Título: Economia deve crescer menos em 2008
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2007, Brasil, p. A7

A política monetária, atrelada ao risco de retomada da inflação e a uma desaceleração mais forte da economia internacional são fatores que devem conter o avanço da economia em 2008, avaliam economistas de bancos e consultorias ouvidos pelo Valor. De dez projeções colhidas para o PIB do próximo ano, a maioria aponta para taxas de crescimento entre 4,2% e 5%, níveis inferiores às estimativas revisadas para 2007. Apenas Fábio Silveira, da RC Consultores aposta no maior vigor da atividade, sustentada por grande volume de novos investimentos que deverão causar forte impacto sobre a indústria.

"Este arrefecimento é diferente dos anos anteriores de 2004 para 2005, quando o PIB despencou de 5,7% para 3,2%. A retração será mais moderada, pois ao contrário daquele período, quando houve forte apreciação cambial e alta dos juros, agora temos um câmbio com tendência à estabilidade", disse Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Para ele, a taxa de juro pode, no entanto, permanecer congelada no ano que vem, desestimulando o investimento, caso o PIB cresça forte no primeiro trimestre, gerando preocupação no BC com o aquecimento da demanda e a alta da inflação. Ele não acredita em um descontrole inflacionário. "A inflação não vai estourar a meta de 4,5%."

Alex Agostini, da Austin Rating, concorda com Vale. Ele não vê a oferta de crédito às famílias como uma pressão inflacionária. O crédito continuará a ser o indutor do crescimento em 2008. Mas, a maioria das famílias toma recursos para comprar bens de consumo, cujo peso é pequeno no IPCA.

A eventual maior desaceleração da economia americana é um dos fatores mais citados entre os economistas para a maior cautela do BC e a menor projeção de expansão do PIB. "A crise internacional é um ponto que impede a autoridade monetária de operar com uma situação mais tranqüila", diz Agostini. Ele, entretanto crê que haverá espaço para mais cortes nos juros.

Sérgio Goldenstein, da gestora ARX Capital, acrescenta que o efeito da parada dos cortes desde outubro ainda se dará em 2008 e uma desaceleração internacional pode piorar a situação do setor externo no período.

Carlos Langoni, da Projeta, justifica ter duas taxas para o PIB em 2008 devido às incertezas do cenário internacional. "O ambiente externo será menos brilhante e o PIB mundial deve cair para 4,5% ante 5% em 2007. Meu receio é que esta incerteza contamine as expectativas de investimento no Brasil, diminuindo o ritmo da formação bruta de capital fixo."

Ilan Goldfajn, da Ciano Investimentos e ex-diretor do BC, diz que a economia deve manter o ritmo no próximo ano. "Tudo vai depender dos investimentos maturarem e do cenário internacional. Se houver desaceleração, haverá efeito sobre o Brasil", disse Goldfajn, que destaca a necessidade do governo investir mais em infra-estrutura.

Bráulio Borges, da LCA Consultores, reforça que o investimento público está muito abaixo do investimento privado. "O governo não está fazendo a parte dele e o PAC praticamente não está andando. O setor privado está garantindo a expansão do PIB, que poderia ser maior se o governo estivesse investindo mais em infra-estrutura", disse.

Fábio Silveira, ao contrário, aposta na alta do investimento público como principal alavanca no ano que vem. "A indústria de bens de capital vai continuar aumentando a produção, o investimento vai contribuir para ampliar a capacidade instalada das fábricas e as indústrias petroleira, de mineração e o agrobusiness vão estar em franca expansão, junto com a construção civil", afirmou Silveira, que projeta alta na taxa de investimento de 18% em 2007 para 19% em 2008, mesmo com a expectativa de apenas um corte de 0,5 ponto percentual na Selic no ano que vem. "O BC não poderá derrubar mais o juro por conta de pressões de preço da gasolina, alimentos e salários."

Octavio de Barros, diretor de pesquisas macroeconômicas do Bradesco, prevê um crescimento menor, mas vislumbra o mesmo padrão de crescimento para 2008. "A sensação térmica vai ser muito parecida, com alta do consumo das famílias e do investimento", afirma Barros, para quem a menor taxa de crescimento deve-se especialmente à menor alta do consumo das famílias devido a uma base de comparação forte em 2007.

Apesar da previsão de menor crescimento, Barros é otimista ao ressaltar a maior rapidez no prazo de maturação dos investimentos ao longo de 2007, acompanhado de forte aumento da produtividade. "Isto é um alento para a inflação", disse. Barros, entretanto, aposta na cautela do BC em reduzir os juros, muito em função da inflação dos alimentos. "Se houver queda, teremos uma ou duas. Não há incentivo agora para ter demanda mais aquecida", afirmou. A economista do Unibanco Giovanna Rocca, também é otimista. "As condições para o crescimento do PIB se manterão favoráveis, com a alta da massa salarial, da oferta de crédito e dos investimentos."