Título: Demanda interna é a mais forte em 12 anos
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2007, Brasil, p. A6

Com o forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, consolidaram-se de vez as apostas numa expansão de pelo menos 5% para a economia brasileira em 2007. O grande destaque é a demanda doméstica: ela contribuiu com 6,8 pontos percentuais para a expansão de 5,2% registrada pelo PIB nos quatro trimestres encerrados em setembro, na comparação com os quatro anteriores, de acordo com cálculos da Rosenberg & Associados. É o nível mais alto desde os 7,3 pontos observados no quarto trimestre de 1995, quando o Brasil ainda vivia a euforia da estabilização proporcionada pelo Plano Real.

As estimativas mais otimistas apontam para um avanço do PIB de 2007 na casa de 5,5%. O consumo das famílias e o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos (a formação bruta de capital fixo, FBCF) são os principais motores do crescimento, respondendo ao cenário formado por juros em queda, aumento do emprego e da renda, oferta de crédito abundante e inflação sob controle.

No terceiro trimestre, o PIB cresceu 1,7% em relação ao segundo, na série livre de influências sazonais. Esse número robusto, equivalente a 7% em termos anualizados, foi um dos motivos que levaram os analistas a acreditar que o PIB deve crescer mais de 5% em 2007. O outro é que o IBGE revisou o crescimento registrado no primeiro semestre, lembra o economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli.

A expansão do primeiro trimestre de 2007 em relação ao quarto de 2006 passou de 0,9% para 1,1%, enquanto o do segundo trimestre deste ano em comparação com o primeiro foi revisado de 0,8% para 1,3%. "Foram revisões significativas", diz Bassoli, que elevou a sua projeção para o PIB de 2007 de 5,1% para 5,4%. Ele chama a atenção para a aceleração da demanda interna, destacando a alta do consumo das famílias - 6% sobre o terceiro trimestre de 2006 - e do investimento - 14,4%.

Segundo Bassoli, mesmo se o PIB não crescer nada no quarto trimestre deste ano, a economia brasileira já terá assegurado uma expansão de 5% em 2007. A questão é que, como ele diz, isso é bastante improvável: em outubro, por exemplo, a produção industrial avançou 2,8% em relação a setembro, na série com ajuste sazonal. Tudo indica que o aumento do PIB será superior a 5%. O ABN Amro , por exemplo, elevou a sua projeção para o PIB de 4,5% para 5,2% neste ano, destacando o crescimento da agropecuária no terceiro trimestre, assim como o dinamismo da indústria e de serviços.

A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg, elevou a sua projeção para o PIB de 2007 de 4,8% para 5,1%. Segundo ela, a demanda interna "permanece como o principal vetor do crescimento". Formada pelo consumo das famílias, o investimento, o consumo do governo e a variação de estoques, a demanda doméstica cresceu contribuiu com 6,8 pontos percentuais para o crescimento de 5,2% do PIB registrado nos quatro trimestres encerrados em setembro. O setor externo, por sua vez, subtraiu 1,6 ponto percentual do PIB no período, uma vez que as importações de bens e serviços crescem a um ritmo bem mais rápido que o das exportações. Nas contas nacionais, as importações entram com sinal negativo. "Apesar da contribuição negativa do setor externo, foi ela quem propiciou a expansão da demanda doméstica sem que houvesse pressões inflacionárias."

Ela destaca o desempenho do investimento. No terceiro trimestre, o consumo aparente de máquinas e equipamentos (soma da produção e da importação, com exclusão da exportação desses produtos) aumentou 24,6% na comparação com o mesmo período de 2006, ao passo que a construção civil teve alta de 4,9%. Para ela, a expansão da FBCF "reflete não apenas as menores taxas de juros, como também a maior confiança do empresário no dinamismo do mercado interno e na manutenção de um patamar elevado de demanda nos próximos anos".

"O resultado do PIB no terceiro trimestre foi uma boa notícia, e a alta do investimento foi a boa notícia dentro da boa notícia", diz a economista Ana Carla Abrão Costa, da Tendências Consultoria Integrada. Ela projetava uma alta de 12,1% para o investimento, mas a expansão atingiu 14,4%. "Isso mostrou que é possível manter projeções otimistas para o crescimento do PIB em 2008. A alta da FBCF é um indicador de que a economia tem fôlego para manter um crescimento sustentável." Ana Carla e Thaís também destacam a alta do consumo das famílias, que responde à combinação de massa salarial em alta e ampla oferta de crédito.

Nos próximos dias, Ana Carla deve revisar sua estimativa de expansão do PIB em 2007 de 4,8% para "mais de 5%". A de 2008, fica mantida em 4,4%, pelo menos por enquanto. Thaís vê um cenário bastante favorável para o PIB no ano que vem, lembrando que as perspectivas para o crédito, o emprego e a renda continuam positivas. Além disso, diz ela, é possível que haja uma aceleração das obras de infra-estrutura, por conta dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ainda assim, ela prefere manter a sua projeção de 4,6% para 2008, por conta das incertezas no cenário externo.

Já Bassoli elevou a sua estimativa para 2008 de 4,5% para 5%. Ele diz que, se o PIB crescer 5,4% neste ano, como ele projeta, a "herança estatística" (o carry over) para 2008 será de 2,2 pontos percentuais. Isso significa que, mesmo se a economia não avançar nada em relação ao patamar do fim deste ano, o PIB terá expansão de 2,2%.

Uma discussão que ganha força entre os analistas é se o atual ritmo de crescimento é sustentável. Bassoli acha que não, e acredita que a taxa Selic será mantida em 11,25% ao ano até o fim de 2008. O investimento cresce com força, mas não a ponto de elevar o crescimento potencial - aquele que não provoca pressões inflacionárias relevantes - para a casa de 5%, acredita ele. Já Ana Carla acredita que a maturação de investimentos e os ganhos de produtividade deverão reduzir o nível de ocupação da capacidade na indústria, afastando os riscos de alta forte da inflação. Por isso, ainda projeta cortes de juros a partir da segunda metade de 2008.