Título: HSBC prevê retração nos EUA e efeitos sobre Brasil
Autor: Lima , Marli
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2007, Finanças, p. C12

O presidente do HSBC no Brasil, Emilson Alonso, disse que o banco está se preparando para um "pouso forçado" dos Estados Unidos. De acordo com ele, uma desaceleração na economia daquele país deverá impactar Europa e Ásia e também o Brasil, que poderá crescer menos em 2008, entre 3% e 3,5%, na opinião do executivo.

Alonso adiantou que "o ano foi muito bom", porque sempre que a economia de um país cresce, os bancos de varejo são beneficiados. A expectativa de crescimento de 20% em relação a 2006 deverá ser atingida, principalmente por conta do aumento do crédito. Ele contou que a carteira de consignado cresceu 40% e a de automóveis, cerca de 35%. A concessão de crédito, no geral, "aumentou mais de 25%".

Por conta desse desempenho e também do encolhimento da instituição nos Estados Unidos, a participação brasileira no resultado mundial melhorou. Foi de 1,9% em 2006 e deverá fechar perto de 3% em 2007. A meta é que em cinco ou dez anos ela chegue a 5%, e que a participação da América Latina suba dos atuais 8% para cerca de 12%.

O executivo está otimista em relação ao crescimento do número de usuários de bancos. "A emergência das classes sociais trará novos clientes", prevê. A porta de entrada para o HSBC é a Losango, financeira do grupo que possui 25 milhões de CPFs cadastrados. O banco tem cerca de 10 milhões de clientes ativos.

Para 2008 a meta de crescimento parte novamente de 20%, mas Alonso disse que, se o cenário econômico piorar, por causa do "pouso" americano, a meta poderá ser reduzida para cerca de 18%. "Ainda é um mercado bom", afirmou. Mas, para enfrentar o que virá pela frente, o HSBC está ampliando sua carteira de crédito com garantia, que era de 20% no passado e está em 50%.

A rentabilidade é menor, porque os juros cobrados nesses contratos são mais baixos e isso exige maior volume de operações. No entanto o executivo adiantou que tem como meta chegar a fornecer 60% de crédito com garantia, como consignado, automóveis e imóveis. Em 2008, segundo ele, a proporção será de 57% a 33% sem garantias, como cheque especial e cartão de crédito. "O consignado é uma maneira de as carteiras crescerem de maneira sadia." Alonso defendeu a manutenção da CPMF, como inibidor de sonegação e por sua função social. Mas acrescentou que a alíquota poderia ser menor. Também falou que acredita que em algum momento o dólar irá se equilibrar e depois voltar a subir.

Outro assunto abordado por Alonso foi a regulamentação da cobrança de tarifas bancárias, divulgada na semana passada. "Todo mundo vai pagar essa conta, mas não tem lanche grátis", disse, sobre a tendência de que isso resulte em aumento nos juros. "Juro baixo e tarifa baixa? Vai ser difícil fechar essa equação", completou.

Para Alonso, o ponto positivo é a transparência que a medida trará ao mercado, mas ela "pode aumentar o juro" ou diminuir a rentabilidade dos bancos. No caso do HSBC, as tarifas respondem por um terço das receitas e, dessa fatia, estima-se que haverá queda de 10% com a implantação das novas normas pelo Conselho Monetário Nacional. "Isso mostra que os bancos não fazem o que querem, que tem alguém que manda." Sobre a concorrência, incluindo o Santander após a compra do ABN AMRO, Alonso disse que não muda a forma de atuação do HSBC. "Temos planos estratégicos para crescer com rentabilidade. O Santander não mudou nada, por que vamos mudar?" Ele disse que o banco quer crescer no Norte e Nordeste. O número de agências vai crescer 935 para 950 em 2008. Ode correspondentes bancários deve passar de 3 mil para 5 mil.

Ontem pela manhã o sindicato dos bancários fez protesto contra demissões em frente à sede do HSBC, em Curitiba, mesmo local onde o banco faz apresentações de Natal. "Temos demitido pessoas com baixa performance. Emprego para a vida toda não existe", disse.