Título: UE faz Sadia adiar decisão sobre fábrica
Autor: Rocha , Alda do Amaral ;Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2007, Agronegócios, p. B16

A expectativa de que a União Européia (UE) imponha restrições à carne bovina brasileira já atinge a estratégia de companhias do setor. Ontem, a Sadia informou que adiou por 30 dias a decisão sobre onde construirá o seu segundo frigorífico para abate de bovinos, um investimento de R$ 100 milhões. "Estamos esperando a decisão da UE para anunciar o local em definitivo", disse o diretor-presidente da Sadia, Gilberto Tomazoni. Ele garantiu que o projeto não será engavetado e que a construção começará ainda em 2008.

Há três locais, nos Estados de Mato Grosso e Goiás, onde a Sadia avalia construir a planta que terá capacidade de abate de 2 mil cabeças por dia. De acordo com Tomazoni, a medida que prevê o abate apenas de animais provenientes de regiões habilitadas em frigoríficos habilitados para exportar à UE deve restringir a área de compra de gado das empresas. "Estamos esperando o que vai acontecer para saber se haverá outras possíveis restrições", acrescentou.

A União Européia pode decidir ainda esta semana novas restrições à carne brasileira, como resultado de uma missão veterinária enviada ao Brasil em novembro passado para avaliar o controle sanitário da produção de carne bovina nacional. Entre elas, conforme apurou o Valor, está a que define que os frigoríficos terão de ser habilitados por auditores europeus para exportar aos países do bloco. Até cerca de dez anos atrás, esse era o procedimento, mas um acordo entre Brasil e União Européia definiu que o Ministério da Agricultura teria poder para fazer a habilitação.

A dúvida que paira no mercado é se os frigoríficos habilitados depois de 1997, pelo ministério brasileiro, serão descrendenciados a exportar à UE. Isso poderia levar à redução significativa do número de plantas certificadas para vender ao mercado europeu.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Pratini de Moraes, disse preferir esperar pela decisão da UE para falar sobre eventuais repercussões nas vendas externas de carne bovina. Ele reafirmou não acreditar que os técnicos da UE vão tomar decisões influenciados pela pressão de pecuaristas irlandeses e ingleses. "Custa-me crer que cederão a pressões", afirmou Pratini.

O bloco europeu responde por cerca de 35% do faturamento das exportações brasileiras de carne bovina, conforme a Scot Consultoria. Levando em conta uma receita de US$ 4,45 bilhões prevista para este ano pela Abiec, a UE deve importar US$ 1,56 bilhão, calcula a consultoria. Fabiano Tito Rosa, analista da Scot, não faz previsões sobre o impacto de possíveis restrições nas exportações de carne à UE, mas afirma que isso deve ocorrer. "Está cada vez mais difícil atender à UE", diz. Além das restrições européias, há também, segundo ele, uma "revolta" de pecuaristas contra o Sisbov, por conta das dificuldades e custos da implantação. Isso pode significar menor oferta de gado rastreado para abate e exportação ao bloco europeu.

O presidente da Câmara de Negociações Agrícolas Internacionais do Ministério da Agricultura, Gilman Viana, sugeriu ontem ao ministro Reinhold Stephanes a adoção de algumas medidas em caso de eventuais restrições da União Européia à carne brasileira.

A primeira alternativa seria dar poder aos Estados para fiscalizar e punir as certificadoras do sistema de rastreamento de bovinos (Sisbov) em situação irregular. Hoje, a auditoria é realizada exclusivamente por fiscais do ministério, cujo efetivo é reduzido.

Presidente do conselho dos secretários estaduais de Agricultura, Viana também recomendou o aumento na freqüência de avaliação da qualidade das vacinas aplicadas contra a aftosa no país. Segundo ele, as indústrias do segmento utilizam uma proteína estruturante que retarda os efeitos da vacina no gado, o que dificultaria a fiscalização sobre a eficácia nos rebanhos.

Ontem, as ações dos frigoríficos de carne bovina caíram na Bovespa. As ON do Minerva recuaram 3,92%, enquanto Marfrig teve queda de 1,25% e JBS-Friboi, de 1,26%, segundo o Valor Data. (Colaborou Bianca Ribeiro, do Valor Online)