Título: Evolução da previdência
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2007, EU & Investimentos, p. D1

O vistoso crescimento da previdência privada aberta no Brasil em 2007 - que a levou a superar volume de R$ 110 bilhões em reservas técnicas - foi acompanhado também por um amadurecimento que demorou muitos anos a ocorrer no setor de fundos de investimento. Em apenas um ano, a parcela de recursos da previdência privada que pode aplicar em risco subiu de quase nada para 10% do mercado, segundo o site Fortuna. Além disso, multiplicaram-se os modelos de produtos: há agora aqueles ativos em renda fixa, outros que aplicam apenas em ações de empresas com boa governança corporativa ou mais éticas, ou ainda planos que reduzem a parcela em ações conforme o tempo passa, entre muitas outras novidades. Também neste ano, vieram do próprio mercado de fundos alguns dos mais tarimbados administradores de recursos do país, como Hedging-Griffo e UBS Pactual, entre outros.

A principal marca do ano para a previdência foi a maior procura dos participantes por planos com alguma dose de renda variável, como reflexo das menores taxas de juros do mercado. "Com um tamanho maior dos fundos, passou a ser possível oferecer planos novos, diferenciados, porque os custos são elevados e tem de haver massa para bancá-los", diz Edson Franco, da Real Tokio Marine. A seguradora levou para a previdência privada o conceito do fundo de ações Ethical do ABN Amro Real, que investe apenas nas empresas consideradas mais sustentáveis. Outros exemplos são o plano Governance, da Mapfre Seguros - cuja parcela em ações aplica apenas em empresas com governança corporativa destacada, segundo os critérios a Bovespa -, e o plano da Brasilprev que investe em ações que oferecem melhores dividendos anuais.

Além de novidades nos planos em termos de gestão, também houve em 2007 uma proliferação de novas estratégias comerciais dos gestores. Brasilprev e Icatu Hartford - esta em parceria com o Citibank - passaram a oferecer planos com o conceito "ciclo de vida", cuja parcela em ações vai reduzindo conforme o participante envelhece e, portanto, precisa ser mais conservador. A SulAmérica lançou ontem mesmo novos produtos, que alinham as taxas de administração conforme o valor aportado mensalmente pelo participante. A seguradora já havia passado a cobrar taxa de carregamento nos resgates - podendo cair a zero -, conforme o prazo da aplicação, assim como outras concorrentes. "Renovamos nossos produtos para buscar nichos de mercado e continuar a crescer em ritmo forte", diz Renato Russo, vice-presidente de previdência da SulAmérica.

É evidência também dessa diversificação por nichos de mercado o forte avanço da captação dos planos para menores de idade, de 76% no ano até agosto, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).

Essa sofisticação é decorrência dos melhores números do setor. Segundo dados do site Fortuna, nunca houve captação líquida tão elevada. Foram depositados, até novembro, R$ 10,5 bilhões em Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL), que significa crescimento de 24% em relação à captação líquida do mesmo período de 2006. Somados a esses planos os fundos tradicionais, o volume de reservas técnicas da previdência privada aberta chegou a R$ 110,4 bilhões em agosto de 2007, um crescimento de 25,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo estatísticas da Fenaprevi.

Em 2007, cresce também o volume médio de reservas por participante da previdência. Enquanto no ano passado o saldo médio de um participante do VGBL era abaixo de R$ 16 mil, até setembro, essa média já subiu para além dos R$ 18 mil, segundo a Superintendência Nacional de Seguros Privados (Susep). No PGBL, a média subiu de quase R$ 10 mil em 2006 para além dos R$ 11 mil até setembro. Ainda de acordo com a Susep, o número de participantes do VGBL - categoria que mais cresceu - subiu 17,4% nos 12 meses encerrados em setembro deste ano. O número de brasileiros com VGBL é de quase 3 milhões, similar às pessoas com PGBL. "Previdência privada já virou quase papo de boteco", brinca Bento Aparício Zanzini, vice-presidente de vida e previdência da Mapfre Seguros.

Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna, destaca que foram relevantes para o crescimento da previdência privada nos últimos anos o aumento da renda dos brasileiros, a mudança de perfil dos investidores - que passou a fazer projeções para longo prazo - e, especialmente em 2007, a redução da aversão a risco dos aplicadores, que começaram a procurar mais planos com ações.

A agitação em torno dos bilhões da previdência aberta e a procura por planos com mais risco na gestão trouxeram a esse mercado em 2007 uma safra de novos participantes de peso na administração de recursos. Em parceria com as seguradoras, passaram a participar do mercado de planos de previdência, além de Hedging-Griffo e UBS Pactual, Votorantim Asset Management, GAP, WestLB, Fator, Legg Mason, BNP Paribas e BNY Mellon. "Os participantes querem novas alternativas e diversificar também em planos de previdência", explica Zerzini, da Mapfre, que tem parcerias com alguns gestores.

Para dezembro, a expectativa do mercado para a captação da previdência privada é otimista. Em todos os anos, há uma sazonalidade positiva para o setor neste mês, porque é quando termina o prazo para garantir a dedução de parte do imposto de renda, pelo PGBL, e porque as seguradoras investem mais em campanhas de divulgação no período. Quem quer ainda abater até 12% da renda para cálculo do IR com aplicações em previdência deverá fazê-las até o dia 28.

Apesar do forte crescimento do mercado de previdência neste ano e nos anteriores, participantes do mercado acreditam que ainda não será em 2008 que o ritmo de avanço deverá cair. "Apesar de a previdência já ter atingido um número grande de participantes, o ponto de inflexão para esse ritmo ainda não está tão próximo", diz Franco, da Real Tokio Marine. Para o próximo ano, o mercado deposita suas esperanças na aprovação dos planos VGBL especiais para saúde e educação, que deverão vir com condições tributárias favoráveis. O tema está em discussão na Susep e será submetido à Receita Federal.