Título: Seca obriga governo a ligar 4 usinas térmicas no NE
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2007, Brasil, p. A3

O governo decidiu acionar pelo menos quatro usinas termelétricas a óleo, com capacidade de geração total de 600 megawatts, para assegurar o abastecimento da região Nordeste, que está em situação de alerta por causa da seca que reduziu a 12,7% da capacidade o estoque de água da barragem de Sobradinho (BA), no rio São Francisco. Como a geração a óleo é mais cara, o custo adicional será rateado entre os consumidores de todo o país. O secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Ronaldo Schuck, afirmou não haver "o menor risco" de racionamento na região.

A decisão de ligar as térmicas a partir da próxima semana foi domada ontem em Brasília, em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) que contou com a presença da Petrobras, dona de várias usinas térmicas e também fornecedora de combustível. Entre as usinas a serem ligadas estão Termobahia e Camaçari, na Bahia, e Termocabo, em Pernambuco. Outras unidades poderão ser acionadas se necessário.

Por enquanto, a idéia é ampliar de mil para 2 mil megawatts o reforço de energia para o Nordeste, o que corresponderá a cerca de 30% da carga total da região nas próximas semanas. A proposta do Operador do Sistema Elétrico (ONS), um dos participantes da reunião, era que o socorro ao Nordeste fosse feito inteiramente com transferência de energia gerada no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. "Houve um debate e o ONS concordou com solução adotada", disse o secretário.

De acordo com ele, a principal razão para o acionamento das térmicas foi preservar a o nível dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste. Embora eles tenham fechado novembro a 48% da capacidade (anteontem estavam a 45,6%), acima dos 42% verificados em novembro de 2006, a baixa intensidade das precipitações no começo da estação chuvosa acendeu o sinal amarelo no governo.

Na segunda-feira, o Nordeste estava com carga (demanda) média total de 7.700 megawatts e já vinha recebendo 1.000 megawatts do Centro-Sul. Segundo o esquema montado pelo governo, a transferência de energia para o Nordeste vai aumentar em cerca de 500 megawatts, incluindo 200 megawatts do que está até agora sendo transferido para o Norte. Schuck disse que ainda não havia sido calculado o custo adicional da energia que será rateado pelo sistema como um todo.

Como o sistema elétrico brasileiro é interligado, as transferências de energia de uma região para outra mantêm o equilíbrio do parque gerador. Com a decisão de ontem, o governo espera estabilizar o nível de Sobradinho, que responde por 60% da capacidade de armazenamento do Nordeste.

O restante é armazenado em Três Marias (MG), com 30% e nas barragens da região de Paulo Afonso (Luiz Gonzaga e Xingó), todas no rio São Francisco. Como Três Marias ainda está com 47,7% da capacidade e Luiz Gonzaga com 52%, o sistema do Nordeste ainda tem 27% do estoque potencial de água - o nível mínimo de segurança no conjunto das barragens para esta época do ano é de 10%.

A estratégia de estabilizar Sobradinho em 12% foi favorecida pelo bom volume de chuvas na bacia do rio Tocantins, que alimenta o lago de Tucuruí, no Pará. Tucuruí está enchendo rapidamente e já se espera o transbordamento (tranbordamento por fora do sistema de geração) em poucas semanas. O fornecimento de energia do Centro-Sul para o Norte, que chegou a ser de 1.900 megawatts, vem sendo reduzido rapidamente (era de 1.200 megawatts na segunda).

Pela estratégia do ONS, o melhor caminho para resolver a falta de chuvas no Nordeste seria, junto com as transferências do Centro-Sul, é o aumento da geração das térmicas a gás nordestinas. Mesmo na Bahia e em Pernambuco, que estão gerando cerca de 330 megawatts a gás, estima-se que a geração a gás poderia chegar a 500 megawatts. Para o Ceará, a Petrobras tem dito que não há como fazer chegar o gás.

A estratégia para equilibrar o Nordeste sem desgastar o restante do sistema está assentada em outras duas premissas: a de que vai chover de verdade a partir de janeiro no Centro-Sul e no Nordeste, e que a demanda nordestina vai cair nas próximas semanas, seja pelo fim da safra de cana-de-açúcar, seja pela redução da atividade econômica na região, provocada pelas festas de fim de ano.