Título: Garibaldi assume presidência com acenos à oposição
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2007, Política, p. A10

Com elogios ao ex-senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), e a promessa de cumprir uma pauta de compromissos definida pelo PSDB, o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) começou ontem a gestão como presidente do Senado, eleito em rápida votação por 68 votos favoráveis, oito contrários e duas abstenções. Garibaldi, eleito por pressão do PMDB, a contragosto do Planalto, disse, após a confirmação de seu nome para a presidência, que o Senado é "credor do respeito nacional" e vive um "momento traumático" com os escândalos que levaram à renúncia do antecessor, Renan Calheiros.

O novo presidente do Senado ficará no posto até fevereiro de 2009, e já estreou na presidência com a votação da prorrogação da CPMF. Ao discursar, momentos após eleito, Garibaldi fez questão de lembrar a carta de compromissos assinada para receber os votos do PSDB, e destacou, entre eles, a determinação de disciplinar a tramitação de medidas provisórias, o pedido de colaboração ao Tribunal de Contas da União para a elaboração do Orçamento e a exigência de "igualdade de todos para todos na execução orçamentária".

Ele anunciou, depois, incluir, entre suas prioridades, a votação dos vetos presidenciais a projetos aprovados no Congresso, outro ponto da carta do PSDB. "São centenas de vetos acumulados à espera de uma definição", comentou Garibaldi. "Vou reunir o colégio de líderes e discutir cada ponto daquela carta".

"Não tive e não tenho nenhum momento de vacilação ao assinar todos eles (os compromissos com o PSDB), porque são compromissos para elevar o nome do Poder Legislativo em uma hora como essa", explicou. "A presidência não será partícipe do entrechoque partidário, mas será atuante no debate político", prometeu Garibaldi, que declarou-se grato ao senador José Sarney (PMDB-AP), candidato da preferência do Palácio do Planalto, pela atuação durante as articulações para substituição de Renan Calheiros.

Garibaldi tinha a simpatia da oposição e pouco apoio do governo pela atuação como relator da CPI dos Bingos, que, pela quantidade de investigações levantadas contra autoridades do Planalto, chegou a ganhar o apelido de "CPI do Fim do Mundo". No cargo, em 2006, incluiu, no relatório final da CPI pedido ao Ministério Público federal o indiciamento do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e recusou-se a indiciar também o então ministro da casa Civil, José Dirceu, e o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.

Ontem, o próprio Garibaldi, que já tinha negado na véspera ser dono de uma emissora de rádio (o que é proibido a parlamentares), teve de explicar denúncias de caixa 2 na campanha ao Senado, em 2002. A denúncia, publicada pelo jornal "Folha de S. Paulo", apontava uso de recursos públicos na campanha do companheiro de chapa de Garibaldi, em 2002, Fernando Freire, candidato a governador. Freire foi vice-governador na gestão de Garibaldi, no governo do Rio Grande do Norte.

Garibaldi lembrou que teve a prestação de contas da campanha aprovada pela Justiça eleitoral. "Quem não deve não teme; o Ministério Público investigou e constatou que eu não era o ordenador de despesas, apenas fazia parte da chapa na campanha", argumentou.

Ontem, ao discursar logo após eleito, Garibaldi pediu ajuda aos colegas do Senado para não cair em tentação. "Estejam sempre atentos, caros colegas, sempre vigilantes, sempre perto de mim, prontos para me advertir se fraquezas humanas ou políticas me tentarem a desviar-me, mesmo que involuntariamente", pediu.

Garibaldi lembrou ter contrariado o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), e todo o comando do partido ao se lançar candidato à presidência do Senado antes mesmo da renúncia de Renan Calheiros. Raupp estava apenas executando a missão de "conter o processo sucessório", avaliou, condescendente, o novo presidente do Senado.