasileiro para chegar a um acordo humanitário de libertação dos reféns.

Uribe também pediu ajuda de Lula para acelerar os investimentos da Companhia Vale do Rio Doce na construção de hidrelétricas e de uma fábrica de alumínio na Colômbia. O presidente colombiano quer que o Brasil aumente os investimentos diretos no país para compensar a desvantagem da Colômbia nas relações comerciais.

De janeiro a outubro deste ano, a corrente de comércio entre Brasil e Colômbia somou US$ 2,25 bilhões, alta de 6% em relação a igual período de 2006. A balança é francamente favorável às empresas brasileiras, que detêm saldo de US$ 1,62 bilhão com a Colômbia no período. No entanto, as exportações brasileiras para o país andino estão perdendo o fôlego. Nos primeiros dez meses do ano, o Brasil exportou US$ 1,94 bilhão para a Colômbia, alta de 16% em relação a janeiro a outubro do ano passado. Esse ritmo é bem inferior ao aumento de 51,5% verificado nas vendas brasileiras para a Colômbia em 2006 comparadas com 2005.

Apesar do desempenho mais fraco, dois produtos são novidade na pauta de exportação do Brasil para a Colômbia em 2007: aviões e celular. As aeronaves foram o principal item da pauta de exportação do Brasil para os colombianos, atingindo US$ 164 milhões e representando 8% do total. Logo depois aparecem os celulares com US$ 147 milhões, ou 7,6% do total.

As importações de produtos colombianos pelo Brasil aumentaram 54% de janeiro a outubro de 2007 em relação a igual período de 2006, para US$ 317 milhões. No ano passado, as importações de produtos colombianos também cresciam com mais vigor: 80% de alta em relação a 2005. Óleos brutos de petróleo e coque lideram a pauta de vendas da Colômbia para o Brasil. De janeiro a outubro de 2007, a Colômbia vendeu ao Brasil US$ 39 milhões em óleos brutos de petróleo, alta de 640% em relação a 2006, e o equivalente a 12% das exportações totais. Já as vendas de coque chegaram a US$ 26 milhões, alta de 118%, e 8% de participação.

Lula prometeu a Uribe que na próxima visita de Estado que fará a Colômbia entre janeiro e fevereiro, vai levar uma "nutrida" comitiva de empresários.