Título: Cuba vai à Fiesp em busca de mais investimentos
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2007, Brasil, p. A5

O pequeno auditório do 10º andar da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ficou lotado na manhã de ontem, com cadeiras extras e pessoas de pé. "Poderíamos até ter ido para um lugar maior", disse Thomaz Zanotto, diretor-adjunto de Comércio Exterior da entidade. Cerca de 50 empresários do agronegócio, mineração, eletrônica, máquinas, cosméticos e outros setores, reuniram-se ali para conversar com o ministro do Comércio Exterior de Cuba, Raúl de La Nuez. Foi a primeira visita de um ministro de Estado cubano à entidade.

Certamente não foi a atual corrente de comércio que atraiu os empresários. De janeiro a outubro, o Brasil exportou US$ 254 milhões para os cubanos e importou ainda menos: US$ 59 milhões. O chamariz eram as oportunidades que podem aparecer à medida em que a ilha caribenha - até pouco tempo governada por Fidel Castro e hoje nas mãos de seu irmão, Raul - abra a economia. Com 11 milhões de habitantes, Cuba quase não produz bens industriais e está carente de infra-estrutura.

Bem articulado, simpático e nada parecido a um coronel socialista, Nuez enumerou os dados sobre o crescimento de Cuba, estatísticas que são questionadas por economistas independentes. Segundo ele, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 12,5% em 2006, para US$ 44 bilhões. Em 2007, a economia deve se expandir entre 7% e 10%. A taxa de desemprego, conforme o governo, é de 1,9%.

As exportações de bens e serviços chegaram a US$ 12 bilhões - 70% corresponde à venda de serviços turísticos e profissionais, como de saúde. A indústria de turismo, que é o atual motor da economia depois da crise da década de 90 com o fim do apoio da Rússia, está em expansão. O número de turistas aumentou de 1,17 milhão em 1997 para 2,2 milhão em 2006, vindos principalmente do Canadá e da Europa.

Nuez enfatizou que Cuba negocia pouco com o Brasil, que é o segundo parceiro na América Latina, perdendo para a Venezuela, que exporta petróleo e importa serviços médicos dos cubanos. Conforme o ministro, Cuba importou US$ 1,4 bilhão em alimentos em 2006, 13% fornecido pelo Brasil. No ano passado, a ilha comprou US$ 1,65 bilhão em máquinas, mas a fatia dos brasileiros não ultrapassou 5%.

A segurança jurídica dos investimentos na ilha comunista e a melhor maneira de entrar em um mercado tão fechado eram as principais preocupações dos empresários O diretor-corporativo de relações institucionais do grupo Votorantim, Samuel de Almeida Lima, foi o primeiro a fazer perguntas. "Sabemos das reservas de níquel existentes em Cuba. Esse setor está aberto para estrangeiros, obviamente em parceira com o governo cubano?", questionou.

Nuez foi direto. "A resposta é sim. Cuba está aberta aos investimentos estrangeiros em todos os setores, com exceção de saúde, educação e defesa", disse. Ele afirmou ainda que o governo cubano já tem uma parceria com uma empresa canadense, que existem conversas com outras multinacionais e que esse setor precisa de investimentos vultosos.

O presidente de uma agência de turismo questionou o ministro cubano sobre a falta de vôos para Havana, já que apenas a Copa Airlines opera esse destino. Nuez revelou então que, antes de chegar à Fiesp, esteve reunido com um vice-presidente da Gol, discutindo a possibilidade de vôos para Havana. Segundo ele, a companhia sugeriu rotas com conexão no México e, depois que o tráfego aumentar, um vôo direto. Procurada pelo Valor, a Gol informou que recebeu o ministro cubano e que, no momento, não há estudos de vôos para Havana, mas que não descarta a possibilidade.

Não demorou para aparecer na conversa o principal entrave no comércio com Cuba: inadimplência e dificuldades de financiamento. Um fabricante de compressores do interior de São Paulo afirmou que vende para Cuba há alguns anos, mas que é complicado, porque os importadores solicitam financiamentos com base em cartas de créditos não confirmadas e prazo mais prolongado que o normal. "Existe alguma negociação entre os governos cubano e brasileiro para resolver isso?", perguntou.

Nuez respondeu que as empresas cubanas enfrentam dificuldades para obter acesso ao mercado de capitais por conta do embargo econômico dos Estados Unidos. Ele explicou que o governo brasileiro já ofereceu uma linha de crédito para vendas de alimentos para Cuba e um dos objetivos de sua viagem era negociar a extensão desse mecanismo para os setores industriais. Exportadores brasileiros ouvidos pelo Valor afirmam que a inadimplência alta e a burocracia são os maiores problemas para exportar para Cuba.

Ao comentar a necessidade de renovação da tropa de veículos do país, sejam ônibus, caminhões ou carros, Nuez afirmou que gostaria que as indústrias brasileiras participassem do processo, mas reconheceu ser necessário antes equacionar a questão do financiamento. A frota de Cuba ainda é formada por veículos dos anos 40 ou 50, um atrativo turístico, mas um problema para a população e para a economia.

Um fabricante de cosméticos afirmou que sua empresa estava começando a exportar e gostaria de saber qual o caminho para vender a Cuba. "Que boa notícia você me dá", disse Nuez. Segundo ele, faltam cosméticos no país, que está em busca de fornecedores. Um importador cubano que acompanhava o ministro trocou cartões com o brasileiro.

Evidenciando que até Cuba pode se render às vantagens do comércio, Nuez terminou sua palestra com uma frase bem capitalista. "Tratei de ser o mais sintético possível, porque sei que para empresários tempo é dinheiro".