Título: Garibaldi será eleito presidente do Senado
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2007, Política, p. A7

Depois de um trabalho de reaproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o grupo do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) será eleito hoje, por consenso, presidente do Senado até fevereiro de 2009. A eleição no plenário está marcada para as 12h.

Garibaldi assumirá com apoio da oposição, adotando discurso conciliador com o governo, mas sem alinhamento automático. "Vou procurar me relacionar (com o governo) o melhor possível, desde que eles procurem se relacionar dentro de certa convergência civilizada", disse.

Entre os planos de Garibaldi para esse ano de mandato, estão: buscar uma solução para o acúmulo de medidas provisórias, que constantemente trancam a pauta de votações, trabalhar para que os vetos presidenciais sejam apreciados pelo Congresso e tornar mais eficiente o funcionamento das comissões técnicas da Casa.

Chega a falar em uma pequena "reforma" no Regimento Interno. A oposição prometeu apoio, mas apresentou uma lista de reivindicações, como direito de ocupar relatorias de medidas provisórias e outras propostas legislativas, pelo critério do rodízio. "Cobraremos independência em relação ao Executivo. Antagonismo não, mas independência, dando à oposição o direito de participar das relatorias, na proporção da nossa força", afirmou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

A principal tarefa do futuro presidente será virar a página do Senado depois da crise de mais de seis meses que abalou a Casa, por causa das denúncias contra Renan. Garibaldi vai cumprir metade do mandato para o qual Renan foi reeleito em fevereiro deste ano. O alagoano renunciou ao cargo em 4 de dezembro, para facilitar sua absolvição no segundo julgamento a que foi submetido no plenário, por suposta quebra de decoro parlamentar.

No início de sua candidatura, Garibaldi enfrentou resistência do grupo de Renan, porque votou contra o alagoano no primeiro julgamento. No segundo, já em campanha, votou a favor. Para ser eleito ontem pela bancada do PMDB (por 13 votos a 6), vencendo Pedro Simon (RS), Garibaldi pediu apoio do senador José Sarney (PMDB-AP) e do próprio Renan. Em busca de vencer as resistências do governo e do PT, pediu - e teve - audiência com Lula, depois de um ano sem se falarem.

A conversa ocorreu há cerca de dois meses. A aproximação foi estimulada por interlocutores comuns, como o senador petista Delcídio Amaral (MT), o publicitário João Santana - que já fez campanhas eleitorais para Garibaldi e hoje é seu amigo - e o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), primo do senador potiguar.

A conversa com Lula durou uma hora. Garibaldi procurou Lula para superar divergências criadas por sua atuação como relator da CPI dos Bingos. Saiu animado, considerando os problemas superados. "Se for por trabalho, mereço essa eleição", disse.

O governo acabou apoiando sua candidatura, inclusive por falta de alternativa politicamente viável. Além de Simon, lançaram seus nomes os pemedebistas Leomar Quintanilha (TO) - presidente do Conselho de Ética, aliado a Renan e Sarney -, e Valter Pereira (MS) e Neuto De Conto (SC) - ambos ex-suplentes e senadores de primeiro mandato.

Por ter a maior bancada, o PMDB tem direito a indicar o candidato, que, no entanto, precisa ser eleito pelo plenário com no mínimo 41 votos. Garibaldi foi o primeiro a se lançar candidato, há cerca de dois meses, antes de Renan renunciar ao cargo. Ele estava de licença, defendendo-se em processos por suposta quebra de decoro parlamentar.

Na reunião do PMDB, Simon teve os votos de Jarbas Vasconcelos (PE), Mão Santa (PI), Geraldo Mesquita (AC), Gerson Camata (ES) e Neuto De Conto (SC), além do próprio. Derrotado, o senador gaúcho disse que não disputaria em plenário. Na reunião, Simon provocou Sarney. Disse que o ex-presidente - nome preferido do Planalto - não seria candidato agora porque pretende disputar a eleição seguinte para o cargo. Sarney negou ter a pretensão.