Título: País pede a FMI menos rigor em acordos com emergentes
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2007, Brasil, p. A4

O governo brasileiro está intercedendo junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para aliviar os rigorosos termos dos acordos que alguns países emergentes mantêm com o fundo. O motivo é que esses acordos estão impedindo que empresas brasileiras acessem recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar obras de infra-estrutura em alguns países, por causa das limitações de endividamento impostas pelo FMI.

O assunto foi discutido ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o diretor- gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, durante uma reunião na embaixada brasileira, em Buenos Aires. Lula e Strauss-Kahn estavam na capital argentina para a solenidade de posse da presidente Cristina Fernández de Kirchner.

O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, citou o exemplo específico da Nicarágua. "Estamos tentando ajudar os nicaragüenses a resolver problemas de energia gravíssimos e a Nicarágua está impossibilitada de receber empréstimos por causa do monitoramento (do FMI)", afirmou Garcia. Segundo o assessor internacional, as restrições causadas pelos acordos com o Fundo Monetário criam "um círculo vicioso, porque os países são obrigados a um certo tipo de austeridade entre aspas, que termina provocando recessão, quando não um colapso da economia".

A proposta do governo brasileiro é que os investimentos em infra-estrutura sejam excluídos da conta que o FMI faz para calcular o superávit primário exigido dos países que monitora. "Essa é uma regra que vale só para os países emergentes, para os europeus não vale", afirmou Garcia, lembrando que Lula já havia feito essa reivindicação ao ex-diretor do FMI Rodrigo de Rato.

Na reunião de ontem, Lula tratou também com Strauss-Kahn da revisão do sistema de distribuição das cotas do fundo pelos países membros. O Brasil e outros países emergentes se queixam de estar sub-representados no controle do fundo onde os maiores cotistas são os Estados Unidos. "Vamos insistir nessa questão, que já estava presente na conversa que o presidente Lula teve com o Strauss-Kahn quando ele ainda era candidato (a diretor do FMI), e nosso representante em Washington, Paulo Nogueira Batista Jr. tem insistido muito." (JR)