Título: Diminuem as remessas de emigrantes
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Fonte: Valor Econômico, 11/12/2007, Finanças, p. C5

O saldo das transferências de migrantes para o Brasil diminuiu no segundo semestre. Especialistas acompanham os números para avaliar se já há impacto da crise no mercado americano de hipotecas de alto risco uma vez que há relatos de vários emigrantes que resolveram voltar ao país.

O saldo das remessas de migrantes acumulado em doze meses foi de US$ 716 milhões em outubro depois de ter atingido o pico de US$ 853 milhões em abril e maio. O dado informado pelo Banco Central (BC) inclui as remessas recebidas de todas as regiões e exclui as enviadas a partir do país.

Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) os brasileiros que moram no Exterior enviaram US$ 7,7 bilhões para o país em 2006, acima dos US$ 6,4 bilhões de 2005. Desse total, US$ 4 bilhões são enviados informalmente; o restante passa pelo sistema financeiro e é contabilizado pelo BC. O Brasil é o segundo país da América Latina em remessas de emigrantes depois do México, com US$ 23 bilhões e à frente da Colômbia (US$ 4 bilhões).

Cerca da metade do total vem dos EUA, onde estima-se que vivem 1,3 milhão de brasileiros. Daí a importância desse mercado.

O assunto foi discutido, ontem, na Western Union, uma das maiores empresa do mundo em serviços de remessa financeira. O diretor de marketing da empresa, Felipe Buckup, afirmou "que o movimento de volta dos brasileiros dos Estados Unidos é muito recente e ainda não há dados suficientes para configurar uma influência. Além disso, há brasileiros indo para outras regiões como a Europa".

Segundo Roger Ades, diretor do Banco Rendimento, como parte dos brasileiros que moram nos Estados Unidos trabalha na construção, o desaquecimento dos negócios acabou afetando. "O impacto é direto", afirmou.

Em 2006, o Rendimento realizou 1 milhão de remessas do exterior para o Brasil. Segundo Ades, a queda dos negócios vai reduzir o número neste ano. O Rendimento é especializado em remessas com crédito em conta corrente. Outras instituições, como o Banco do Brasil, operam com pagamentos em dinheiro em agências. O BB é um dos agentes da Western Union ao lado de nove corretoras.

O fluxo de remessas enviadas por trabalhadores emigrantes para a América Latina cresceu rapidamente nos últimos anos e, em alguns países, é importante fonte de financiamento externo. Em El Salvador, as remessas de emigrantes somaram quase US$ 5 bilhões em 2006, pouco mais de 15% do PIB e 70% do volume das exportações de bens e serviços e quase 40% da importação. Na Guatemala, as remessas, ao redor de US$ 5 bilhões, equivalentes a cerca de 10% do PIB. Em Honduras são 25% do PIB.

Por isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vem acompanhando o assunto com atenção. Os pesquisadores do Fundo, Shaun K. Roache e Ewva Gradzka, acabam de divulgar estudo que afirma não haver evidências de relação entre os ciclos de negócio nos EUA e as remessas à América Latina.

Os pesquisadores levaram em conta o fluxo de remessas dos Estados Unidos feitas por emigrantes de 14 países da América Latina, inclusive o Brasil, desde 1990. O estuda levanta dois prováveis motivos para as remessas de emigrantes não serem afetadas quando a economia americana enfrenta dificuldades. Um deles é o fato se os emigrantes terem em geral empregos em setores básicos que não são afetados em momentos de recessão. Segundo o estudo, por esse motivo, o emigrante tende a ficar menos tempo desempregado do que um trabalhador nativo. Outra razão é o hábito do emigrante de manter quantias regulares para o país natal, usando para isso poupança ou até crédito.

Mas os pesquisadores também observam que os dados podem ter sido influenciados pelo aumento do uso de canais formais de remessas, devido à redução dos custos, o que aumentou os números e pode estar mascarando uma eventual redução do fluxo.

Para os pesquisadores do FMI, é muito cedo para concluir que as remessas ficarão completamente imunes ao ciclo econômico do país hospedeiro e que as remessas continuarão uma fonte estável de financiamento externo, em boas e más horas.

A agência de rating Standard & Poor´s (S&P) também acaba de emitir relatório informando não ter detectado influência do aperto global de crédito na securitização de fluxo futuro financeiro. As remessas de emigrantes já foram securitizadas por um banco; Mas as operações agora avaliadas incluem direitos de pagamento diversificados como recebíveis de cartões de crédito.

Segundo a S&P ainda é possível que as condições dos mercados globais venham a afetar as operações de fluxos futuros financeiros se houver restrição de geração de fluxo de caixa, desencadeando então mudanças em rating.

Caso a economia nos mercados originadores dessas operações seja abalada e a turbulência internacional se tornar severa, as atividades de negócios relacionadas a essas securitizações poderiam diminuir, diz a S&P.