Título: Mão-de-obra impacta custos na construção
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2007, Brasil, p. A4

O aquecimento da construção civil provocou uma valorização mais forte da mão-de-obra - com diminuição das desigualdades regionais -, mas trouxe impactos na inflação do setor em 2007. O custo total da construção no país aumentou 5,28% de janeiro a novembro deste ano, segundo o Índice Nacional da Construção Civil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa alta de preços no setor superou a de índices gerais de inflação, como o IPCA, com 3,69% no período. A parcela referente à mão-de-obra foi mais representativa na alta da construção, com aumento de 6,22%, enquanto materiais subiram 4,59%.

O Nordeste - que possui o menor custo de metro quadrado construído, R$ 566,19 - registrou no mesmo período uma alta de 9,31% no custo médio da mão-de-obra, a maior no país. O Norte também teve um crescimento dos custos de pessoal mais acentuado, de 7,20%. Os resultados no Centro-Oeste e Sul ficaram próximos ao nacional, 5,28% e 6,24% respectivamente. No Sudeste, porém, região que possui o metro quadrado mais caro, R$ 634,85, o custo da mão-de-obra cresceu 4,67%, abaixo da média do país. A assinatura do acordo coletivo em Minas Gerais em dezembro, porém, pode elevar um pouco o resultado dessa região.

Luiz Fernando Fonseca, gerente do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), do IBGE, explica que, na maioria dos Estados, os reajustes salariais do setor (principal item do custo da mão-de-obra), em 2007, ficaram acima da inflação e variaram entre 8% e 10%. "Os sindicatos ficam com maior poder de barganha para negociar, já que está havendo grande necessidade de contratação", diz. Na Bahia, a valorização da mão-de-obra este ano foi de 12,09%, a maior no Nordeste; no Sergipe, ela foi de 11,35%. No Norte, o Acre teve 12,81% de incremento no custo de pessoal. Em São Paulo, por sua vez, o aumento foi mais modesto, de 5,47%.

Com a maior atividade na construção, é possível que a recuperação salarial mais forte no Nordeste e Norte represente uma tentativa de segurar uma mão-de-obra que estava dispersa e que agora também é demandada pelas demais regiões do país. Encontrar profissionais qualificados é um desafio para o setor. Mesmo assim, Fonseca diz que não há indicações de que estejam ocorrendo promoções salariais além do aumento determinado pelos acordos coletivos. "O aquecimento do setor ainda não foi o suficiente para registrarmos aumento de salário fora das datas-base", diz.

A alta da mão-de-obra este ano fez com que o componente de maior impacto nos preços do setor fosse o custo do ajudante de obras, com crescimento de 5,41% sobre o ano passado. Em segundo lugar, vem o cimento, que encareceu 18,10% na média nacional, com impacto mais forte no Centro-Oeste, onde a elevação de preços do produto chegou a 25%. Essa alta fez com que a região fosse a única a ter um aumento do custo de materiais maior que o de mão-de-obra. O comportamento do custo do cimento, no entanto, está mais ligado à demanda aquecida do que à oferta disponível, o que, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat), não deve ocorrer com outros materiais.

"Até 2006 tínhamos uma capacidade ociosa de 30%, o que tem evitado uma inflação por demanda", diz Melvyn Fox, presidente da entidade. O dirigente afirma que a indústria ainda tem um espaço ocioso de 15% a 20% para segurar uma procura maior por materiais no ano que vem. "O aumento de preços dos produtos de construção não deve ser muito diferente da alta de custos do setor como um todo", diz Fox.

A expectativa da Abramat é que o faturamento do setor de materiais cresça 12% em 2008, repetindo o resultado deste ano. Fox explica, porém, que essa projeção se baseia num aumento de volume de vendas, e não de preços. "Este ano registramos 10% de alta do volume das vendas."

A inflação dos materiais de construção foi maior este ano (4,59%) do que em 2006 (3,74%). O destaque, além do cimento, são os materiais de madeira, com três produtos entre os que tiveram maiores altas de preço - madeira para telhados, 10,70%; rodapé de madeira, 6,99%; e tábua de terceira, 6,31%. Essa evolução pode também estar relacionada à disponibilidade do material. Outros produtos que mais encareceram foram a cal hidratada, 11,38%; o tijolo, 9,83%; e a areia lavada, 9,32%. Entre os que têm maior impacto no custo da construção também figuram a esquadria de alumínio, com 4,20%, e o aço, 3,76%.