Título: Secretário internacional e chefe de Gabinete invertem funções na Fazenda
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2007, Brasil, p. A2

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, decidiu promover uma troca de cadeiras em sua equipe. O atual chefe de Gabinete, embaixador Marcos Galvão, assumirá o comando da Secretaria de Assuntos Internacionais (Sain) e, em seu lugar, tomará posse o atual titular dessa área, Luiz Eduardo Melin. Convidados na semana passada, os dois tomarão tomarão posse, nas novas funções, no início de janeiro.

Com a mudança, Melin passará a ter, segundo apurou o Valor, participação direta no processo decisório da política econômica. Hoje, por causa da natureza do cargo da Sain, o economista, com formação em Economia e Direito na PUC do Rio, passa muito tempo fora do país. Assessor da estrita confiança de Mantega, a partir de agora Melin ajudará o ministro na formulação de políticas.

No governo Lula, Melin foi diretor de Comércio Exterior na gestão Carlos Lessa (2003 e 2004). Em agosto de 2006, tornou-se assessor internacional de Mantega na Fazenda e, desde novembro daquele ano, comanda a Sain. Economista de perfil "desenvolvimentista", trabalhou na área internacional do Lloyds Bank, chefiou a assessoria econômica da Federação Nacional das Empresas de Seguro Privado e de Capitalização (Fenaseg) e, entre 1996 e 1998, atuou como assessor parlamentar da então deputada Maria da Conceição Tavares (PT-RJ). Quando deixou o BNDES, fez críticas à política monetária do Banco Central, mas hoje não é visto mais como um opositor radical dessa política.

A saída Melin da Secretaria de Assuntos Internacionais foi atribuída a desentendimentos com o representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior. Como titular da Sain, Melin é o responsável pela interlocução do Ministério da Fazenda junto ao Banco Mundial e ao FMI. Enquanto, nas reuniões preparatórias do G-20 sobre a reforma do sistema de cotas do FMI, ele teria defendido uma posição mais "diplomática" e gradualista, Nogueira Batista teria insistido numa estratégia mais dura.

Os dois teriam se desentendido em discussões internas e rompido relações, criando um ambiente carregado na representação brasileira.

O embaixador Marcos Galvão assumirá a Sain num momento importante: desde novembro, o Brasil preside o G-20 financeiro, o grupo que reúne os sete países mais ricos e as maiores economias em desenvolvimento do planeta, e será o anfitrião do encontro de cúpula da organização, agendado para novembro de 2008, na Bahia. Diplomata há quase 30 anos, Galvão foi chefe de Gabinete do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, entre julho de 2005 e março de 2006.

Guido Mantega substituiu Palocci e decidiu manter Galvão no cargo. Aos poucos, tomou afeição pelo assessor, que também se tornou pessoa de sua estrita confiança. Antes de assumir o cargo, Marcos Galvão foi o número 2 da embaixada do Brasil em Washington, chefe do setor econômico-financeiro da representação brasileira em Londres, assessor político do chanceler Luiz Felipe Lampreia, entre outras funções exercidas na carreira diplomática.

Em 1994, o embaixador foi assessor especial do então ministro da Fazenda Rubens Ricupero, durante o período de lançamento do Plano Real. Diplomata laureado, Marcos Galvão tem 48 anos e é uma espécie de "líder natural" de sua geração no Itamaraty. Na Sain, além de cuidar de FMI e Banco Mundial, acompanhará as negociações comerciais e políticas do Ministério da Fazenda.